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Físico austríaco defende que pandemia é resposta do planeta ao colapso ambiental

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Dmytro Zinkevych - Shutterstock

Octavio Messias - publicado em 11/08/20

Atração confirmada do Fronteiras do Pensamento 2020, Fritjof Capra acredita que o momento pede que revejamos nossos hábitos

Na mitologia grega, Gaia é a Terra-mãe e compreende uma visão de que o planeta é um grande organismo que tem a capacidade de se reorganizar perpetuamente. Em 1972, o ambientalista britânico James E. Lovelock apresentou a Hipótese de Resposta da Terra, uma teoria científica que demonstra como o planeta é um complexo sistema que rege sistemas menores e desenvolve seus próprios mecanismos de autorregulação do clima, da da biosfera e da natureza de modo geral, na manutenção da homeostase, que são as condições mínimas para que todos os seus sub organismos se desenvolvam. No mesmo ano, o escritor Sir William Golding, seu amigo, sugeriu que ele trocasse o nome para Hipótese de Gaia.

Em meio a queimadas ilegais na Amazônia e no mundo noticiadas diariamente e à ameaça de extinção mais de 100 espécies de plantas e animais como consequência do aquecimento global, não é novidade que o modo de produção industrial, especialmente de comida animal, estão acelerando vertiginosamente o caos ambiental, que muitos estudiosos apontam que levaria a vida humana à extinção em algumas décadas caso nada seja feito e não mudemos nosso estilo de vida. 

E justamente agora surge espontaneamente um vírus, justamente em meio à produção de carne animal, que não só atinge apenas humanos – os responsáveis pelo mal-estar ambiental –, como os tira de circulação, seja pela quarentena ou pela internação, o que já vem limpando rios e mares e diminuindo drasticamente os índices de poluição nas grandes cidades. “Isso me encheu de esperança quanto à capacidade da Terra de se regenerar”, disse o físico austríaco Fritjof Capra, em entrevista à Folha de S.Paulo publicada nesta segunda-feira. Ele é uma das principais atrações da edição 2020 do Fronteiras do Pensamento, ciclo de palestras que neste ano acontece em ambiente virtual, com fala marcada para 18 de novembro (https://www.fronteiras.com/digital/?/digital). 

Professor na Universidade da Califórnia, Capra é um dos principais nomes do pensamento sistêmico, uma corrente que surgiu no século passado e que busca entender as complexas relações entre os sistemas. Sua vasta obra inclui best sellers como O Tao da Física (1975) e Ponto de Mutação (1982), que nove anos depois foi adaptado para o cinema com a estrela norueguesa Liv Ullman no elenco. O longa está disponível na íntegra (legendado) no

Em O Ponto de Mutação, Capra define a vida como a capacidade de autoorganização. Por esse pressuposto, entende todos os organismos como sistemas individuais que se integram aos demais organismos da biosfera e os complementam. Há quase quarenta anos, ele denunciava como os Estados Unidos, que compõem 5% da população mundial, já eram responsáveis pelo consumo de 40% dos recursos naturais – curiosamente, foi a nação mais afetada pelo vírus. Desde o início de sua trajetória, o estudioso demonstrou preocupação com a maneira insustentável como nos relacionamos com o planeta, como se fosse uma fonte inesgotável de recursos. 

A pandemia do novo Coronavírus parece corroborar a Hipótese de Gaia. Mesmo sem fazer qualquer menção à teoria de Lovelock, Fritjof Capra disse à Folha: “Cientistas e ativistas ambientais há décadas vêm alertando para as terríveis consequências de sistemas sociais, econômicos e políticos insustentáveis. Mas até agora as lideranças corporativas e políticas teimaram em resistir a esses alarmes. Agora eles foram forçados a prestar atenção, já que a Covid-19 trouxe os avisos de antes para a realidade de hoje”.

“Com a pandemia, Gaia nos trouxe lições valiosas capazes de salvar vidas. A questão é: teremos a sabedoria e a vontade política necessárias para ouvir essas lições? Mudaremos do modelo de crescimento econômico indiferenciado baseado no extrativismo para outro de crescimento qualitativo e regenerativo? Vamos substituir combustíveis fósseis por formas renováveis de energia que dêem conta de todas as nossas necessidades? Vamos substituir nosso sistema centralizado de agricultura industrial com uso intensivo de energia por um sistema orgânico de agricultura regenerativa, familiar e comunitária? Vamos plantar bilhões de árvores capazes de retirar o CO2 da atmosfera e de restaurar diferentes ecossistemas do mundo?”, pergunta-se Capra.

Ao que tudo indica, o novo Coronavírus ainda é um aviso do planeta. Torçamos para que uma parcela substancial da humanidade entenda essa mensagem, pois só assim teremos condições de deixar um planeta habitável para nossos filhos. 




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