Ao longo dos últimos meses, segundo um especialista, tem-se assistido a uma mudança na estratégia deste grupo terroristaVladimir Voronkov, chefe da comissão antiterrorismo das Nações Unidas, alertou na semana passada para o ressurgimento da ameaça dos grupos jihadistas no Iraque, nomeadamente o Daesh, o auto-proclamado Estado Islâmico.
Ao longo dos últimos meses, segundo este especialista, tem-se assistido a uma mudança na estratégia deste grupo terrorista, com um crescimento de actividade no Iraque e também na Síria, correspondendo a uma diminuição aparente de movimentos na Europa. Segundo Voronkov, o Daesh, está a agir com mais confiança, consolidando as suas posições em áreas que já controlava.
Organizado essencialmente através de pequenas células, os jihadistas do Estado Islâmico têm vindo a aumentar o número de ataques face ao ano passado, estimando-se que haverá mais de 10 mil terroristas no Iraque e na Síria.
O reconhecimento, pelas Nações Unidas, de que a ameaça jihadista continua activa nesta região do globo é um sinal de inquietação para a comunidade cristã que ainda tem bem viva na sua memória a invasão pelo Daesh das terras e aldeias cristãs na Planície de Nínive, ao norte e leste de Mossul, no Iraque, há precisamente seis anos.
Essa é, aliás, uma das principais conclusões de um relatório produzido pela Fundação AIS sobre “os novos desafios para o cristianismo” no Iraque “depois do Daesh”, e que inclui os resultados de uma pesquisa junto da população cristã.
O estudo, divulgado em Julho, identifica os principais desafios enfrentados pelos cristãos iraquianos que regressaram às suas terras após a fuga desordenada de milhares de pessoas para o chamado Curdistão, perante a invasão terrorista da Planície de Nínive no Verão de 2014.
Segundo este relatório, a comunidade cristã poderá vir a totalizar cerca de 23 mil pessoas daqui a quatro anos, o que significará apenas 20% da população da Planície de Nínive antes do ataque do Daesh em 2014.
Esta será uma realidade dramática caso não venham a ser implementadas medidas de apoio à permanência dos cristãos nas terras bíblicas. Segundo o estudo da AIS, há o risco de a comunidade passar da situação de “vulnerável” à de “ameaçada de extinção”.
O resultado do inquérito permite concluir também que todos os cristãos referem a questão da falta de segurança como um dos principais problemas, sendo que 87% indicam que sentem isso “muito” ou mesmo “notavelmente” no dia-a-dia.
A questão da segurança é de facto muito significativa. Quase 70% dos cristãos que participaram no estudo referem a existência ainda, na região, de actividade violenta por parte de milícias locais e mostram receio perante a possibilidade do regresso em força do Daesh. O medo é uma das razões principais que justifica a emigração das famílias cristãos iraquianas.
Desemprego (70%), corrupção financeira e administrativa (51%) e discriminação religiosa (39%) são outras questões levantadas no inquérito e que estão na base do descontentamento que tem levado à emigração da comunidade cristã. As disputas entre o governo central de Bagdade e o governo regional do Curdistão, onde vivem muitas famílias cristãs, fizeram aumentar também o sentimento de insegurança.
“O relatório não é pessimista mas é, isso sim, uma clara advertência porque sem uma acção política concertada e imediata, a presença dos cristãos na Planície de Nínive e na região será eliminada”, afirma o Padre Andrzej Halemba, especialista em assuntos do Médio Oriente da Fundação AIS.
(Departamento de Informação da Fundação AIS)