Leia um poema de Louise Glück, a poeta e ensaísta norte-americana laureada com o prêmio máximo na arte escrita Pode-se dizer que existem três classes de vencedores do prêmio Nobel de Literatura:
- as surpresas absolutas, como quando o cantor e compositor Bob Dylan faturou o prêmio em 2016;
- os cânones, categoria de incidência cada vez mais rara, uma vez que o último vencedor que nela se enquadraria possivelmente foi Alice Munro em 2013, ou talvez Mario Vargas Llosa em 2010;
- e as surpresas ou azarões, o que consiste em autores menos conhecidos que geralmente passam longe do radar das casas de apostas e são premiados, como recentemente foi o caso das escritoras Olga Tokarczuk (2019) e Svetlana Alexijevich (2015).
E que agora se repete com a poeta e ensaísta nova-iorquina Louise Glück, que foi anunciada nesta quinta-feira (8) como a vencedora do Nobel 2020 de literatura. Segundo a nota divulgada pelo júri da premiação, Louise foi selecionada por sua “voz poética inconfundível que, com beleza austera, torna universal a existência individual”. Professora de literatura na universidade de Yale, Glück já havia sido agraciada com o Pulitzer em 1993 (pelo livro de poesia The Wild Iris), e em 2014 com o National Book Award.
Trajetória
Hoje com 77 anos, a autora fez sua estreia com a coletânea de poemas Firstborn, publicada em 1968 e ‘logo se tornou uma das poetas mais proeminentes da literatura americana contemporânea”, como diz a nota, que enaltece sua poesia ”caracterizada por uma busca pela clareza” e destaca o livro Averno (2006) como ”uma interpretação visionária do mito de descida de Perséfone ao inferno no cativeiro de Hades, o deus da morte”. Ainda inédita no Brasil (começa o leilão das editoras), Louise Glück costuma abordar temas como infância, relacionamentos e vida em família.
Em vez da cerimônia habitual em Estocolmo, onde os laureados recebem o prêmio das mãos do das mãos do rei da Suécia, a entrega será transmitida com cada um dos vencedores em sua casa.
O prêmio de literatura é sempre o quarto a ser anunciado, depois dos de medicina, física e química. Nos próximos dias deve ser anunciado o prêmio de economia e o tão aguardado Nobel da Paz, ao qual Papa Francisco era um dos favoritos.
Leia um poema da vencedora de literatura do Nobel 2020, Louise Glück:
Portland, 1968*
Você fica firme como ficam as rochas
que o mar alcança
em ondas transparentes de desejo;
elas estão arruinadas, finalmente;
tudo o que está preso está arruinado.
E o mar triunfa,
como tudo o que é falso,
tudo o que é fluente e feminino.
De trás, uma lente se abre
para o seu corpo. Por que
você deveria se virar? Não importa
quem é a testemunha,
por causa de quem você está sofrendo,
por quem você fica firme.
Tradução de André Caramuru Aubert publicada no jornal Rascunho
