Se eu vir dois restaurantes lado a lado, mas um tiver mais carros no estacionamento, vou para o que tem mais carros. Fico facilmente convencido de que, se todo mundo está lá, aquele deve ser o lugar certo para comer. De certa forma, a popularidade de um restaurante é uma profecia autorrealizável: uma multidão se forma porque todos vão para lá, e estamos todos lá porque uma multidão está lá.
Nossa suscetibilidade de fazer o que todo mundo está fazendo começa cedo. Por exemplo, se minha filha vir o irmão com um sanduíche de pasta de amendoim e geleia, ela também vai querer um. Ela nem está com fome. Ela nem gosta de sanduíches de pasta de amendoim e geleia. Mas ela quer ser incluída no grupo. Então ela pega o sanduíche, dá uma mordida e o desperdiça. No dia seguinte, ela exigirá mais uma vez um sanduíche de pasta de amendoim e geleia. Essa é, portanto, a raiz do que nos torna suscetíveis a uma multidão.
Multidão e danos reais
Você e eu provavelmente fizemos parte de uma multidão. Com isso, não quero dizer que marchamos pelas ruas gritando slogans e ameaçando fazer motins ou praticar violência. Hoje em dia, a multidão tende a estar online, mas os danos são reais.
A máfia da Internet faz com que as pessoas sejam demitidas de empregos, destrói amizades, lança injúrias e vergonha pública, por exemplo. Isso leva as pessoas a escolhas irracionais e ao medo com base em nenhuma evidência. Apesar disso, nosso desejo de nos encaixar é tão arraigado que rapidamente nos adaptamos às tendências que vemos em nossos feeds de mídia social.
A lição do Domingo de Ramos
A leitura do Evangelho no Domingo de Ramos reconhece nossa suscetibilidade de nos tornarmos parte de uma multidão. Você deve ter notado como todos nós nos unimos para servir de bode expiatório e crucificar Cristo. É um reconhecimento de que seguir a multidão pode ter resultados terríveis, e até mesmo o melhor de nós caiu na armadilha.
Na multidão, quem fala mais alto e mais persistentemente influencia nossos pensamentos em um grau chocante. Os humanos são criaturas sociais, então naturalmente queremos ser agradáveis. É mais fácil, mais seguro e menos barulhento. Podemos até ter uma crença totalmente contrária em privado, mas estamos condicionados a pensar que estamos errados porque ninguém mais na multidão compartilha de nossa opinião. Não queremos ficar isolados, então enterramos a crença ofensiva.
Grupos e mentalidade coletiva
É por essa dinâmica que grupos grandes realizam menos do que grupos pequenos. Em grupos grandes, a mentalidade coletiva assume o processo de tomada de decisão e o envolvimento individual diminui. As melhores decisões, as mais racionais, só acontecem após uma audiência justa das ideias. Em grupos muito grandes, essa comunicação é prejudicada porque todos têm a impressão de que todos já compartilham a opinião do grande grupo. O pensamento inovador desaparece porque, em uma multidão, é mais seguro se esconder do que chamar a atenção para si mesmo.
Os resultados desse tipo de tomada de decisão são desastrosos. À medida que o engajamento pessoal despenca, os indivíduos assumem cada vez menos responsabilidades. Livres dessa responsabilidade, as conclusões do grupo geral tornam-se mais extremas e irracionais. As inibições desaparecem, fazendo-nos concordar em falar e agir de maneiras que nunca faríamos por conta própria. Abandonamos nossos princípios e adotamos os princípios do grupo.
Todos os dias, somos expostos à mentalidade do grupo. Mas como resistir a sermos varridos pela irracionalidade da multidão? Aqui estão alguns pontos:
Saiba quem você é
Estar em uma multidão é emocionante. Faz com que nos sintamos invisíveis e, ao mesmo tempo, influentes. Podemos fazer parte da multidão e, ao mesmo tempo, saber que não seremos responsabilizados por nossas ações. Esta é uma barganha com o diabo, exigindo que ignoremos nossas consciências individuais. É muito melhor passar um tempo refletindo e desenvolvendo um autoconhecimento preciso. Conheça-se à parte da multidão e tenha confiança em sua identidade.
Não se intimide por ser diferente
Todos nós devemos seguir nossa própria consciência. Não podemos dar essa responsabilidade a outros. Eu sei que, na minha vida, eu agi e falei de certas maneiras que eram erradas porque todo mundo estava fazendo isso. No final, porém, percebi que sou responsável por minhas próprias ações. Sem desculpas. Tenho que viver comigo mesmo – e preferiria fazer isso com integridade! Então, se isso me leva a ser diferente da multidão às vezes, que seja.
Faça uma pausa
As reações emocionais são instantâneas. A indignação, o medo e a raiva rapidamente se espalham pelas multidões. Como indivíduos, é uma ideia sábia esperar que nossas emoções se acalmem, considerar algumas opiniões razoáveis e, em seguida, tomar uma decisão racional.
Não deixe o grupo intimidar você
Anunciantes, políticos e influenciadores sociais entendem que podem usar seu poder para controlar uma multidão. Isso pode se tornar uma forma de bullying que usa o medo, a vergonha e a pressão dos colegas. Assim que vemos o que é e paramos de participar, como qualquer tática de intimidação, a multidão perde o controle sobre nós.
Enfim, o Evangelho do Domingo de Ramos, é bem claro que a multidão tem uma força destrutiva. Não temos que nos juntar. Este não é o caminho mais fácil – às vezes isso nos coloca em conflito com a maioria – mas é o caminho que leva à integridade, tomada de decisão racional e crescimento pessoal.

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