São José é “particularmente apto a nos ajudar neste tempo de viroses” porque viveu “de espanto em espanto”, afirma sacerdoteOs sustos e surpresas de São José, um “santo em espanto permanente”, foram o tema de um instigante texto assinado pelo pe. Gonçalo Miller Guerra, sj, no portal Ponto SJ, mantido pelos jesuítas em Portugal. Publicado neste 19 de março com o título “José, um santo em espanto permanente”, o texto do sacerdote jesuíta propõe que São José é “particularmente bem adaptado para nos ajudar neste tempo de viroses”, porque ele próprio viveu “de surpresa em surpresa, de espanto em espanto”.
Surpresas e espantos com Maria
Um dos primeiros desses espantos foi a gravidez de sua noiva, Maria, e o compreensível choque de José ao saber dessa notícia. O Evangelho nos informa que ele resolveu deixá-la de maneira discreta e silenciosa “porque era justo” – o que quer dizer que ele quis poupá-la das humilhações públicas e, principalmente, do risco de que o povo enfurecido chegasse a matá-la apedrejada, como costumava ocorrer às mulheres publicamente tachadas de adúlteras.
José, observa o pe. Gonçalo, “deve ter meditado e rezado com muito sofrimento sobre a gravidez de Maria”, até que nova surpresa o espantasse: a revelação, em sonho, de que o filho de Maria era fruto da ação do Espírito Santo. Eles devem ter conversado sobre o que iria significar, nas suas vidas, o fato de que aquele menino era o Filho de Deus. Quantas perguntas não se terão feito?
Surpresas e espantos com Jesus
Veio ainda a surpresa de precisarem viajar a Belém para um recenseamento justo quando Nossa Senhora já estava no final da gravidez. Dentro desta surpresa, mais uma: a de que o Filho de Deus teria de nascer num estábulo, em meio à sujeira própria dos animais. E as surpresas só estavam no começo.
Quem veio adorar a Deus feito homem? Autoridades religiosas? Autoridades políticas? Não. O pe. Gonçalo chama as atenções para o fato não só de que os que vieram foram os pastores, mas principalmente para quem eles eram: miseráveis trabalhadores braçais, cujo isolamento nas pastagens, fora dos muros das cidades, causavam certa repulsa, medo e suspeição.
Mas, para aumentar o espanto de José e Maria, também vieram os anjos e aqueles três reis do Oriente, com presentes próprios da divindade e da realeza.
O pe. Gonçalo prossegue a sua reflexão sobre os espantos de São José recordando uma “profecia que os deixou perplexos:” aquele Menino, que salvaria a humanidade, seria “causa de queda de muitos” e, em decorrência da Sua vinda, “uma espada atravessaria o coração de Maria”. São Lucas, observa o padre, afirma que eles ficaram “admirados”, mas essa “admiração” englobava “todo um conjunto de interrogações e sentimentos”.
O que se passaria pela cabeça de São José, que devia ter por volta de 18 anos, e de Nossa Senhora, ainda adolescente?
Os sustos e surpresas de São José, um “santo em espanto permanente”
Os espantos não pareciam terminar. Que dizer do horror da perseguição de Herodes, que os obrigou a fugir para o Egito cruzando o temível deserto da Idumeia durante sabe-se lá quantas noites e dias de medo e agonia? Que pensar do estilo de vida que encontraram no Egito, uma terra de cultos pagãos perturbadoramente fúnebres?
E quando se perderam de Jesus no templo, que drama não devem ter vivido? Foram três dias de angústia e, acrescenta o pe. Gonçalo, “de um grande sentimento de culpa”. E o que podem ter entendido da espantosa resposta de Jesus, que declarou ter de ocupar-se “das coisas do Pai”? Maria, diz o Evangelho, “meditava todas estas coisas no coração”, mas “é perfeitamente lícito pensar que também as conversava com José”.
O pe. Gonçalo finaliza a sua reflexão comparando a trajetória de São José, “de surpresa em surpresa, de espanto em espanto”, com a nossa atual trajetória em meio à pandemia da covid-19: “de surpresa em surpresa, de inquietação em inquietação”… Mas, acrescenta ele, “firmes na fé”.
O sacerdote nos exorta:
“Peçamos a São José a graça da certeza de que Deus está sempre conosco em todos os momentos, para podermos dizer com o salmista: ‘Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo’ (Salmo 23, 4)”.
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