Um Dia Chegarei a Sagres é o primeiro romance da autora em 16 anosNélida Piñon é um dos mais importantes nomes da literatura brasileira desde os anos 1970. Vencedora de prêmios como Jabuti, APCA e o prestigiado Príncipe das Astúrias (pelo conjunto da obra), da Espanha, entre outros reconhecimentos internacionais. Sua obra hoje conta com 11 romances, cinco livros de contos, quatro de ensaios e três de memórias, entre outras obras e tantos prêmios. Integra a Academia Brasileira de Letras, da qual foi a primeira presidente mulher entre 1996 e 1997.
Aos 83 anos, em plena pandemia, a autora acaba de publicar não um, mas dois livros. “Quero enfrentar a pandemia com a minha literatura”, disse ela ao seu editor, Carlos Andreazza, quando este lhe consultou sobre a ideia de publicar as obras em um momento tão incerto.
Diagnóstico equivocado
O primeiro deles, lançado em junho, é o livro de memórias Uma Furtiva Lágrima, que foi impulsionado pelo momento em que Nélida foi diagnosticada com câncer. Embora o parecer médico estivesse equivocado e ela tenha permanecido bem de saúde, o susto inspirou uma profunda reflexão sobre sua obra e suas influências, o amor e a fé, o que não cessou mesmo depois de desmentido o parecer médico.
Já o segundo lançamento, que está chegando às livrarias, é o romance de século Um Dia Chegarei a Sagres (editora Record), sua primeira obra de ficção desde o livro de contos A Camisa do Marido (2014), e seu primeiro romance desde Vozes do Deserto (2004), eleito livro do ano no prêmio Jabuti 2005.
Grandes navegações
O livro de 512 páginas conserva muitos dos elementos que compõem o imaginário místico e até mágico da obra da autora. A história passada no Portugal do século 19 é contada camponês Mateus, que após perder o avô, deixa sua aldeia e atravessa Portugal por terra e rio com o objetivo a Sagres e, portanto, ao mar.
Sob a pena de Piñon, a aldeia torna-se um universo; os animais, seres sagrados; e Deus, mais do que uma entidade, se manifesta como presença do divino.
No livro ela ressucita o personagem histórico Infante Dom Henrique (1394-1460) e sua polêmica Escola de Sagres, dedicada à navegação, o que até os dias de hoje ainda divide historiadores se de fato existiu. Mas ao trilhar o caminho e as andanças do jovem Mateus, sob seu olhar, Nélida acaba remontando a época das grandes navegações e desvendando as correntes marítimas do Atlântico.
“Confio no fulgor da literatura brasileira, que tem sobrevivido a todos os embates. A arte viceja, não falece”, diz a autora.
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