Vigilância sanitária alega que a celebração desobedecia as normas restritivas contra a Covid-19; bispo nega e fala em perseguição religiosa Autoridades sanitárias e policiais interromperam uma Missa de Crisma no município de Botuverá, Santa Catarina. O fato aconteceu no dia 28 de novembro de 2020.
Segundo a Arquidiocese de Florianópolis, 78 crismandos participavam da celebração. O Arcebispo Metropolitano de Florianópolis, Dom Wilson Tadeu Jönck, era quem presidia a Missa. De acordo com ele, os participantes seguiam à risca todas as normas de segurança para evitar a proliferação do coronavírus, como o uso de máscara, álcool em gel e o distanciamento social, por exemplo.
Entretanto, na metade da celebração, a secretária de saúde de Botuverá chegou com a polícia e a vigilância sanitária. As autoridades civis, então, interromperam a Missa, alegando violação das medidas restritivas contra a Covid-19
Missa sem comunhão
Após um entendimento, os participantes conseguiram receber o sacramento da Crisma. No entanto, as autoridades ameaçaram usar a força policial para finalizar a Missa. Então, na hora da Comunhão, o arcebispo resolveu terminar a celebração e seguiu para a oração final. Todos, portanto, ficaram sem receber a Eucaristia.
“Devo dizer que, pessoalmente, a parte que mais me feriu foi a ordem de interromper a missa. E foram repetidas ameaças de que iriam entrar e acabar com a celebração. Preciso dizer que a celebração da missa não se interrompe na metade. Nos mais de 40 anos de sacerdócio, isto nunca me aconteceu”, afirmou o Dom Wilson em nota de esclarecimento.
Celebração autorizada
O Padre Paulo Riffel, pároco da Paróquia São José (onde tudo aconteceu), explicou ao site Gaudium Press que a realização da celebração no salão paroquial tinha sido autorizada anteriormente pelas autoridades sanitárias municipais. Ele conta, inclusive, que técnicos da vigilância sanitária estiveram no salão paroquial para orientar a disposição das cadeiras e, assim, fazer cumprir o distanciamento social.
Além disso, o padre diz que se reuniu com o prefeito e que, após análise jurídica, ele permitiu a realização da Missa.
No entanto, um dia antes da celebração, a prefeitura voltou a solicitar o adiamento da Missa. Em nota oficial, o município, entretanto, alega que a proibição se devia ao fato de o Ministério público entender a celebração religiosa como “evento social” o que está proibido no município, por causa do avanço no número de casos de Covid.
Mas existe outra instrução normativa do governo do Estado que determina diretrizes específicas para as celebrações religiosas. É a Portaria 736, de 23 de setembro de 2020.
O documento, de fato, estabelece que, em regiões com risco potencial gravíssimo de contaminação, a lotação máxima dos templos religiosos deve ser de 30% da capacidade.
A paróquia São José seguia, de fato, essa norma. Tanto, que realizava a Crisma no salão paroquial, local mais fácil para cumprir as normas, observando o distanciamento social.
Ameaça à liberdade religiosa
Em nota oficial, Dom Wilson Tadeu Jönck disse que a interrupção da Missa lembrou os casos de perseguição aos cristãos. “Tais fatos acontecem em regiões onde há perseguição contra os cristãos. Aproveitam quando a comunidade está reunida para atacar. Não esperava passar por esta experiência em Botuverá”, afirmou o arcebispo.
Da mesma forma, o padre Paulo Riffel classificou o ocorrido como um “atentado contra a fé católica”, já que os fiéis foram impedidos de receber a Sagrada Eucaristia.
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