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A busca da Verdade em uma sociedade ideologicamente dividida

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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 21/11/21
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Para cada pessoa realmente sectária e mal-intencionada, temos várias pessoas bem-intencionadas e abertas ao diálogo

Quando observamos nossa sociedade atual, no Brasil e no mundo, percebemos que as divisões ideológicas parecem ter ganho uma dimensão nunca vista antes. De um modo ou de outro, sempre existiram algumas ideologias dominantes, “hegemônicas”, e outras subalternas, que não tinham reconhecido seu direito a se apresentar. Frequentemente, os momentos considerados “plurais” são aqueles em que uma ideologia subalterna ganha hegemonia. Seus seguidores não admitem que estão calando aos demais assim como foram calados no passado, então criam uma falsa imagem de que agora todos têm a mesma possibilidade de se exprimir.

Em alguns poucos momentos, como neste em que estamos hoje, ideologias dominantes perdem a legitimidade, mas as ideologias subalternas não conseguem se afirmar em seu lugar. Permanece então um conflito aberto, onde boas intenções, negacionismos e sectarismos podem ser encontrados em todas as facções que se opõem – algumas vezes de forma evidente; em outras, de forma velada.

Os impasses ideológicos não se mantêm apenas por um balanço aparentemente equilibrado de forças, mas também porque nenhum dos lados têm propostas reconhecidamente válidas e efetivas para superar as dificuldades. O capitalismo internacional e os Estados chamados “do bem-estar social” enfrentam uma crise há muitos anos, mas nenhuma proposta neoliberal ou socialista conseguiu responder de forma convincente aos problemas enfrentados. A liberalização dos costumes tem levado ao vazio existencial e à depressão, mas os valores da tradição não conseguem mostrar-se tão universais como deveriam ser.

Ideologia e verdade

Não podemos esquecer nunca de que as ideologias não são apenas “afirmações mentirosas”. A mentira tem pernas curtas, como diz o ditado popular. Ideologias se perpetuam porque têm alguma coisa de verdadeiro (nem que seja apenas o desejo de bem que estava na sua origem mais remota). Sobrevivem porque seu seguidores se fixam nesse lado verdadeiro e fecham os olhos aos seus erros e mentiras.

Todos somos ideológicos em algumas coisas. Só Deus tem a verdade absoluta sobre todas as coisas. Numa analogia com o pensamento do Papa Francisco, podemos dizer que todos estamos sujeitos à ideologia, mas o ideólogo é aquele que se acomoda a ela, passando a transmiti-la sem se preocupar em descobrir a Verdade (o Papa explica que todos somos pecadores, mas o corrupto – à semelhança do ideólogo – se regozija com o pecado e com as vantagens que pode obter dele).

As ideologias vão sendo superadas (nunca definitivamente eliminadas) com nosso esforço contínuo para encontrarmos a Verdade última e as muitas pequenas verdades do cotidiano. Nesse trabalho, o diálogo se torna um dos mais eficientes instrumentos de luta contra as ideologias. Ao escutarmos quem pensa diferente, descobrimos as falhas de nossos pensamentos e, se estamos realmente comprometidos com a Verdade, reformulamos nossas ideias, para que se tornem mais correspondentes à realidade.

Na luta pelo poder, um se considera vencedor quando obriga o outro a aceitar suas ideias. Mas, no “bom combate” ao qual alude São Paulo (2Ti 4, 7), a luta pela fé, pelo bem e pela posse do próprio coração, ganha aquele que aprende no encontro com o outro e descobre mais sobre a Verdade. Muitas vezes teremos que reconhecer que existem coisas boas e certas nas ideias dos outros, mas isso não nos ameaça porque, ao reconhecer esses acertos do outro, passamos a compreender melhor também a Verdade última que já habita nossos corações.

O perigo das imagens falsas e preconceituosas

Imagens preconceituosas são ameaças contínuas ao diálogo. Acreditamos que os outros são maus, sectários e usarão a possibilidade do diálogo para nos sufocar com suas ideologias. Contudo, o mais frequente é que essa imagem seja falsa. Normalmente, para cada pessoa realmente sectária e mal-intencionada, temos várias pessoas bem-intencionadas e abertas ao diálogo – desde que descubramos os caminhos adequados para o entendimento mútuo. Com frequência, a “má intenção” é um engano causado pela falta (em ambas as partes) de uma comunicação adequada da verdade.

Vamos a alguns exemplos bem polêmicos. Defender os direitos dos homossexuais a terem uma vida digna não significa apoiar a ideologia de gênero (que poderíamos entender, grosseiramente, como apologia ao homossexualismo). Pedir que os criminosos não fiquem impunes é muito diferente de defender a truculência policial. Mas, em função de estereótipos preconceituosos, muitas vezes acreditamos que a pessoa que defendeu uma coisa também defende a outra.

O resultado dessa confusão preconceituosa é que não nos entendemos, nem nos corrigimos. Com isso, pessoas realmente mal-intencionadas conseguem nos influenciar e nos fechar tanto ao diálogo quanto à Verdade. Com certeza é possível respeitar a dignidade dos homossexuais sem fazer apologia do homossexualismo, praticar a justiça e condenar os culpados sem que a polícia seja truculenta. Mas só no diálogo iremos compreender por que tais ideias parecem atualmente em oposição – e encontrarmos as alternativas adequadas para que as verdades procuradas por todos os bem-intencionados prevaleçam.

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