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O holocausto e o “vigiai e orai”

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FILIPPO MONTEFORTE / AFP

Vitor Roberto Pugliesi Marques - publicado em 12/02/21

As realidades da vida, de um modo geral, não acontecem de modo espalhafatoso; pelo contrário, nota-se que é de modo gradativo que vão acontecendo

Há alguns meses, um amigo emprestou-me um livro dentro da temática da segunda guerra mundial e do holocausto. Trata-se do livro “Maus”, um graphic novel (estilo de livro composto de bandas desenhadas) do cartunista norte-americano Art Spiegelman, escrito entre os anos de 1980 e 1991. 

No livro, o autor irá contar a história de seu pai, que foi um judeu polonês sobrevivente do holocausto. Para tanto, a composição seguiu um estilo metafórico, representando judeus como ratos, alemães como gatos e poloneses como porcos, mostrando a criatividade e o estilo pós-moderno únicos do autor. Por essa peculiaridade na composição, em 1992, o livro tornou-se o primeiro graphic novel a ganhar o prêmio Pulitzer, que é um respeitado prêmio norte-americano dado a trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical. 

Sendo a temática já bastante trabalhada nos séculos XX e XXI, algo inovador foi o escrito trazer a cotidianidade da época. Percebe-se com clareza que os valores antissemitas nazifascistas não foram anunciados de forma retumbante aos quatro ventos, mas foram sendo incorporados, de modo gradativo e homeopático, na população. Iniciou-se por uma perseguição periférica e modesta, evoluiu-se para a reclusão da população perseguida em guetos para que, em um segundo momento, viessem os campos de concentração. Assim, quando se percebeu, havia uma guerra instaurada e um programa altamente especializado e capilarizado de perseguição às populações “não arianas” da Europa, com especial destaque à população judaica. Esse dado histórico nos permite ilustrar um dos ensinamentos deixados por Nosso Senhor: o vigiai e orai.

Três paralelos

Quando vivenciou a suprema angústia, antes da crucificação, no jardim do Getsêmani, Nosso Senhor Jesus colocou-se em atitude de oração com uma tristeza verdadeiramente mortal (cf. Mt 26,38). Neste momento, exortou seus discípulos a manter vigia enquanto orava; todavia, em seu retorno, flagrou-os dormindo, oportunidade que usou para ensinar: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41). Ele estava falando sobre todos os acontecimentos que viriam a ocorrer com Ele. Seus discípulos já o acompanhavam há alguns anos e já tinham sido instruídos quanto à Boa Nova do Reino, mas o Mestre sabia que, diante dos acontecimentos vindouros, era preciso não deixar a fé se esvair e não deixar que a alma fosse tomada pela tentação. Com esse acontecimento cabal da vida de Jesus, ao menos três paralelos podem ser feitos com o que ocorreu no holocausto.

O primeiro ponto é o de que as realidades da vida, de um modo geral, não acontecem de modo espalhafatoso; pelo contrário, nota-se que é de modo gradativo que vão acontecendo. Um grande médico, advogado ou escritor não se fazem do dia para a noite, mas são fruto de uma rotina de dedicação e trabalho. Do mesmo modo, nossos vícios e paixões desordenados vão se instalando de modo devagar, e é preciso que percebamos seus “sinais” para trabalharmos contra eles, pois caso se tornem uma guerra em curso o processo de reversão certamente será muito mais doloroso e traumático. Os cristãos devem guardar o zelo pelas coisas de Deus a todo momento e não devem se deixarem tomar pelo “sono” diante fé. 

O segundo ponto é a preparação que temos de ter para os momentos difíceis da vida. Todo ser humano vai passar por situações que lhe causarão tristeza e angustia, seja, por exemplo, diante da morte inesperada de alguém ou seja por uma enfermidade que não aguardava. Para esses momentos temos de ter em nosso coração a fé pulsante no Deus Vivo, o qual nunca nos abandona e nos dá a força sobrenatural para fazer das mazelas da vida oportunidades de crescimento e discernimento. 

O terceiro ponto é saber que nenhuma realidade, por pior e cruel que seja, não durará para sempre, pois apenas Deus é eterno. Passar-se-ão céus e terra, mas a palavra de Deus não passará (cf. Mt 24,35). Prova viva disso é que a segunda guerra passou, deixou chagas grandiosas na história da humanidade, mas o escritor do livro soube fazer com que dessa realidade cruel se tirasse arte e aprendizagem. Recomendo a todos essa leitura e recomendo ainda mais a tirar dela paralelo com nossa vida prática para que possamos crescer cada vez mais enquanto seres humanos. 


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