A Igreja sempre se pergunta se tais fatos poderiam ter sido ocasionados por causas naturais: o lugar de residência ou o túmulo do defunto continham odores notáveis? Os compostos aromáticos (como os da tradição judaica) e um discreto embalsamento não explicariam os fenômenos? Uma aspersão ) à distância de perfumes permitiria estes prodígios?O odor de santidade é um cheiro agradável que pode emanar de pessoas (vivas ou mortas), relíquias ou objetos religiosos e cuja origem é desconhecida: um fato que, para os cristãos, é considerado milagroso.
A Igreja o vê muitas vezes como um sinal de santidade. Muito além da morte, está o “bom odor de Cristo”.
Milagre
O odor de santidade é um cheiro agradável que emana de alguns cadáveres e de cuja origem nada se sabe; é um fato que, para os cristãos, sempre foi considerado como uma espécie de milagre.
Trata-se de um cheiro (ou fragrância, do latim fragrantia e do verbo fragrere, sentir) de uma suavidade excepcional, um perfume perceptível pelo olfato, mas de origem desconhecida pela ciência.
Em geral, o perfume é percebido na proximidade de um humano (vivo ou, mais frequentemente, falecido), de relíquias ou inclusive ao aproximar-se de um objeto litúrgico ou pintura religiosa (ícone). Também foram observados casos de alguns estigmas cheirosos, como em Santa Maria Francisca das Cinco Chagas e no Padre Pio.
Perfume
O espectro de fragrâncias é amplo; as essências registradas nos anais da mística são contadas às centenas. O aroma de rosas está em posição destacada, evocando a presença de Nossa Senhora. A duração dos fenômenos varia de alguns minutos a anos e, em alguns casos, a vários séculos.
É propriamente um milagre porque, por um lado, não se chegou ainda a nenhuma explicação natural e, por outro, a Igreja discerne no odor de santidade o sinal e a antecipação daquilo em que a carne está chamada a tornar-se no Reino de Deus: ressuscitada e eterna, muito além de toda corrupção.
Vínculo
Este vínculo entre perfume e santidade tem uma base bíblica: o Cântico dos Cânticos já evoca a figura da bem amada (ou a “esposa”, ou seja, a Igreja que está por vir) com a forma de um jardim repleto de suaves perfumes (Cânt 4, 14).
A Idade Média evoca perfumes e odor de santidade. O paraíso é descrito em termos de suavidades perfumadas. Honório de Autun (Honorius Augustodunensis, 1120) descreve tais cheiros extraordinários (Elucidarium, PL 172, col. 172). Pedro Damião (+ 1072), conselheiro de papas, um dos autores da reforma gregoriana, atribui aos perfumes extraordinários a função de anunciar alegrias celestiais (PL 145, col. 861).
Sinal
A Igreja concebe este fenômeno como um sinal de santidade, reflexo do caráter heroico das virtudes de um fiel. Mas continua prudente e sempre procura conhecer sua procedência.
A partir do final do século II e começo do século III, os cristãos, obrigados a viver na clandestinidade e a honrar seus mártires em segredo, começaram a relacionar perfumes maravilhosos à santidade. O relato do funeral do mártir Policarpo de Esmirna (+ 155) já estabelecia esta associação.
A Igreja reconhece, pouco a pouco, a mão de Deus em tais fragrâncias inexplicáveis, concebendo-as como um sinal positivo do caráter heroico das virtudes de um fiel.
Um crente cujo corpo exala um perfume anormal (antes ou depois da morte) é chamado de “santo miroblita” (do grego antigo myron, “óleo perfumado).
500 casos registrados
Ao longo dos séculos, foram identificados cerca de 500 casos, entre eles os de santos e santas muitos conhecidos: Rosa de Lima, Teresa de Ávila, Padre Pio etc.
Certamente, é um sinal indicador e não uma prova científica. A santidade, conceito teológico e espiritual, não pode ser demonstrada.
As autoridades eclesiásticas prestam mais atenção quando há convergência (e coerência) de fenômenos: odor de santidade, incorruptibilidade do corpo, elasticidade dos tecidos muito tempo após a morte, exsudação de líquidos balsâmicos de origem desconhecida (por exemplo, São Charbel Makhlouf), aparições autênticas de Nossa Senhora (por exemplo, o santuário de Nossa Senhora de Laus, reconhecido, em 4 de maio de 2008, por Dom Di Falco e lugar eminente de perfumes inexplicáveis desde o século XVII).
Prudência
A Igreja sempre se mantém prudente neste campo.
Mas surge a pergunta: a presença de compostos aromáticos e de um eventual embalsamento não explicaria os perfumes extraordinários? Nos casos contemporâneos, já não se cogita mais o uso de compostos aromáticos e outros produtos de embalsamento tradicional.
Por outro lado, os recursos da medicina e da tanatologia (estudos científicos sobre a morte, suas causas e seus efeitos) se colocam ao serviço dos pesquisadores eclesiásticos no âmbito dos processos de beatificação e de canonização.
Cristo
Muito além da morte, está o “bom odor de Cristo”.
O Novo Testamento e os cristãos reconhecem o poder que Deus tem de ressuscitar os mortos. A Ressurreição de Jesus é, por si mesma, o fundamento da fé. Não se trata somente de um renascimento ou da reanimação de um cadáver, mas de uma transformação, de uma elevação na ordem do ser.
Várias vezes, Cristo ressuscitou pessoas ao seu redor, pessoas efetivamente mortas, como Lázaro de Betânia, sepultado quatro dias antes (cf. Jo 11, 17). Marta, a irmã do defunto, diz a Jesus, quando este pede que se retire a pedra que fechava o sepulcro: “Senhor, já cheira mal” (Jo 11, 39). No entanto, Jesus ressuscita seu amigo Lázaro, contra todas as leis naturais.
Este não é o único exemplo de ressurreição realizada por Cristo (cf. Lc 7, 11-17) e, depois, pelos seus apóstolos (cf. Atos 10, 36-43) e pelos santos. A expressão “odor de santidade” tem origem, então, na realidade de um milagre e na qualidade espiritual excepcional de um fiel (sua santidade).
Igreja
A Igreja sempre se pergunta se tais fatos poderiam ter sido ocasionados por causas naturais: o lugar de residência ou o túmulo do defunto continham odores notáveis? Os compostos aromáticos (como os da tradição judaica) e um discreto embalsamento não explicariam os fenômenos? Uma aspersão ) à distância de perfumes permitiria estes prodígios?
A Igreja quer continuar refletindo sobre o tema, porque se trata de confirmar se o “bom odor de Cristo” (cf. 2 Cor 2, 15) se manifesta aqui embaixo – esse corpo de Jesus que é o “mais agradavelmente perfumado entre tudo o que em todo o universo exala perfumes” (Rimbertino, Liber de deliciis sensibilibus paradisi (Venecia, 1498).
“Odor de santidade”, portanto, é uma expressão eloquente e concreta: perfumes inexplicáveis, de uma fonte desconhecida, referem-se ao “bom odor” de corpos santos e relíquias autênticas.