Haveria também vidas extraterrestres inteligentes? Em caso positivo, que diz a Teologia Católica?Órgãos de imprensa noticiaram a possibilidade de vida microbiana fora da Terra. Daí a questão: Poderia haver também vidas extraterrestres inteligentes? Em caso positivo, o que diz a Teologia Católica? – Este artigo oferece breve resposta a esta questão.
Em suma, a matéria “Molécula detectada em Vênus pode indicar vida microbiana extraterrestre”, de Sandra Rabine, na Folha de São Paulo, online, de 14/09/2020, afirma que o encontro de fosfina (gás que na Terra só existe por atividade industrial ou produzido por micróbios de ambientes anaeróbicos, ou seja, sem oxigênio), em Vênus, seria o mais forte indício de que há vida – de micróbios, no caso –, fora da Terra.
Clara Souza-Silva, astroquímica portuguesa do Mit (EUA), parece confiante ao afirmar: “Com o conhecimento atual que temos sobre química e sobre Vênus não existe uma explicação possível para a presença de fosfina nas nuvens do planeta que não seja vida”. Já o astrofísico Marcelo Borges, do Observatório Nacional (ON), se mostra mais cauteloso quando assegura poder “ser um processo não biológico que produz fosfina e que desconhecemos porque não existe na terra”. O assunto é estritamente científico e só o tempo nos oferecerá, talvez, respostas. A nós, por ora, interessa a questão: Haveria também vidas extraterrestres inteligentes? Em caso positivo, que diz a Teologia Católica?
Respondemos – a título de hipótese – que pode existir vida inteligente fora da Terra. O assunto é debatido há séculos. Xenófanes, filósofo grego do século VI a.C., teria dito que a Lua possuía habitantes inteligentes. Outros filósofos, incluindo Platão e Epicuro, anos mais tarde, defenderam teoria semelhante com relação a outros planetas. Já Aristóteles e os estoicos eram contra essa hipótese. Como quer que seja, quem reacendeu o debate foi o Cardeal Nicolau de Cue († 1464) ao afirmar que não existiria uma estrela sequer cuja presença de vida inteligente não fosse possível. Em 1868, Bernard le Bovier de Fontenelle publicou a famosa obra Pluralité des Mondes. Nela, defendia outros muitos mundos habitados por seres inteligentes. Seu livro foi, na época, defendido por bons teólogos jesuítas e dominicanos.
Chegamos, por fim, aos séculos XIX e XX que muito contribuíram com o debate no âmbito teológico. Sim, em 1884, o Padre Joseph Pohle, SJ, defendeu, em sua obra Die Sternenwelt und ihre Bewohner (Colônia, Alemanha), a existência de seres inteligentes em outros planetas. Fundamentava-se o estudioso jesuíta nos seguintes pontos: 1) Deus tudo criou para a sua glória. Pois bem, só os seres inteligentes são capazes de louvá-Lo como Ele deve ser louvado, com o coração (sentimentos) e a mente (inteligência). Ora, apenas os homens e mulheres na Terra somos poucos para render culto a Deus em meio a tanta matéria infra-humana. Portanto, outros planetas também devem ter seres inteligentes; 2) De acordo com São Tomás de Aquino (cf. Suma Teológica I 50, 3c e Contra os gentios 2,92), a ordem e a harmonia do Universo exigem que os seres mais nobres (racionais) ultrapassem os menos nobres (irracionais). Logo, é possível que haja vida inteligente fora da terra; 3) A sabedoria e a onipotência de Deus se manifesta no número e na variedade de seres criados. Ora, a Terra estaria longe de abranger esse número e variedade. Portanto, existem outros planetas habitados; 4) A maldade do ser humano é grande. Ora, Deus ama o bem. Por conseguinte, é preciso que existam outros lugares habitados por seres inteligentes e bons. Eis as hipóteses do Padre Joseph Pohle.
Que dizer? – O Padre Domênico Grasso, SJ, afirma que a tese do Padre Pohle tem certo peso, mas também pontos discutíveis. Como quer que seja, não se opõe à fé católica. Aliás, não há até o momento pronunciamento oficial da Igreja sobre o assunto. Deus, em seus santos desígnios, tem – caso existam tais extraterrestres – meios próprios de levá-los à vida eterna (cf. Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Curso de Novíssimos ou Escatologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1993, p. 173-177).
Eis o que, de momento, poderíamos dizer sobre um tema complexo que, por ora, interessa muito mais à ciência empírica do que à fé. Sejamos cautelosos!