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Uma católica escreve “em defesa dos ateus”

ateismo adamo senza Dio – pt

© Public Domain

Rachel Lu - publicado em 16/07/20

"Pelo menos eles são honestos ao rejeitar a religião, ao contrário da maioria dos crentes espiritualmente mornos"

O mundo precisa respeitar mais o ateísmo. Pode parecer estranho que uma católica diga isto, mas, por favor, leve em consideração o que eu vou dizer.

Eu conheço um monte de ateus. No mundo acadêmico, uma fartura. Muitos deles estão convencidos de que o mundo os odeia. O cristianismo pode não estar no auge da sua popularidade hoje em dia, mas o ateísmo também não está.

Se você quer um bom emprego, declarar-se abertamente ateu pode não ser uma boa ideia. Você pode, no máximo, se dizer “não religioso”. Mesmo os liberais, apesar do seu desconforto com a religião levada a sério, parecem considerar moralmente positivo frequentar uma igreja, tanto que um recente estudo norte-americano mostrou que os autoproclamados liberais, nos Estados Unidos, são especialmente propensos a exagerar o próprio nível de observância religiosa quando estão em ambientes sociais.

Os jornalistas liberais, às vezes, tentam usar casos como este para mostrar que a nossa sociedade é predominantemente pró-religião (e, de passagem, para dar a entender que boa parte das queixas de violações da liberdade religiosa são pura paranoia e busca de atenção). Na verdade, porém, não há muitas razões para que a sociedade se sinta “ameaçada” nem por ateus declarados nem por crentes religiosos, já que o que realmente está espalhado hoje pela sociedade é o triunfo da mornidão.

A religião, para muitos ocidentais, serve hoje como um mero “verniz”. Ela não exerce nenhuma influência séria na sua vida, nem lhes indica como viver adequadamente; ela apenas ressalta um pouco de espírito cívico e de boa vontade genérica para com os homens. Se você quer ser uma figura pública popular, é útil ser nominalmente filiado a alguma igreja, mas sem a levar muito a sério. Como alternativa, você pode também professar uma fé formalmente séria, mas ignorar os seus ensinamentos toda vez que eles entrarem em conflito com os pontos de vista políticos e sociais que estiverem de moda no momento.

É neste panorama morno que os ateus proclamam abertamente que Deus não existe.

Em primeiro lugar, esse gesto é tido como de mau gosto, porque dá o jogo por encerrado. É verdade que muitas pessoas já abandonaram Deus na prática, mas oficializar isto é desconfortável: dá aquela impressão indesejável de que elas se afastaram demais das crenças e tradições que davam sentido à vida dos seus antepassados. É muito mais agradável pensar em nós mesmos como gente que preserva essas tradições, só que de forma “mais sutil”. Ser ateu declarado dificulta essa pretensão.

Os ateus também reforçam a possibilidade de que a metafísica tenha importância. A sua frequente alegação de ser mais reflexivos do que o resto das pessoas é apenas um autoconceito, mas se o grupo de controle for composto pelo que Christian Smith chamou de “deístas terapêuticos morais” (gente que professa a fé religiosa, mas vê Deus como um ursinho de pelúcia que só quer que sejamos gentis com os outros), a questão se torna relevante. É mais íntegro admitir que Deus não tem nenhum papel na sua vida do que fingir que tem só para manter as aparências. Mesmo do ponto de vista da fé, podemos sentir uma espécie de admiração pela pessoa que admite que não serve ao Deus único e verdadeiro, assim como admiramos o alcoólatra que finalmente se reconhece como alcoólatra.

Existe uma diferença, é claro: os alcoólatras confessos geralmente querem mudar, enquanto os ateus costumam se orgulhar da sua impiedade. De minha parte, seria mais fácil amar os ateus se eles não se envolvessem com coisas juvenis como querer suprimir das cédulas de dólar a frase “In God We Trust” (Confiamos em Deus).

Ateus, meus caros, superem isso: este lema não está fazendo a menor diferença para inspirar confiança em Deus. O fato é que, com este e outros exemplos, os ateus muitas vezes se mostram filosoficamente tão frágeis quanto cheios de superioridade, ao melhor estilo Richard Dawkins.

Acontece que justamente esta é mais uma razão para darmos mais voz aos ateus.

Se, como eu penso, o materialismo laico é o grande desafio espiritual do nosso tempo, nem nós, crentes, nem os ateus querem que esse inimigo fique apenas nos espreitando pelas sombras. É melhor, para todos, que a batalha seja travada em praça pública e à luz do dia. Os ateus declarados nos oferecem uma grande oportunidade de nos engajarmos nessa luta espiritual. Alguns deles, assumindo uma oposição filosoficamente respeitável, parecem de fato convencidos do ateísmo. E mesmo que no fundo não estejam, o fato é que os espectadores dessa confrontação de ideias podem se inspirar a deixar para trás a mornidão e começar a procurar respostas espirituais mais substanciosas.

Deus nos diz, em Apocalipse 3,16, que vomitará os mornos da sua boca. Nós vivemos numa era de mornidão e mediocridade: pode estar na hora de os “quentes” e “frios” respeitarem mais uns aos outros, compartilhando o interesse por combater juntos esse inimigo comum.


GRASS IN THE BREEZE

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