Aleteia logoAleteia logoAleteia
Quinta-feira 07 Dezembro |
São Ambrósio
Aleteia logo
Religião
separateurCreated with Sketch.

O mal é um buraco na camisa: não existe, mas existe

Mal

Danilov1991xxx | Shutterstock

Francisco Vêneto - publicado em 23/03/21

A humanidade não sabe definir o que é o mal, mas alguns exemplos talvez ajudem a refletir a respeito

O mal é um buraco na camisa: não existe, mas existe. Este exemplo pode parecer esdrúxulo, mas não é que existam outros muito melhores. A humanidade, afinal, não sabe definir o que é o mal, embora não tenham faltado tentativas.

Uma dessas tentativas é a de entender o mal como uma força oposta ao bem. Deste ponto de vista, o mal teria existência própria. Existiriam, assim, duas forças em contínua oposição: uma boa e a outra má. Esta é, grosso modo, a visão proposta pelo maniqueísmo.

Superando o maniqueísmo

Santo Agostinho chegou a ser adepto desta visão durante parte da sua juventude, mas, com o passar do tempo e com as aparas da reflexão, acabou mudando de ideia. Passou a considerar que o mal não pode ser um ente em si mesmo, porque Deus não teria criado o mal. O mal, portanto, não pode ser uma força autônoma porque não pode ser “algo” que exista em si: para Santo Agostinho, o que chamamos de mal é a própria ausência do bem que poderia ou deveria estar presente.

A morte é ausência de vida. As trevas são ausência de luz. Os vícios são ausência de virtude. E essa ausência não é absoluta: onde há vício pode vir a haver virtude; onde há trevas pode passar a haver luz; onde há morte pode voltar a haver vida.

O mal não é um ente em si mesmo

A perspetiva de que o mal não existe em si mesmo, mas sim como ausência de bem, já remonta a Platão, que falava das imperfeições deste mundo transitório em relação a um mundo ideal e perfeito, do qual seríamos apenas sombras desajeitadas. Retomando alguns lampejos dessa teoria, Santo Agostinho veio a concordar com o fato de que o mal não tem existência própria: não é um ente, não é uma criatura. O mal é a falta de um bem que deveria ou poderia estar presente em outro ente, mas não está.

E isto se aplica à própria personificação do mal conforme entendida no âmbito cristão: as criaturas más só existem porque optaram por rejeitar o bem; ou seja, elas se tornaram más apesar de poderem ou deverem ser boas; não foram criadas más, nem existiram desde sempre como más em si mesmas. O diabo, no cristianismo, existe não como metáfora do mal absoluto, porque o mal não existe como ente em si: o diabo existe porque é uma criatura que Deus fez boa e livre, mas que, livremente, optou por desprezar o bem, rejeitando o próprio Deus e causando a si mesma a eterna lacuna do bem.

Nada disto quer dizer que o mal “não exista”: ele “existe”, sim, mas entre aspas, pois “existe” precisamente como “ausência de bem”. A morte existe porque a ausência de vida é um fato existente: é a lacuna deixada pela falta da vida que poderia estar presente. As trevas existem porque a ausência de luz é um fato existente: é a lacuna deixada pela falta da luz que poderia estar presente. Essa ausência não é algo que possua existência própria, já que é uma não-presença, mas, ao mesmo tempo, “existe” a lacuna causada por essa não-presença; existe o efeito da ausência do bem que poderia ou deveria estar presente.

O mal é um buraco na camisa

É como um buraco na camisa: trata-se, em suma, da ausência de tecido. O buraco, em si mesmo, não é “algo”: é a própria inexistência de algo que deveria estar ali. Mas, ao mesmo tempo, o buraco “existe” – não como um ser com existência própria, mas como a lacuna do tecido que poderia ou deveria estar presente.




Leia também:
Alma e espírito são a mesma coisa?

Tags:
DoutrinaFilosofiaMal
Apoiar a Aleteia

Se você está lendo este artigo, é exatamente graças a sua generosidade e a de muitas outras pessoas como você, que tornam possível o projeto de evangelização da Aleteia. Aqui estão alguns números:

  • 20 milhões de usuários no mundo leem a Aleteia.org todos os meses.
  • Aleteia é publicada diariamente em sete idiomas: inglês, francês,  italiano, espanhol, português, polonês e esloveno
  • Todo mês, nossos leitores acessam mais de 50 milhões de páginas na Aleteia.
  • 4 milhões de pessoas seguem a Aleteia nas redes sociais.
  • A cada mês, nós publicamos 2.450 artigos e cerca de 40 vídeos.
  • Todo esse trabalho é realizado por 60 pessoas que trabalham em tempo integral, além de aproximadamente 400 outros colaboradores (articulistas, jornalistas, tradutores, fotógrafos…).

Como você pode imaginar, por trás desses números há um grande esforço. Precisamos do seu apoio para que possamos continuar oferecendo este serviço de evangelização a todos, independentemente de onde eles moram ou do quanto possam pagar.

Apoie Aleteia a partir de apenas $ 1 - leva apenas um minuto. Obrigado!

PT300x250.gif
Oração do dia
Festividade do dia





Envie suas intenções de oração à nossa rede de mosteiros


Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia