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Por que não devemos politizar a vacina

SCIENCE
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Octavio Messias - publicado em 30/10/20
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Independentemente da origem, foco deve estar em salvar vidas e impedir uma disseminação ainda maior do vírusGeralmente, quando nos vemos em um sufoco, a melhor saída é antecipar o problema para encontrar a solução. Por exemplo, se está dirigindo e vê um outro carro dando a entender que irá cruzar a pista, você pisa no freio antes para previnir um acidente depois. Agora, no caso da vacina contra o novo coronavírus, que ainda nem foi aprovada, as pessoas estão antecipando a solução na tentativa de encontrar problemas. Seria como ver um carro parado no acostamento e deliberadamente desviar do fluxo para atingi-lo. 

O Brasil está se aproximando de 5,5 milhões de casos de Covid 19 e de 160 mil mortes causadas pelo vírus. Isso é fato, está documentado. Uma vacina a essa altura é tudo que poderíamos querer, até mesmo para podermos retornar às nossas vidas e ao convívio social sem risco ou culpa. Mas vemos um perigoso movimento negacionista querendo encontrar problema no que seria a solução.   

196 vacinas em desenvolvimento

Ainda não existe nenhuma vacina aprovada no mundo. Essa é uma possibilidade pela qual trabalham incessantemente milhares de cientistas ao redor do planeta – atualmente existem 196 vacinas em desenvolvimento no mundo. E se nenhuma ainda foi aprovada, é porque o seu desenvolvimento é sério, rigoroso e avalia tanto a eficácia na imunização contra o vírus quanto os possíveis efeitos colaterais no corpo. 

Quando nossas mães nos levavam ao médico quando éramos crianças para tomar vacina contra sarampo, rubéola, caxumba, difteria, tétano etc., ninguém questionava a procedência dos insumos nem possíveis reações adversas no corpo, uma vez que os benefícios são inegáveis. Mesmo adultos, antes de começar essa crise, sempre foi recomendável ter a carteirinha de vacinação contra doenças como gripe, hepatite B ou pneumonia em dia. Um ou outro poderia ter seus receios, mas jamais existiu um movimento articulado contra todas as vacinas.  

Agora, por que essa resistência contra uma vacina justamente no momento em que o mundo atravessa a sua pior crise sanitária em um século? Podemos ver que esse debate se tornou instrumento de disputas políticas, em um momento em que a saúde e o bem-estar de todos deveria estar acima de tudo. Não deixemos que o nosso povo sofra pelo favorecimento de alguns. 

Xenofobia

O discurso negacionista inclusive vem carregado de xenofobia. Que diferença faz se os insumos da vacina virem da Mongólia, da Croácia, de Porto Rico ou do Azerbaijão? A China é o maior parceiro comercial da história do Brasil. Já exportamos mais de US$ 34 bilhões para o país oriental, o que se reflete diretamente no PIB do Brasil. Deveríamos ser agradecidos por isso, e não atacar tudo que vem do país, correndo o risco de perdermos esse aporte em um momento que já é economicamente complicado. E se eles estão envolvidos na produção de diversas vacinas em fase de testes pelo mundo, é porque eles possuem tecnologia de ponta e cientistas altamente qualificados. 

Fase final de testes 

Embora algumas vacinas já estejam em fase final de testes, dificilmente alguma delas será aprovada ainda este ano. Cobaias estão voluntariamente sendo usados nos testes justamente para antecipar qualquer risco que elas venham a ter. E mesmo depois de aprovadas, devem ser aplicadas na classe médica, em quem está na linha de frente no combate ao vírus e em todos os grupos de risco antes de chegarem à população em geral. Ou seja, antes de termos a oportunidade de tomá-la, haverá tempo o suficiente para sabermos de sua eficácia.

Torçamos para que a vacina chega logo não só para nos proteger, como para proteger todos com quem convivemos. O coronavírus ataca apenas humanos e a nós cabe unir esforços para derrotar esse mal. 

No atual estágio da pandemia, faz mais sentido focar na solução do que no problema.