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“Hospital de campanha” inativo, caos e silêncio omisso?

Restrições à Missa durante pandemia de covid-19

Pascal Deloche I Godong

Vanderlei de Lima - publicado em 17/03/21

Na cabeça de alguns, a culpa pela disseminação do vírus é apenas do humilde funcionário da lojinha, apesar deste seguir todos os protocolos sanitários, assim como o seguem os templos religiosos

Desejo refletir, aqui, sobre parte da lógica do caos reinante na pandemia da Covid-19 que estamos vivenciando.

Antes de mais nada, permita-me explicar o que entendo por lógica do caos, dado que ambos os termos parecem se excluir mutuamente. Sim, a lógica é a disciplina do reto pensar. Ora, quem pensa corretamente coloca as coisas em ordem. Já por caos entende-se a desordem, a confusão. Daí, parecer estranho falar em lógica do caos. No entanto, ela existe. Com efeito, quando determinado caos surge para prejudicar mais a uns do que a outros, tudo leva a crer que ele obedece a uma lógica bem arquitetada; do contrário, sairia do controle e prejudicaria até quem dele tenta, de algum modo, se beneficiar. 

Afinal, você já viu o alfabeto jogado sobre a mesa formar um texto? Se não viu, vá um pouco além e tente pensar que toda essa perseguição religiosa reinante, a quebradeira econômica crescente, a estranha sanfona que se abre nas eleições, mas se fecha no Natal e na Páscoa, o distanciamento social que existe nos terminais rodoviários ou nas estações de metrô, mas deixa de valer no interior do circular ou do trem onde as pessoas se espremem nos assentos ou em pé etc. É tudo muito estranho, não? Mais: algum dia, você viu a aglomeração da vergonhosa Cracolândia (cidade do crack) deixar de funcionar? Viu os bailes funks, com muita bebida e drogas ilícitas, em quarentena? 

Ainda: lembra-se de que, antes da Copa do Mundo, dizia-se que não se faz Copa com hospitais? E agora, cuida-se da população – nos serviços de saúde pública, que, salvo raras exceções, sempre deixaram a desejar –, nos estádios padrão Fifa? Que fizeram, fazem ou farão a União, o Estado e o Município: Apenas culparão o povo? Jogarão a bomba uns nas mãos dos outros? Baixarão os altíssimos e muitíssimos impostos que pagamos? – Óbvio é que se grande parte dos políticos profissionais (com seus salários nada modestos), de fato, pensassem no povo, fariam isso, pois se o dinheiro não entra (o comércio está fechado), como vai sair para quitar as dívidas desses dignos trabalhadores? 

Todavia, na cabeça de alguns, a culpa pela disseminação do vírus é apenas do humilde funcionário da lojinha, apesar deste seguir todos os protocolos sanitários, assim como o seguem os templos religiosos. Entretanto, são estes que têm de fechar, pois alguém, em sua lógica do caos, decidiu que não são essenciais. Pois bem, por falar em templos, é de se lembrar o que o Santo Padre, o Papa Francisco, disse, em 06/03/2014: “Hoje podemos pensar a Igreja como um hospital de campanha… Necessita-se de curar feridas. Há muita gente ferida, por problemas materiais, por escândalos, inclusive na Igreja… gente ferida pelas falácias do mundo… Nós sacerdotes devemos estar ali, perto dessa gente. Misericórdia significa antes de tudo curar as feridas… e há também feridas ocultas, porque pessoas se afastam para não as mostrar. Querem manifestação de carinho. E vós – queridos irmãos – lhes pergunto –, conheceis as feridas de vossos semelhantes? As intuís? Estais próximos delas? Esta é a única pergunta”. Mas… a igreja, esse “hospital de campanha” físico, se fechou ou, caso esteja aberta, não pode celebrar a Santa Missa nem, por conseguinte, distribuir a Sagrada Eucaristia, alimento da alma. Você já viu – que contradição! – um hospital de campanha que não funciona em tempo de guerra? Se os abnegados médicos do corpo também colocassem a Medicina entre parênteses como faz, infelizmente, com a Eucaristia, grande parte dos médicos de alma, que faríamos? 

Por fim, ante tantos desmandos – até ditatoriais – de alguns governantes, é de se perguntar onde estão os representantes do povo? Também, enquanto católico, cabe, respeitosamente, indagar: por que a CNBB, sempre tão atuante na realidade nacional, nada fala nem questiona exigindo dos governos federal, estaduais e municipais ao menos a prestação séria das contas com a pandemia?

Quanto lucra a lógica do caos nesta hora do poder das trevas (cf. Lc 22,53) na qual o ímpio parece dizer, uma vez mais: Não há Deus, Deus não existe (cf. Sl 14,1; 53,2)? 




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