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Espanha aprova eutanásia, mas Igreja reafirma: “é crime e ponto final”

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Francisco Vêneto - publicado em 23/03/21

Incurável é uma coisa; "incuidável" é outra, recorda a doutrina católica

Espanha aprova eutanásia: esta funesta derrota da cultura da vida foi comentada pelo cardeal arcebispo de Valência, dom Antônio Cañizares Llovera, em sua homilia do dia 19 de março, festa de São José:

“São José é o patrono da boa morte e nos abre à esperança, apesar de ontem ter sido dia de luto pela aprovação da lei da eutanásia. Uma lei indigna contra a vida, contra a liberdade; lei do medo que semeia desânimo e desespero. Que decepção ver deputados batendo palmas, em pé! Uma derrota para o homem. A Espanha esteve ontem coberta de luto e lágrimas. Os políticos devem estar a serviço do bem comum e não das ideologias. É preciso reagir positivamente, afirmando a vida e a família, como São José, que está onde está a esperança”.

Portugal também está às voltas com a aprovação da mesma lei, que passou pelo parlamento e chegou a ser vetada pelo presidente da República, mas ainda não foi descartada de modo definitivo.

Espanha aprova eutanásia, mas Igreja reafirma: “é crime e ponto final”

Enquanto os supostos representantes do povo ignoram a maioria da população de suas nações e insistem em levar adiante legislações contrárias aos valores de sua gente, a Igreja tem reiterado com clareza e firmeza que a eutanásia é assassinato.

Em 22 de setembro de 2020, a Congregação vaticana para a Doutrina da Fé publicou oficialmente a carta “Samaritanus bonus“, que já tinha sido aprovada pessoalmente pelo Papa Francisco em junho daquele mesmo ano. O texto reafirma o não definitivo da Igreja a todas as formas de eutanásia e de suicídio assistido, enfatizando que “doença incurável não é jamais sinônimo de incuidável”: um doente em fase terminal e um bebê com expectativa de sobrevivência limitada têm o direito de ser cuidados e cercados de afeto em vez de serem eliminados.

O documento, cujo tema é o cuidado das pessoas nas fases críticas e terminais da vida, afirma com todas as letras: “a eutanásia é um crime contra a vida humana” e “qualquer cooperação formal ou material imediata com tal ato é um pecado grave” que nenhuma autoridade “pode legitimamente” impor ou permitir.

Embora não traga nenhuma novidade em relação à postura já manifestada muitas vezes pela Igreja, o documento se mostra muito necessário no atual panorama de intenso ativismo pró-eutanásia e pró-suicídio assistido não só para pessoas gravemente doentes, mas até para pessoas saudáveis que alegam sofrimentos psicológicos que lhes tiram a vontade de viver.

Esse ativismo tem levado diversos países a alterarem a sua legislação para permitir a eutanásia e o suicídio assistido como “direitos” – embora não faltem casos em que a justiça tenha imposto a aplicação da eutanásia mesmo perante o arrependimento do enfermo que havia solicitado esse recurso num momento de desespero, ou em casos de bebês cujos pais ainda queriam lutar por tratamentos experimentais ou pelo menos paliativos, mas que receberam sentença de morte de magistrados que se arrogaram a inexistente prerrogativa de atropelar o direito de decisão parental em prol dos próprios filhos. Casos emblemáticos que indignaram o mundo recentemente foram os dos bebês Alfie Evans e Charlie Gard, ambos do Reino Unido.


Alfie Papa Francisco

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Incurável é uma coisa; “incuidável” é outra

O objetivo da carta vaticana é fornecer indicações concretas para atualizar a mensagem do Bom Samaritano: até mesmo quando “a cura é impossível ou improvável, o acompanhamento médico, psicológico e espiritual é um dever imprescindível, já que o oposto constituiria o desumano abandono do doente”.

São evocadas as palavras de São João Paulo II que resumem a diretriz cristã: “curar se for possível, cuidar sempre”.

Essa instrução quer dizer que “incurável” não é jamais sinônimo de “incuidável”. Estar com o doente e acompanhá-lo cuidadosamente até o fim, fazendo-o sentir-se amado, pode evitar a solidão, o medo do sofrimento e da morte e o desânimo, elementos que estão entre as principais causas dos pedidos de eutanásia ou de suicídio assistido. O documento vaticano observa, aliás, que “são frequentes os abusos denunciados pelos próprios médicos pela supressão da vida de pessoas que jamais teriam desejado para si a aplicação da eutanásia”.

Todo o texto ressalta o sentido da dor e do sofrimento à luz do Evangelho e do sacrifício de Jesus: “a dor só é suportável existencialmente onde há esperança”, e a esperança que Cristo transmite ao sofredor e ao doente “é a da Sua presença, da Sua real proximidade”. Os cuidados paliativos não bastam “se não há ninguém que ‘esteja’ com o doente e lhe testemunhe o seu valor único e irrepetível”.


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