A palavra “ciência” tem sido repetida ad nauseam como “o mantra da pandemia”. Onde está ela?Só um convidado pode usar banheiro no Natal. É ordem do governo da Bélgica!
Isso mesmo que você leu. O governo belga determinou as seguintes regras para quem quiser receber convidados na noite de Natal deste ano:
- Você pode receber um limite máximo de 4 convidados.
- Você não pode recebê-los dentro da sua casa, mas somente no jardim.
- Os convidados devem ter acesso direto ao jardim a partir da rua: se eles precisarem entrar na sua casa para só então chegarem ao jardim, então você não pode recebê-los.
- E agora vem a melhor parte: somente um dos 4 convidados estará autorizado pelo governo a usar o banheiro da sua residência!
Pausa para ficar de boca aberta.
Só um convidado pode usar banheiro no Natal
Para que não restem dúvidas sobre o item 4, um porta-voz do Ministério belga do Interior, que é capitaneado pela ministra Annelies Verlinden, foi bastante claro:
“Se você [como convidado] realmente tiver que ir ao banheiro, então não terá remédio a não ser voltar para a sua própria casa”.
Vamos imaginar, por exemplo, que os convidados sejam os seus pais, um irmão e a cunhada. Qual deles você vai deixar entrar no seu banheiro? Sua mãe ou seu pai?
A “lógica” (?) deste surreal “dilema” se “ampara” no objetivo de frear a pandemia da covid-19. Este objetivo, que é evidentemente urgente, tem servido, porém, como elástica justificativa para as mais estapafúrdias arbitrariedades perpetradas por governos contra seus cidadãos.
A necessidade de tomar medidas para reduzir os contágios é particularmente gritante na Bélgica, já que é um dos países com a maior proporção de óbitos por 100.000 habitantes em todo o planeta. O que se espera, porém, é que as medidas adotadas sejam razoáveis.
Medidas razoáveis?
É até possível que a restrição ao uso do banheiro tenha lá sua razoabilidade – a questão é que não está claro qual é.
Do jeito que a medida foi definida e comunicada à população, ela parece muito mais um ato de autoritarismo e arbitrariedade do que uma norma sanitária fundamentada em objetividade.
Qual é o embasamento científico de uma determinação desse tipo? O que exatamente se sabe, com comprovação científica, sobre o aumento do risco de contágio pelo coronavírus durante o uso do banheiro de casa em comparação com o risco durante a ida ao supermercado usando o transporte público? Se as pessoas derem descarga e lavarem direito as mãos com água e sabão antes e depois do uso, qual exatamente vai ser a diferença de impacto se os usuários do banheiro forem um, dois ou quatro? Como saber, com segurança científica, que a única pessoa autorizada a usar o banheiro não era justamente a que talvez fosse a única já previamente infectada pelo coronavírus, mas ainda assintomática?
Por que 4 pessoas e não 3, ou 5, ou zero?
Mesmo no tocante ao resto das “regras natalinas” da Bélgica: o que exatamente a ciência sabe até agora sobre quantas pessoas constituem um limite seguro para um encontro comemorativo que possa ser autorizado responsavelmente pelo governo? Por que 4 pessoas e não 3 ou 5? Ou zero, de uma vez? E quais pessoas são “menos inseguras”? Familiares? Amigos? Vizinhos? Por quê?
E se o critério científico de segurança for mesmo a quantidade, então o que impediria um cidadão belga sem convidados para a ceia natalina de oferecer o seu banheiro a um convidado do vizinho, por mais perfeitamente desconhecido que ele seja? Afinal, ficará respeitado o limite quantitativo de apenas um “usuário externo” com acesso ao banheiro da residência. Não era esse o critério? “Queridos vizinhos, nosso banheiro ficará disponível para um de seus convidados, até as 23h59, pela módica taxa de 5 euros por uso“.
A palavra “ciência” tem sido repetida ad nauseam como “o mantra da pandemia”. Onde está ela?
Enquanto a situação sanitária do planeta exige seriedade, o Natal que o governo quer impor aos belgas já virou piada mundo afora – pena que tão “engraçada” quanto “científica” e “democrática”.
Só falta mandarem o Papai Noel fiscalizar de casa em casa quem é que foi ao banheiro.