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Padre enfermeiro português volta a hospital para ajudar doentes de covid-19

Padre enfermeiro Rúben Figueiredo

O padre enfermeiro Rúben Figueiredo

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Reportagem local - publicado em 01/02/21
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Após 10 anos, o pe. Rúben retoma a antiga profissão com o desafio de ajudar espiritual e fisicamente os paroquianos e os doentesPadre enfermeiro português volta a hospital para ajudar doentes de covid-19: trata-se do pe. Rúben Figueiredo, que se voluntariou para trabalhar numa Estrutura de Apoio de Retaguarda (EAR), espécie de hospital de campanha que atende mais de 40 pessoas internadas em Fátima.

A estrutura recebe pacientes em isolamento de 10 dias em média. Após esse período, eles passam por novo teste de detecção do coronavírus. Se o resultado for negativo, recebem alta.

O pe. Rúben, que é da diocese de Santarém, vem trabalhando na EAR de Fátima desde 14 de dezembro. Ele declarou à Ecclesia, agência católica de notícias de Portugal:

“Neste contexto de pandemia, em que há imensa necessidade de enfermeiros e de profissionais de saúde, não resisti e estou na linha de frente (…) Temos passado momentos difíceis e de provação, com este aumento dos casos (…) Destaco sobretudo a confiança e a esperança. Vivemos tempos de medo, em que a gramática e o léxico é a morte, o sofrimento e a infeção; há muito esse registo e queria destacar a confiança no nosso Serviço Nacional de Saúde que, apesar de viver momentos complicados e complexos, tem conseguido dar resposta aos inúmeros casos e tem sido capaz de acompanhar, cuidar e tratar. Também, como cristãos, sabemos que Cristo está conosco, Cristo caminha conosco e se faz presente nestas horas. Como cristãos, temos que ter um olhar de fé e esperança, que é o que procuro ter”.

Padre enfermeiro português volta a hospital

O sacerdote se formou em enfermagem antes de iniciar sua formação em Teologia. Não exercia a profissão de enfermeiro desde 2011. No entanto, os profissionais da área são poucos diante da necessidade atual e, além de ajudá-los, o pe. Rúben vê a oportunidade de testemunhar a eles que a Igreja “não está de braços cruzados nem fechada a este sofrimento: e é bom verem que os padres estão disponíveis e vestem a camisa”. Ao mesmo tempo, a experiência atual tem sido para ele próprio um retorno ao aprendizado:

“Depois de 10 anos sem exercer, há coisas em que estou obrigado a formar-me, a ir novamente aos livros, técnicas, procedimentos, protocolos”.

Ele considera um privilégio estar em Fátima, residindo na Casa Nossa Senhora do Carmo e podendo manter uma “vida espiritual de acordo com o horário de trabalho”.

Como sacerdote, o pe. Rúben é pároco de nada menos que quatro paróquias: Chouto, Parreira, Ulme e Vale de Cavalos. Nessas comunidades, ele já vinha reforçando a importância dos cuidados sanitários como forma de amar o próximo:

“Mais do que serem recomendações, dizia que eram obrigações e, como cristãos, devemos ter esse sentido ainda mais presente. Insistia sempre com os cuidados da desinfecção, da distância social, e fazia sempre essa formação, educação, para a saúde”.

O pe. Rubén destaca ainda que, ao surgir a oportunidade de “colaborar nesta luta como enfermeiro”, ele recebeu “todo o apoio” do bispo de Santarém, dom José Traquina.

Além dos serviços na EAR de Fátima, o pe. Rúben também prestou acompanhamento ao pe. Fernando Campos da Silva, que, na semana passada, faleceu aos 91 anos de idade em decorrência da covid-19, em seu quarto na residência sacerdotal.

O pe. Rúben comenta:

“Foi um privilégio ter estado nos últimos instantes da vida dele. Estava de folga no fim de semana e ofereci-me para ir cuidar do padre Campos. No sábado, com o médico, fizemos a avaliação; ele esteve sempre lúcido, sempre muito colaborante na medicação, na alimentação, no internamento, sempre muito comprometido com as nossas tarefas e cuidado. Até que, por volta da 1 da manhã, enquanto tinha a tocar a Missa Solene de Mozart, enquanto tocava o Kyrie, ele muito serenamente morreu”.

Sobre a “peregrinação do pe. Campos na terra”, o sacerdote enfermeiro complementa:

“Foi muito rica e valiosa para a Igreja, para a cidade de Santarém e para tantos cristãos que o conheceram. Será sempre uma memória de alegria, de fé, de serviço, de dedicação. Éramos e fomos muito amigos. Ele gostava muito de poesia e sabia que eu também gostava e comprava alguns livros, lia-os primeiro e depois oferecia-me, e vice-versa. Fazíamos este intercâmbio de cultura e gostos”.

O falecido pe. Fernando Campos foi e é “uma referência muito grande” em sua trajetória vocacional, finaliza o pe. Rúben, que foi ordenado sacerdote em 16 de julho de 2017.



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