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O amor e as ofensas de Natal

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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 15/11/21

Todos os anos se repete a mesma situação: antes do Natal, surgem aqueles que insistem no ódio e no desprezo dos cristãos

Todos os anos se repete a mesma situação. Antes do Natal, aumentam os documentários e os artigos comentando as mazelas (reais ou imaginadas) dos cristãos, as informações distorcidas sobre o patrimônio da Igreja (que, na verdade, é até insuficiente para financiar todas as suas ações sociais e a manter todos os seus monumentos artísticos considerados “patrimônio da humanidade”), a redução de fiéis católicos no mundo e – provavelmente o mais doloroso – as sátiras ofensivas tanto aos cristãos quanto a seus valores e à própria pessoa de Cristo.

No caso das sátiras, já se tentou de tudo, de boicotes a ações judiciais (sem falar em atos de violência, para nós, cristãos, inaceitáveis seja contra quem for). Nada deu certo, tanto é que as ofensas continuam. Parece que o efeito é exatamente o contrário. Quanto mais se tenta silenciá-los, mais os ofensores ganham fama e parecem se apresentar como heroicos acusadores das hipocrisias do mundo.

Para enfrentarmos essa situação, é importante entendê-la. Como ensina Jesus: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas” (Mt 10, 16). Infelizmente, algumas vezes – em nossa impotência – queremos ser agressivos como as serpentes e sem inteligência como as pombas. Mas esse não é o caminho…

Uma sociedade imatura

Nos orgulhamos em constatar que a origem da moderna sociedade ocidental está intrinsicamente ligada ao cristianismo. A dignidade da pessoa, os direitos humanos, a democracia, as revoluções científicas, o desenvolvimento material, o capitalismo e o socialismo… Tudo isso pode ter existido ou existir hoje em dia em outras regiões do mundo, mas floresceu em países cristãos, fecundado por uma visão do mundo cristã.

Contudo, com o mesmo júbilo com o qual alguns lembram a contribuição do cristianismo para a civilização, outros o transformam em “bode expiatório” das mazelas de uma sociedade que criou conforto material, mas não criou felicidade. Pior: quanto mais conforto, quanto maior a consciência da dignidade da pessoa, mais dolorosa é a constatação da infelicidade de tantos seres humanos.

Para a mentalidade contemporânea, o passado, a tradição, é um peso que se abate sobre o presente. Os pais são os culpados pela falta de realização dos filhos, os valores são ideologias hipócritas, criadas para nos dominar. Essa mentalidade se caracteriza, entre outras coisas, pela consagração da imaturidade. A vida nos torna mais experientes e maduros, mas a organização social e as ideologias modernas se esforçam por nos manter numa imaturidade juvenil. Nos casamos e temos filhos cada vez mais tarde, nos dizem que “querer é poder”, que a responsabilidade elimina o prazer, que nossos fracassos são sempre culpa dos outros, que a culpa desaparecerá se nos considerarmos inocentes. São todas ilusões adolescentes, de uma época da vida em que acreditamos que nos frustramos só porque alguma autoridade adulta (os pais, os professores, os chefes) não nos deixa aproveitar a vida como gostaríamos.

Assim, os escrachos daqueles que debocham da religião e da fé se tornam uma espécie de desabafo contra a hipocrisia e o autoritarismo de nossa sociedade – mesmo que os ofendidos e os debochados não tenham nenhuma culpa pelo mal estar dos demais.

O testemunho que conta

No fundo, porém, estamos diante de um fenômeno muito maior. Num dos primeiros documentos do cristianismo, a Carta a Diogneto (CD, ca. ano 120 dC), que já citei aqui em outro artigo, está escrito que os cristãos “amam a todos e por todos são perseguidos […] Tal é o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele desertar” (CD 5, 11 – 6, 10). A sabedoria histórica da Igreja ensina que o amor é a melhor resposta aos ataques que sofremos.

Os mesmos que debocham dos cristãos respeitam o Papa Francisco. Consideram-no como alguém que está “do lado deles”. É um fenômeno natural: nos consideramos bons e acreditamos que todos os bons “estão do nosso lado”. Mesmo aos olhos do mundo, não há mérito em debochar daquele que é oprimido ou daquele que luta pelo bem dos demais. É possível ridicularizar os cristãos quando sua bondade, seu amor ao próximo, se tornou invisível para o mundo.

Quando o amor cristão se torna assim invisível, a Igreja deixa de ser vista como aquela que porta o anúncio da bondade, da beleza e da verdade, para ser vista como aquela que porta as normas que oprimem, sufocam a beleza e consagram a hipocrisia. Quando, pelo contrário, o amor cristão rebrilha no testemunho dos católicos, são seus detratores que ficam sem palavras e todos nós, cristãos e não cristãos, temos uma chance maior de sermos felizes.

Que os mortos enterrem seus mortos

Sempre há, em todo lugar, pessoas boas e pessoas más. Sempre haverá – inclusive entre nós – aquele que não quer reconhecer nenhum testemunho, que insiste no ódio e no desprezo. São geralmente os mais barulhentos, mas não são os mais numerosos. Pelo contrário, são bem poucos. Se, no ano de 2021, nosso amor ao próximo puder ser mais explícito, se soubermos torná-lo mais visível, no Natal de 2021 haverá muito menos espaço para quem quiser ridicularizar a fé.

E aqueles que não querem reconhecer o testemunho do amor? Bem, esses, de certa forma, já estão mortos para o bem e para a beleza… E os mortos que enterrem seus mortos (cf. Mt 8, 22).

Tags:
CristianismoNatalPerseguição
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