Constitucionalidade da medida é questionada: histeria e falta de embasamento científico para medidas desproporcionais é preocupanteDitadura em nome da covid-19? A pergunta é cada vez mais pertinente em diversas regiões do planeta desde a eclosão da pandemia.
Na Irlanda, o novo despropósito é a ameaça de cadeia para padres que celebrarem Missas com fiéis, apesar de que não existem evidências científicas que comprovem alto risco de contágio em Missas celebradas conforme os protocolos de segurança sanitária.
Gritantes contradições
O que existe, mundo afora, é um assustador acúmulo de gritantes contradições.
No Canadá, por exemplo, o cardeal arcebispo de Québec, dom Gérald Cyprien Lacroix, já protestou publicamente contra a falta de diálogo e de coerência das autoridades da província, porque as restrições para se participar das Missas são mais rigorosas do que para jogar nos cassinos e até para comprar maconha.
Na Argentina, em nome simplesmente de uma suspeita, um pai foi impedido de se locomover pelo próprio país para visitar a filha, que morreu sem poder receber a sua visita. Isso depois que ele dirigiu 12 horas desde a Patagônia, no extremo sul, até a divisa com a província de Córdoba, onde as autoridades lhe informaram que ele simplesmente não poderia entrar. Ele mesmo relatou que foi tratado de modo humilhante e desproporcional, como se fosse um criminoso de alta periculosidade:
“O nosso carro foi acompanhado pela polícia de Córdoba e, depois, pelas polícias de cada província por onde passamos até a porta de casa, em Plottier, na província de Neuquén, na Patagônia. Não nos deixaram parar nas lojas de conveniência na estrada nem para ir ao banheiro”.
A falta de bom senso das autoridades argentinas, no fim das contas, não mostrou eficácia. O país adotou ainda em março uma das quarentenas mais longas e rígidas do planeta. Apesar disso, já é o 7º país do mundo em número de contágios, superando casos críticos como Itália, Reino Unido, México, Peru e Colômbia, e já acumula mais de 32 mil mortes, o triplo do Equador, que chegou ao colapso funerário antes da metade do ano.
Cabe perguntar, portanto, se o que funciona para reduzir a expansão da pandemia são mesmo as medidas ditatoriais histéricas contra a liberdade da população ou é o foco em protocolos sanitários sensatos e funcionais.
Ditadura em nome da covid-19?
As reações na Irlanda foram duras, questionando a constitucionalidade da medida contra os padres. Entre elas, o deputado Michael McNamara declarou:
“Os padres cometerão um crime se abrirem as portas de suas igrejas para a Missa. Sei que muitos sacerdotes não querem celebrar e não acham apropriado. É direito deles. Não sou assistente de Missa, mas sei que, na comunidade que eu represento, é importante para as pessoas poder ir à Missa, a uma igreja, ou à mesquita. O governo está impedindo isso. O governo vai mandar policiais atrás dos padres que decidirem celebrar a Missa? Se o governo estiver pensando nisso, eu tenho uma palavra a dizer: ‘Não!'”.
Stephen Donnelly, ministro irlandês da Saúde, negou as sanções criminais contra padres que celebrarem a Missa em público, mas o artigo oitavo da nova lei promulgada em 22 de outubro proíbe cerimônias religiosas públicas. Além disso, permite sanções penais ao organizador de qualquer evento que esteja agora proibido.
As críticas também enfatizam que o Ministério da Saúde não apresentou qualquer evidência científica de que as Missas celebradas conforme os protocolos sanitários representem risco real para a saúde pública.
Aliás, o que há são evidências na direção contrária: médicos da Áustria e da Itália se pronunciaram publicamente para declarar, inclusive, que a Comunhão na boca é mais segura do que a Comunhão na mão.
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