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Cristãos assassinados na Etiópia às centenas: uma tragédia atual

ETIOPIA
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Francisco Vêneto - publicado em 02/02/21
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Drama do massacre de cristãos no norte do país está passando praticamente em brancas nuvens na assim chamada “grande mídia”Cristãos assassinados na Etiópia às centenas: a tragédia atual que atinge a região de Tigré, na parte norte do país, está passando praticamente em brancas nuvens na assim chamada “grande mídia”, mas não escapa às atenções da Igreja.

Regina Lynch, gerente de projetos da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), tem denunciado o extermínio brutal de cristãos, tanto leigos quanto religiosos, na área de fronteira da Etiópia com o Sudão e a Eritreia.

Os cristãos locais, que seguem a Igreja Copta Ortodoxa Etíope, formam cerca de 95% da população dessa parte do país. A violência que os atinge, segundo a fundação pontifícia, não se deve à religião em si, mas a um conflito político intensificado após o adiamento das eleições parlamentares previstas para 29 de agosto de 2020.

Regina Lynch explicou:

“O partido nacionalista Frente Popular para a Libertação de Tigré (FPLT) organizou eleições regionais na região de Tigré no início de setembro, de forma independente, sem a permissão do governo central. Isto desencadeou uma crise política que levou a uma intervenção militar”.

Os combates explodiram quando o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou tropas federais à região, supostamente acompanhadas por tropas da vizinha Eritreia, para lutar contra a Frente Popular para a Libertação de Tigré (PFLT). De fato, uma das fontes da fundação pontifícia confirmou, “de modo anônimo, por medo de represálias”, que “o problema é o envolvimento de tropas da Eritreia desde o início; o governo etíope negou, mas quem está matando no leste e noroeste de Tigré são as tropas eritreias”.

Cristãos assassinados na Etiópia às centenas

De parte da fundação pontifícia, Regina Lynch prossegue:

“É quase impossível confirmar os números, mas recebemos informações sobre pessoas mortas por tropas eritreias em Irob, Zalambassa e Sebeya. Além disso, soube da morte de dezenas de pessoas, incluindo sacerdotes, assassinados numa igreja em Gietelo, em Gulemakada”.

Ela acrescenta que “centenas de cidadãos estão sendo assassinados” e que as tropas agressoras “destruíram e saquearam lojas, escolas, igrejas e conventos. Milhares de pessoas fugiram de suas casas. Muitos cruzaram a fronteira com o Sudão, mas outros procuraram refúgio em áreas remotas, nas montanhas, sem água e sem comida”.

Regina Lynch mencionou também o provável assassinato de 750 pessoas em novembro durante um ataque à igreja ortodoxa de Santa Maria de Sião (Maryam Tsiyon), em Axum, onde, segundo uma antiquíssima tradição etíope, foi guardada a Arca da Aliança.

“Não conseguimos verificar os dados exatos desse episódio, que seria um verdadeiro massacre. Atualmente não é possível viajar àquela região e as comunicações estão muito restritas, mas recebemos confirmações de uma longa série de assassinatos e ataques contra pessoas inocentes em muitas partes de Tigré e na região de Axum. A população está apavorada”.

Além disso, a fundação pontifícia denunciou que, em dezembro de 2020, outro massacre pode ter sido perpetrado na igreja de Maryam Dengelat, com mais de 100 pessoas assassinadas.

Situação alarmante e grande dificuldade de acesso à informação

A verificação dos números é quase impossibilitada pelo isolamento imposto à região:

“A situação no norte da Etiópia é alarmante. A comunicação é muito precária. A região ficou totalmente isolada do resto do mundo, sem internet nem telefone. As notícias que conseguem chegar até nós são terríveis. É um problema político, mas quem paga com a vida são os cidadãos, os civis. Precisamos aliviar o sofrimento de tantas pessoas e confortar os nossos irmãos cristãos, que estão isolados do mundo numa situação de angústia, ameaçados pela violência e pelo terror.

Mesmo sendo quase impossível neste momento acessar as informações, estamos procurando soluções para apoiar a igreja local. Pedimos que todos se unam nas orações por este país, pela sua Igreja e pelo seu povo”.



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