Quando uma pessoa querida falece, somos invadidos por um sentimento de solidão e desconcerto. Ao pensar que algum dia vamos experimentar a morte, podemos também perder a paz.
Muitas perguntas vêm à nossa mente: o que acontece com os que morrem? Será que tudo vai acabar quando a pessoa morrer? Há algo nosso que sobrevive a este desenlace tão dramático? Voltaremos a nos reunir com aqueles a quem amamos? Que relação podemos ter com aqueles que estão ausentes fisicamente porque morreram?
Pois bem, a Bíblia, que contém a Palavra de Deus, nos dá repostas cheias de esperança. Apresentamos algumas reflexões a seguir e, no final, uma lista de versículos reconfortantes para quem está em luto:
1. Nem tudo acaba com a morte física
Nosso corpo perece, mas nossa alma, nosso espírito, não deixa de existir, pois é imortal.
O Livro da Sabedoria recorda que “Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem do seu próprio ser” (Sb 2, 23), dando-nos a conhecer que “as almas dos justos estão nas mãos de Deus e nenhum tormento as alcançará” (Sb 3, 1a).
E o autor sagrado continua: “Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça, e sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz!” (Sb 3, 2-3)
Isso está em plena harmonia com o que Jesus nos ensina no Novo Testamento, quando nos conta a parábola do homem rico e de Lázaro, o pobre (Lc 16, 19-30).
Também são contundentes as palavras de Jesus ao bom ladrão: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).
A morte é fonte de esperança para os cristãos, como recorda São Paulo: “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Mas, se o viver no corpo é útil para o meu trabalho, não sei então o que devo preferir. Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo – o que seria imensamente melhor” (Flp 1, 21-23).
2. Nossa relação com nossos familiares falecidos não termina
Levando em consideração que Deus não é Deus de mortos, mas de vivos (cf. Lc 20, 38), podemos dizer que nossa relação com os que faleceram nunca acaba.
Ainda que não possamos mais vê-los fisicamente, a Carta aos Hebreus nos ajuda a perceber uma realidade que vai além do que nossos olhos podem ver, pois nos diz que os heróis da fé que faleceram estão ao nosso redor, como uma nuvem (Hb 11. 12, 1).
A Carta aos Hebreus também nos diz:
“Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, da assembléia festiva dos primeiros inscritos no livro dos céus, e de Deus, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição, enfim, de Jesus, o mediador da Nova Aliança, e do sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel.” (Hb 12, 22-24)
Nós podemos pedir a Deus que nos conceda a graça de ser conscientes de que nossos entes queridos não nos abandonaram, pois nos cercam como uma nuvem (Hb 12, 1), indo muito além do que nossos sentidos podem perceber (2 Reis 6, 8-23).
“Na manhã seguinte, o homem de Deus, saindo fora, viu o exército que cercava a cidade com cavalos e carros. Seu servo disse-lhe: Ai, meu senhor! Que vamos fazer agora? Não temas, respondeu Eliseu; os que estão conosco são mais numerosos do que os que estão com eles. Orou Eliseu e disse: Senhor, abri-lhe os olhos, para que veja. O Senhor abriu os olhos do servo, e este viu o monte cheio de cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu” (2Re 6, 15-17)
Esta pode ser nossa oração: “Senhor, abre meus olhos para que possa perceber que meus entes queridos não morreram, não me abandonaram. Ajuda-me a crer que sua presença me envolve como uma nuvem. Senhor, abre meus olhos na fé!”.
Outra maneira de estar em comunhão com eles é por meio da oração de intercessão, como se pode ver o 2º Livro dos Macabeus:
“Puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar qualquer transgressão, ao ver diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por causa dos pecados. Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (2Mac 12, 42-46)
Para nós, o sacrifício por excelência é o sacrifício eucarístico, ou seja, a Missa; é nós podemos oferecer muitas missas pelos nossos entes queridos, para que seus pecados sejam perdoados (2 Mac 12, 46).
3. A morte física é transitória: ressuscitaremos!
A morte física é dolorosa. Nosso Senhor chorou ao saber da morte do seu amigo Lázaro (Jo 11, 35-36), a quem amava. Mas, diante do drama da morte de um ente querido, Jesus se apresenta a nós como a ressurreição e a vida (Jo 11, 1-44).
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto?” (Jo 11, 25-26)
Por isso, não há espaço para uma tristeza sem esperança:
“Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para que não vos entristeçais, como os outros homens que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morreram” (1Tes 4, 13-14)
Daí a importância que nós, católicos, damos à Missa, pois nela escutamos a Palavra de Deus e nos alimentamos do Corpo e Sangue de Cristo, o que nos permite estar unidos intimamente a Jesus e nos possibilita nossa futura ressurreição:
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim.” (Jo 6, 54-57)
4. Nós voltaremos a ver nossos entes queridos
É uma esperança que brota da Sagrada Escritura e um anseio que se encontra em nossos corações. A experiência dos sete irmãos e sua mãe, descrita no Livro dos Macabeus (2 Mac 7) serve de inspiração para nossa confiança:
“O rei mandou que a mãe se aproximasse e o exortasse com seus conselhos, para que o adolescente salvasse sua vida; como ele insistiu por muito tempo, ela consentiu em persuadir o filho. Inclinou-se sobre ele e, zombando do cruel tirano, disse-lhe na língua materna: Meu filho, compadece-te de tua mãe, que te trouxe nove meses no seio, que te amamentou durante três anos, que te nutriu, te conduziu e te educou até esta idade. Eu te suplico, meu filho, contempla o céu e a terra; reflete bem: tudo o que vês, Deus criou do nada, assim como todos os homens. Não temas, pois, este algoz, mas sê digno de teus irmãos e aceita a morte, para que no dia da misericórdia eu te encontre no meio deles” (2Mac 7, 26-29)
Como se pode ver, esta valente mãe tem a firme esperança de rever seus filhos no dia da misericórdia.