Quadrinista argentino Joaquín Salvador “Quino” Lavado deixa sua personagem mais conhecida na época em que ela se revela mais atual
Uma vez questionado sobre o que achava de Mafalda, a personagem mais conhecida do quadrinista Joaquín Salvador Lavado, o escritor Julio Cortázar, também argentino, respondeu em tom de brincadeira: “Isso não tem a menor importância. O que importa é o que a Mafalda pensa de mim”. Isso mostra um tanto do respeito e da importância que a garota falastrona e irrequieta criada em 1964 conquistou ao longo dos anos.
Seu criador, mais conhecido como Quino, morreu em sua Mendoza natal, na Argentina, nesta quarta-feira (30), aos 88 anos, um dia após Mafalda completar 56. Coincidência que acontece numa época em que as frases mais contestadoras da personagem, publicadas em revistas em quadrinhos de 1964 a 1973, voltaram a fazer sucesso por meio de memes na internet. “Deveria haver um dia na semana em que os telejornais nos enganassem um pouco dando boas notícias”, dizia a garotinha de seis anos preocupada com problemas sociais. Ou: “Viver sem ler é perigoso, te obriga a acreditar no que dizem”, em mais uma das frases que compuseram a revista em quadrinhos em língua espanhola mais traduzida do mundo.
Ela é uma “heroína zangada, que não aceita o mundo como ele é. E reivindica o seu direito de continuar sendo uma menina que não quer se responsabilizar por um universo adulterado pelos pais”, definiu o filósofo italiano Umberto Eco, na introdução do livro Mafalda a Rebelde (1969), o primeiro livro publicado na Europa com a personagem. “Quino morreu. Todas as pessoas boas do país e do mundo ficarão de luto por ele”, escreveu no Twitter seu editor, Daniel Divinsky.
Além de quadrinista, Quino era um pensador e um historiador gráfico. Apesar dos constantes pedidos, trouxe Mafalda de volta em obras inéditas em raríssimas ocasiões, como em campanhas da Unicef, da Liga para a Saúde Mundial, de prevenção do coronavírus e da Lode (Lei Orgânica do Direito à Educação), do governo espanhol, em 1986.
Seu último trabalho foi as tiras publicadas na revista argentina Live Journal. Segundo a imprensa argentina, o autor sofreu um acidente vascular cerebral nos últimos dias. Porém, na maturidade advinda dos seus dias em vida, escreveu a seguinte frase de grande sabedoria, na boca de Mafalda: “O que importam os anos? O que realmente importa é ver que no fim das contas a melhor idade da vida é estar vivo.”
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