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A Igreja Católica recomenda o Planejamento Natural Familiar?

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Rawpixel.com | Shutterstock

André Parreira - publicado em 19/02/21

O termo planejamento familiar não tem origem na doutrina católica

A expressão “planejamento familiar” começou a ser utilizada e promovida pelo Population Council (“Conselho Populacional”) na década de 1950. Essa ONG – fundada pelo bilionário americano John Rockfeller III junto a alguns outros magnatas e demógrafos – tinha como sua primeira missão convencer o governo americano de que o crescimento populacional em todo o mundo seria uma ameaça à segurança dos americanos.

Por isso, realizava pelo mundo inteiro campanhas intensas para que as famílias optassem por menos filhos. Além disso, financiavam pesquisas de métodos anticoncepcionais e faziam doações milionárias para que países pobres e populosos implementassem os métodos e demais politicas de controle populacional. Tudo isso era feito com o bonito viés de um necessário “planejamento familiar”. 

Assim, o termo planejamento familiar não tem origem em nossa doutrina e em nada reflete as suas orientações. É lamentável que a expressão “planejamento familiar natural” tenha ganhado espaço na Igreja Católica enquanto há outras expressões adequadas já utilizadas nos documentos magisteriais, como regulação da natalidade. Não basta ser natural (e estou certo que a maioria dos católicos não sabe o que significa ser natural, mas este é outro assunto) para dizer que está tudo bem. A ideia de se planejar precisa ser discutida.

Magistério

Nos documentos do Magistério não há qualquer sugestão para se fazer um planejamento do número de filhos. O que se diz é que “por razões justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos”(CIC2368). Não encontramos em texto algum a expressão planejamento familiar natural, nem verbos como “definir”, “delimitar” ou “planejar” o número de filhos. 

Muito menos encontraremos neles algo como “o casal pode parar de ter filhos quando…”. Todas as orientações da Igreja giram em torno de um espaçamento temporário, não definitivo e por razões muito justas. 

“Em relação às condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais, a paternidade responsável exerce-se tanto com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa, como com a decisão, tomada por motivos graves e com respeito pela lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento.” (cf. Humanae Vitae,10)

“Espaçar” ou “evitar” significa viver a fé de que uma impossibilidade de hoje, qualquer que seja, pode não mais existir dentro de alguns anos. É dar um espaço, um tempo, quando necessário for. E há grande diferença entre parar e espaçar. É possível espaçar os filhos por um, cinco, dez anos ou qualquer período de tempo. “Planejar”, por outro lado, supõe a pretensão de prever e controlar o futuro, “que a Deus pertence”, como diz o sábio ditado. É o que faz o casal que só quer dois filhos porque tem um lar com somente dois quartos ou porque acredita que só vai poder pagar a faculdade de dois no futuro. Assim, os casais acabam por planejar e viver os modelos familiares promovidos pelos maiores inimigos das famílias. Passam a idealizar a família como quem idealiza uma casa a ser construída. Dois meninos, duas meninas, um casal, uma única filha… 

Amor conjugal

Atualmente, fala-se em planejar tudo; o planejamento estratégico está em alta em todas as esferas profissionais e pessoais. Isso é bom. Também acreditamos que planejar é uma ação que facilita a vida e permite alcançar objetivos. No campo da geração da vida, porém, as coisas não são assim. Não se trata simplesmente de uma questão técnica, pois os filhos não são bens de capital ou de consumo. 

“Hoje está firmemente reconhecida a base científica dos métodos naturais de regulação da fertilidade. É útil o seu conhecimento; o seu emprego, quando existam causas justas, não deve permanecer mera técnica de comportamento, mas deve ser inserido na pedagogia e no processo de crescimento do amor. (cf .Evangelium Vitae, n. 97). 

A técnica deve estar a serviço do amor conjugal que é, naturalmente, fecundo. A eventual necessidade de evitar uma gravidez deveria ser sentida pelo casal como uma dor, um impedimento. Isso não é planejamento, mas é usar a inteligência e as técnicas disponíveis para tomar decisões necessárias. O Papa São Paulo VI não deixa dúvidas ao dizer que o recurso aos métodos naturais está condicionado a uma necessidade, ou seja, há um “se” bem explícito: 

“Se, portanto, existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições físicas ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias exteriores, a Igreja ensina que então é lícito ter em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradoras, para usar do matrimônio só nos períodos infecundos e, deste modo, regular a natalidade, sem ofender os princípios morais.” (cf. Humanae Vitae, 16) 

Duas vertentes

Usar os métodos naturais com a mentalidade de planejamento é uma atitude que comporta duas vertentes antagônicas. Se por um lado o casal busca a sintonia com o Criador ao recorrer à técnica recomendada, por outro, afasta-se dEle ao querer decidir tudo e não acredita na ajuda dEle para a criação dos filhos. Uma grande parte, talvez a maior, das familiais do nosso tempo não entende como o ato de colaborar com Deus na geração da vida é sagrado e acaba por condicionar a existência humana aos seus padrões de vida. Preferem não ter filhos a tê-los em condições mais austeras. 

Os pais precisam compreender a dignidade da abertura à ação de Deus, pois não somente permitem o nascimento de uma criança, mas de uma alma para adorar a Deus e povoar o céu. 

Para conhecer mais sobre este e outros temas relacionados à sexualidade, leia O Amor Celebrado:  a sexualidade na vida matrimonial em perguntas e respostas, André e Karina Parreira, Ed, Quadrante.


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