Diz o Papa Francisco: São José traça um caminho espiritual para nós, mas não aquele que “explica”, e sim o que “aceita”Em sua nova carta apostólica, o Papa Francisco aborda o “fiat” (expressão de aceitação) de São José. O Santo Padre explica por que esse fiat é um exemplo para nós em nossa vida diária, talvez particularmente em nossos tempos.
Diz o Papa:
“José aceitou Maria incondicionalmente. Ele confiou nas palavras do anjo.”
Além disso, Francisco destaca:
“Hoje, em nosso mundo, onde a violência psicológica, verbal e física contra as mulheres é tão evidente, José aparece como a figura de um homem respeitoso e sensível”.
Entretanto, São José tomou sua decisão “mesmo não entendendo a situação geral”, e Deus “o ajudou, iluminando seu julgamento”.
O Papa observa:
“Na nossa vida, muitas vezes sucedem coisas, cujo significado não entendemos. E a nossa primeira reação, frequentemente, é de desilusão e revolta. Diversamente, José deixa de lado os seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misterioso que possa aparecer a seus olhos, acolhe-o, assume a sua responsabilidade e reconcilia-se com a própria história. Se não nos reconciliarmos com a nossa história, não conseguiremos dar nem mais um passo, porque ficaremos sempre reféns das nossas expectativas e consequentes desilusões.”
Assim, diz o Papa Francisco, São José traça um caminho espiritual para nós, mas não aquele que “explica”, e sim o que “aceita”.
São José não é passivo
O Santo Padre continua dizendo que, nessa aceitação, José não é passivamente resignado, “mas corajosa e firmemente pró-ativo”.
“José não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte. O acolhimento é um modo pelo qual se manifesta, na nossa vida, o dom da fortaleza que nos vem do Espírito Santo. Só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões. A vinda de Jesus ao nosso meio é um dom do Pai, para que cada um se reconcilie com a carne da sua história, mesmo quando não a compreende totalmente.
O que Deus disse ao nosso Santo – «José, Filho de David, não temas…» (Mt 1, 20) –, parece repeti-lo a nós também: «Não tenhais medo!» É necessário deixar de lado a ira e a desilusão para – movidos não por qualquer resignação mundana, mas com uma fortaleza cheia de esperança – dar lugar àquilo que não escolhemos e, todavia, existe. Acolher a vida desta maneira introduz-nos num significado oculto. A vida de cada um de nós pode recomeçar miraculosamente, se encontrarmos a coragem de a viver segundo aquilo que nos indica o Evangelho. E não importa se tudo parece ter tomado já uma direção errada, e se algumas coisas já são irreversíveis. Deus pode fazer brotar flores no meio das rochas. E mesmo que o nosso coração nos censure de qualquer coisa, Ele «é maior que o nosso coração e conhece tudo» (1 Jo 3, 20).”
Enfrentar a realidade
Francisco disse que este é um exemplo do que ele chama de “realismo cristão”:
“A realidade, na sua misteriosa persistência e complexidade, é portadora dum sentido da existência com as suas luzes e sombras. É isto que leva o apóstolo Paulo a dizer: «Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28). E Santo Agostinho acrescenta: tudo, «incluindo aquilo que é chamado mal».Nesta perspetiva global, a fé dá significado a todos os acontecimentos, sejam eles felizes ou tristes.”
Nada é fácil
O Pontífice advertiu que não devemos pensar em acreditar como “encontrar soluções fáceis”:
“Assim, longe de nós pensar que crer signifique encontrar fáceis soluções consoladoras. Antes, pelo contrário, a fé que Cristo nos ensinou é a que vemos em São José, que não procura atalhos, mas enfrenta de olhos abertos aquilo que lhe acontece, assumindo pessoalmente a responsabilidade por isso.
O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sal 68, 6) e manda amar o forasteiro. Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32).”
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