Grandes organizações supranacionais propõem um “reinício” drástico no pós-pandemia, mas cabe Deus na “nova humanidade” globalista?“Grande Reset” globalista é denunciado e contestado pelo arcebispo da Cracóvia, dom Marek Jędraszewski. Em sermão no dia 24 de fevereiro, o prelado polonês comentou a proposta do Fórum Econômico Mundial (FEM) de “reprogramar” o mundo e reconstruí-lo econômica e socialmente após a pandemia de covid-19 que está devastando países há mais de um ano.
O arcebispo falou especificamente do livro “Covid 19: O Grande Reset“, publicado por Klaus Schwab, presidente do Fórum Econômico Mundial.
“Grande Reset” globalista
O termo inglês “reset” foi popularizado há décadas na sua acepção de funcionalidade informática: trata-se de um botão dos computadores que serve para desligá-los abruptamente e religá-los quando ocorre alguma falha no sistema operacional. Aplicado ao contexto pós-pandemia, o termo evoca a necessidade de “reiniciar” o “funcionamento” do mundo de forma drástica.
O problema é que tipo de mudança drástica se pretende realizar.
O cardeal alemão Gerhard Müller já alertou que uma brusca redefinição das sociedades humanas prescindindo de Deus criará os mesmos monstros já criados em tentativas anteriores semelhantes, como foi o caso do comunismo e do nazismo. Ele analisou as movimentações das atuais forças globais dominantes e se disse preocupado com a formatação de um novo “capital-socialismo”. Entre essas forças não há somente regimes de governo como o da China comunista, mas também as poderosas influências de organizações hipercapitalistas como as “Big Tech”. Na visão do cardeal alemão, a enigmática aliança entre essas forças dominantes implementa um “novo colonialismo” de alcance global, com preocupante restrição às liberdades.
Um “reset” alicerçado em Cristo
Dom Jędraszewski, por sua vez, propõe que haja, sim, um “Grande Reset”, mas alicerçado em Cristo, o único que realmente é capaz de transformar profundamente cada ser humano:
“É em Cristo que devemos conquistar um ‘Grande Reset’, uma grande renovação e reordenação da nossa vida”.
Ele evocou o exemplo bíblico de Nínive, cidade que implementou um genuíno “reset”, intermediado pelo profeta Jonas, depois de ouvir as graves advertências da ira divina:
“Os habitantes de Nínive acreditaram em Jonas. E todos, do caçula ao mais velho, jejuaram e fizeram penitência. E Deus respondeu ao ‘reset’ coletivo do povo de Nínive mudando o seu plano original para a cidade. Foi uma grande nova realidade, uma nova forma de vida, graças à pregação de Jonas, na qual os habitantes de Nínive acreditaram”.
O “grande reset” sem Deus
A humanidade certamente precisa “recomeçar”, mas o erro do “reset” proposto por Klaus Schwab é que ele rascunha uma suposta renovação da humanidade sem nenhuma referência a Deus.
O arcebispo questiona:
“Onde há lugar para Deus aqui? Como é que se pode falar de um novo homem e de um novo mundo sem fazer referência a Deus? O enorme trabalho de várias centenas de páginas só se refere uma única vez à religião. Não menciona a transcendência, não menciona a Deus. Fala, porém, de uma ‘Mãe Natureza’ indefinida, escrita em iniciais maiúsculas”.
Dom Jędraszewski citou o historiador Grzegorz Kucharczyk, também polonês, para ressaltar a oposição que existe entre o globalismo laicista e o cristianismo:
“Os globalistas estão tentando se aproveitar da pandemia do coronavírus para desvalorizar tudo o que o cristianismo contribuiu para realizar durante quase 2.000 anos e continua contribuindo para o bem da humanidade”.
Falta de fundamentos do “grande reset” globalista
O arcebispo também mencionou o professor italiano Renato Cristin, da Universidade de Trieste, para observar sobre o trabalho de Schwab:
“Carece de ideias claras e certas. Não há fundamentos lá. Não há fundamentos para construir o futuro. Em vez disso, há um convite para uma confusão generalizada. O livro compartilha o caos que afeta o mundo ocidental contemporâneo. É uma manifestação do secularismo niilista e um caminho direto para a descristianização da sociedade”.
Contraproposta: a antropologia cristã
Como contraproposta, dom Jędraszewski evoca a antropologia cristã, impulsionada com força pelo Papa São João Paulo II:
“Escancarem as portas para Cristo! As portas do seu coração e da sua mente, mas também de todos os sistemas políticos, sociais e econômicos, porque só Cristo sabe o que se esconde no coração de um ser humano”.
Por fim, o arcebispo de Cracóvia convida os católicos a implementarem já este recomeço, aproveitando a graça da Quaresma:
“Este é um tempo santo, no qual devemos renovar a nossa relação com Deus orando a Ele como nosso Senhor nos ensinou: Pai nosso! Venha a nós o vosso Reino! Seja feita a vossa vontade! O pão nosso de cada dia nos dai hoje!”.
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