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Eu nasci mais ou menos em 1988: os 27 anos da busca de um menino pela mãe

Folheto divulgado por Antônio Carlos da Silva

Antônio Carlos da Silva / Divulgação

Folheto divulgado por Antônio Carlos da Silva

Reportagem local - publicado em 26/11/20

Antônio Carlos dormiu num ônibus aos 6 anos de idade. Quando acordou, estava perdido a 400 quilômetros de casa

Eu nasci mais ou menos em 1988: foi com as imprecisas lembranças de um menino de 6 anos de idade que Carlos reconstruiu a própria história ao longo de 27 anos, até que as peças finais da sua trajetória o reconectaram finalmente ao seu passado – um passado que sempre foi mais presente que o próprio presente.

Quando tinha 6 anos, Carlos fugiu de casa, assustado após presenciar uma agressão de seu padrasto contra sua mãe. O menino caminhou até o terminal rodoviário, em Juazeiro do Norte, Ceará. Sem ninguém perceber, ele entrou num ônibus e lá ficou escondido até adormecer. Quando acordou, estava em Fortaleza, a 400 quilômetros de casa, sozinho e perdido da família.

De abrigo em abrigo

O ano era 1993. O motorista do ônibus registrou junto à empresa que a criança tinha viajado escondida. Como não se sabia em qual cidade da rota ele tinha entrado no ônibus, o pequeno Carlos foi levado a um abrigo de crianças órfãs.

A partir de então, ele foi passando por vários outros abrigos, além de perambular também pelas ruas da capital.

Finalmente, foi acolhido pela Associação Beneficente Pequeno Nazareno, na Grande Fortaleza. O fundador da associação, o ex-frade alemão Bernardo Rosemeyer, acabou por adotá-lo.

27 anos em busca da família

O pequeno sabia o seu nome completo: Antônio Carlos da Silva. Ele se lembrava do nome da mãe, Geane, e sabia que tinha três irmãos e um tio, Nino, que lhe fazia carrinhos de barro. Era tudo. Com as carências técnicas da época, não eram peças suficientes para montar o quebra-cabeças.

Antônio Carlos tem hoje 32 anos, é motorista, casado e pai de uma filha. E ele nunca desistiu de se reencontrar, reencontrando a mãe, os irmãos e o tio.

“Você vá, mas volte”

E foi justamente um irmão que ele nem conhecia, porque tinha nascido depois do seu desaparecimento, quem completou os elos perdidos que separavam Carlos da família.

Clécio, que é enfermeiro, estava em viagem quando pegou um panfleto no Hotel Municipal de Araripe. Acabou por perdê-lo, mas, à noite, numa rede social, voltou a ver exatamente o mesmo panfleto e então o leu com atenção. Ele contava uma história familiar: a mesma relatada por sua mãe, Geane. Ela costumava dizer a Clécio quando ele saía:

“Você vá, mas volte. Perdi um filho, não aguento perder outro, não”.

“Eu nasci mais ou menos em 1988”

Os panfletos tinham sido distribuídos por Carlos e por um amigo em postos de gasolina, recepções de hotéis, churrascarias… De cidade em cidade. “E coloquei nas redes sociais”, conta o amigo, que, aliás, também se chama Carlos. O folheto traz duas fotos do Carlos desaparecido, uma de 1996 e a outra de 2020, além das informações de que ele se lembrava sobre a família:

Meu nome é Antônio Carlos da Silva. O nome da minha mãe é Jeane ou Geane da Silva. O nome do meu irmão é Diego. O nome de meu tio é Nino, que é artesão. Eu nasci mais ou menos em 1988 na cidade de Juazeiro do Norte ou nas cidades perto de Juazeiro. Eu me perdi quando tinha 6 anos de idade, pois peguei um ônibus que me levou até a cidade de Fortaleza, onde moro até hoje. Vou ficar grato eternamente a quem puder me ajudar a encontrar a minha família biológica!

O título do folheto deixava clara a maior das buscas do jovem:

“Procuro a minha Mãe”.
Antônio Carlos da Silva
Antônio Carlos da Silva / Divulgação
Folheto divulgado por Antônio Carlos da Silva

O milagre

Nesta última terça-feira, 24 de novembro, Carlos recebeu uma ligação.

A conversa com Clécio foi suficiente para que uma frase explodisse repetidamente, entre júbilo, incredulidade, lágrimas:

“Cara, tu é meu irmão! Eu não tô acreditando!”

Neste fim de semana, Carlos viajará a Juazeiro do Norte para conhecer o irmão caçula e reencontrar a avó e os outros irmãos.

A mãe, porém, ele ainda terá de esperar para poder abraçar, e será na eternidade. Geane faleceu em 2017, vítima de um câncer de mama.

Apesar da devastadora confirmação de que não voltará a vê-la nesta vida mesmo após 27 anos de espera e procura, Carlos enxerga no reencontro com a família um milagre que o enche de alegria:

“Em um ano de pandemia, de tantas tragédias, um milagre”.

Os irmãos têm conversado por telefone e chamadas de vídeo desde terça-feira e estão ansiosos pelo reencontro que deve ocorrer neste fim de semana. Francisca da Silva, a avó, estará presente. E Clécio avisa:

“Vai ser muita emoção para ela”.

Para todos! Que seja uma nova etapa de alegrias, paz e união para essa família, cujo filho perdido finalmente foi reencontrado.

Infelizmente, essa história sofreu uma triste reviravolta:


Folheto divulgado por Antônio Carlos da Silva

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