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Pachamama e Vaticano: moeda comemorativa não representa o ídolo pagão andino

Moeda comemorativa Vaticano Dia Mundial da Terra
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Francisco Vêneto - publicado em 16/10/20
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Lançada hoje, moeda mostra mulher amazônica grávida gestando o planeta, o que gerou algumas associações com o culto à “Mãe Terra”Pachamama e Vaticano: a inusitada associação que gerou barulho no Sínodo da Amazônia voltou às redes sociais nesta semana. Por quê?

Porque o Escritório Filatélico e Numismático do Vaticano lança hoje, 16, uma moeda de prata comemorativa dos 50 anos de instituição do Dia Mundial da Terra. E o desenho da moeda, embora não retrate o ídolo pagão andino da fertilidade, levou internautas a fazerem novas associações entre o Vaticano e a Pachamama.

O criador da moeda, Luigi Oldani, a apresenta nesses termos:

“[A figura na moeda] representa uma mãe carregando a Terra, da qual devemos cuidar e amar como se fosse uma filha. As longas espigas de trigo nos cabelos, aliás, são uma referência cruzada entre o passado e o futuro, que se torna atemporal. Portanto, eterna”.

A moeda, de fato, traz a figura de uma mulher grávida, com traços amazônicos, gestando o Planeta Terra.

A rigor, não se trata da figura da Pachamama. As redes sociais, porém, a associaram com esse culto devido à similaridade com episódios que geraram perplexidade no Sínodo da Amazônia, em outubro de 2019.

Pachamama e Vaticano

A Pachamama é uma personificação da “Mãe Natureza” ou “Mãe Terra”. Ela faz parte do conjunto de crenças e cultos ancestrais andinos, que, aliás, também a relacionam com a fertilidade. É, portanto, um ídolo pagão.

Em 4 de outubro de 2019, no entanto, um evento da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e do Movimento Católico pelo Clima, nos Jardins do Vaticano, mostrou essa representação feminina, grávida e nua, como ligada ao universo indígena amazônico. O evento ocorreu durante o Sínodo da Amazônia.

Alguns grupos, além disso, impulsionaram tentativas forçadas de compatibilizar esse ídolo com a fé católica mediante associações subjetivas e confusas com Nossa Senhora.

É importante destacar, porém, que os documentos e discussões formais do sínodo como tal não estabeleceram nenhuma dessas associações.

Depois, a igreja de Santa Maria em Traspontina, que está aos cuidados dos padres carmelitas, expôs, sobre um altar, imagens vinculadas à Pachamama. Este caso, aliás, foi um dos que mais indignaram tanto clérigos quanto leigos: afinal, tratava-se da colocação de um ídolo pagão em lugar de destaque num templo católico. Em 21 de outubro, dois homens não identificados jogaram as esculturas no rio Tibre.

Além disso, a mesma igreja, que fica a pouca distância do Vaticano, sediou um evento sincrético de 4 a 27 de outubro, misturando tradições indígenas e referências cristãs.

“Escândalo de idolatria”

Uma das reações críticas mais contundentes a este sincretismo veio do Brasil.

De fato, em novembro de 2019, dom José Luis Azcona, bispo emérito da ilha de Marajó, tratou como “idolatria” e “escândalo” as relações entre esses eventos paralelos ao Sínodo da Amazônia e a Pachamama, porque se trata abertamente de um ídolo pagão. Ele pediu e defendeu mais clareza doutrinal.

Dom Azcona, que é espanhol, se tornou bastante conhecido e respeitado no Brasil por suas firmes denúncias contra a exploração sexual de crianças na região amazônica. Ele chegou, inclusive, a sofrer ameaças de morte em decorrência dessas denúncias.

O bispo emérito, além disso, contestou enfaticamente as alegações de que os indígenas seriam incapazes de compreender o celibato católico, já que uma das desculpas em voga para contestá-lo é a de que o celibato prejudicaria a continuidade da missão entre os povos indígenas.



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