Carmelita fala sobre a situação dramática dos milhares de deslocados de Cabo DelgadoBlanca Nubia Zapata Castaño, da Congregação das Carmelitas Teresas de São José, está em Pemba a cuidar dos deslocados, das populações que foram forçadas a fugir abandonando tudo o que tinham por causa dos terroristas que têm vindo a espalhar medo e morte na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Em declarações ao programa “Perseguidos, mas não Esquecidos”, da Fundação AIS na Rádio Maria, em Espanha, esta religiosa descreve como a Igreja tem procurado auxiliar os deslocados que têm procurado abrigo nesta cidade que hoje acolhe milhares de pessoas.
A própria Irmã Nubia teve de abandonar a sua missão em Macomia – onde a congregação possuía uma escola, uma casa para os alunos e uma creche –, no seguimento de um ataque “forte e cruel” que deixou esta zona urbana “totalmente destruída”.
Socorro
Ao telefone desde Pemba, esta religiosa conta agora à Fundação AIS como a Igreja tem procurado socorrer os deslocados, pessoas que, por vezes, tiveram de fugir pela floresta apenas com a roupa que traziam vestida e que agora dependem totalmente da ajuda de instituições de solidariedade.
“Existem dois tipos de deslocados”, explica a irmã. “Em primeiro lugar, as que têm de fugir antes do ataque à sua aldeia. Saem coma roupa que têm no corpo, fogem para a floresta, caminham dias e dias com sede e fome até chegarem a um lugar seguro. Essas pessoas perderam tudo, e o mais triste é que perderam familiares e amigos: pais, filhos, netos ou avós.”
É um relato dramático. Diz a Irmã Nubia Castaño que estes deslocados, estes refugiados internos, “precisam de tudo: alimentos, roupas, remédios, alojamento…. Precisam de todo o apoio material e espiritual”.
Mas entre os milhares de deslocados de Cabo Delgado – as últimas estimativas apontam para mais de meio milhão de pessoas – há também os que fugiram por precaução perante uma “ameaça iminente”. Estas pessoas fugiram, diz a irmã carmelita, por “medo de serem atacadas”. Estes deslocados ainda conseguiram trazer algumas coisas mas, apesar disso, “também precisam de ajuda”.
Igreja
A Igreja Católica tem-se destacado no auxílio a estas populações que estão a sofrer uma verdadeira tragédia desde 2017, quando os ataques tiveram início, mas cuja intensidade tem crescido fortemente nos últimos meses. “Ajudamos as pessoas com alimentos, roupas e para que tenham um abrigo seguro. Também damos apoio psicológico , em pequenos grupos, nas visitas às famílias, e se temos de os levar ao hospital ou precisam de algum apoio específico, também ajudamos…”.
Para cumprir com esta missão, a Igreja de Moçambique precisa também de ser ajudada. Por isso, a irmã carmelita agradece todas as campanhas que estão a ser promovidas já em vários países em socorro destas populações vítimas do terrorismo.
Entre essas campanhas, a Irmã Nubia destaca a da Fundação AIS. “Agradecemos imensamente esta ajuda para os bens de primeira necessidade e ajuda psicológica. É um apoio fundamental, que nos ajuda a minorar um pouco a situação, porque estamos a falar de 500 mil deslocados, são milhares de pessoas que chegam todas as semanas. Sem a ajuda do estrangeiro não poderíamos continuar e a ajuda canalizada por meio da Igreja realmente chega onde é necessária.”, diz a Irmã Nubia.
Terror
Recentemente, a 15 de Novembro, Blanca Nubia Zapata Castaño publicou uma mensagem na ‘internet’ descrevendo o “terror” em que se encontra Cabo Delgado. Nessa mensagem, no ‘facebook’, a irmã dizia que não podia mais “calar o grito de dor e indignação com a forma vil e cruel com que os nossos irmãos desta região estão a ser despejados das suas próprias terras, despojados de tudo mesmo do dom mais precioso que é a vida”.
Agora, falando para o programa da Fundação AIS na Rádio Maria em Espanha, a religiosa carmelita volta a desabafar a sua revolta. “Sinto a necessidade de dizer ao mundo que não há direito que essas atrocidades continuem. Temos de proteger e dignificar a vida de cada ser humano, mas especialmente dos mais vulneráveis. Temos de denunciar as injustiças de políticas económicas corruptas e mal implementadas. Temos de ajudar a libertar estes povos, mal denominados de subdesenvolvidos, da dependência eterna das economias externas…”