Muito além das discussões sobre o Halloween, o que realmente importa é ser capaz de dizer palavras de vida e esperança diante da morte
Na escola católica em que leciono, rezo no início do dia com meus alunos. Com muita liberdade, nem todos participam; alguns sussurram, outros participam em voz alta, mas quase todos dizem com força a parte do “descansem em paz”.
Há algo que toca o coração desses adolescentes nesse momento, algo que sempre me comove, porque tem a ver com a esfera mais íntima, aquela da lembrança dos seus entes queridos, da memória, da tradição.
Parece que a única ligação entre o céu e a terra passa por uma vida que já não existe, mas que está presente nos sentimentos desses adolescentes, fazendo que participem da oração até aquelas que geralmente não o fazem.
Todos os Santos e de Finados
Isso pode ser pouco, mas para mim é um pequeno grande milagre! Sim, porque quando eu aprofundo no tema com eles – por exemplo, ao falar da comemoração de Todos os Santos e de Finados, em relação ao Dia das Bruxas –, surgem perguntas como: “Professor, como falar sobre a vida e a esperança, quando alguém que você ama morre?”.
O que um pobre professor pode responder? Muito pouco, mas certamente pode ouvir em silêncio, até que outro aluno diz: “Eu sei o que significa sofrer por este motivo, e a morte deve ser chamada pelo seu nome; mas a vida tem um belo nome, que precisa ser gritado com coragem”.
Enquanto eu procurava as palavras certas, essas palavras que não são encontradas facilmente, outro aluno disse: “Não podemos ter medo de chorar, nem de perguntar a Deus o porquê da morte de um ente querido; isso também é oração.”
Por quê?
Ao abordar estas questões, é bom não oferecer soluções já “confeccionadas”. Sempre que possível, sugiro que assistam ao final do filme “A noiva cadáver”, de Tim Burton. Quando os mortos voltam à Terra, um espírito se move em direção a um grupo de vivos que foge com medo, mas um menino permanece lá maravilhado, aproxima-se e diz: “Vovô?”. Um momento de hesitação, e então o espírito o reconhece e o abraça.
“Professor, eu entendi – diz uma voz, do fundo da sala. Este é o significado da lembrança cristã dos falecidos: você não deve ter medo; de fato, precisamos abraçar a morte com a vida.”
Citando uma reflexão do blogueiro “Screwtape”, eu digo para a turma: “É verdade, o cristianismo diz outra coisa. Que não há necessidade de ter medo dos mortos ou da morte. Que a vida é uma passagem, que o fim desta vida é o começo de outra, e que aqueles que morrem serão encontrados”.
E completo: “O local do enterro torna-se o ‘campo santo’, o lugar onde são semeados os santos que foram nossos antepassados, nossos avós, nossos pais e mães, que esperam o novo broto. É por isso que, na nossa tradição, é uma festividade, e você não precisa nem ir para a escola!”.
Festa cristã dos santos
Então, Dia das Bruxas ou festa de Todos os Santos e Fiéis Defuntos?
Elio Dotto escreve: “A festa de Halloween alimenta a desconfiança dos mortos, como se a lembrança dos mortos – mas especialmente o pensamento da morte – devesse ser ‘atenuado’. (…) É claro que a morte não é um assunto tão alegre. Mas ainda assim, lembremos da nossa tradição cristã que, nos primeiros dias de novembro, convida a uma peregrinação ao cemitério, para visitar os túmulos dos nossos entes queridos: em tais circunstâncias, a morte não causa medo”.
Ele continua: “Na verdade, a lembrança dos mortos se impõe acima das ameaças da morte, a ponto de olharmos para trás, para as pessoas que nos deixaram, com gratidão, lembrando com carinho do rosto, do sorriso, da generosidade, da luta! Na festa cristã dos santos, a morte não causa mais medo, porque a lembrança da vida é mais forte, apesar de tudo”.
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