Quando estudamos o corpo humano, uma das coisas com a qual nos deparamos é a perfeição com que tudo foi arquitetado. Não há uma aleatoriedade leviana, mas sim uma concatenação de leis e comandos que é difícil achar quem não se admire com isso. Podemos dizer ainda que, além de perfeitamente lógicas, as leis do corpo humano são perfeitamente hierarquizadas. Sim, em grande parte dos sistemas orgânicos, há um comando superior que influencia sequencialmente outras estruturas em uma cadeia perfeitamente estabelecida, formando o que se chama de homeostase, ou seja, a perfeita harmonia de tudo.
Coração
Para citar alguns exemplos, podemos iniciar com o entendimento da atividade elétrica do coração. O chamado marca-passo natural é composto por células especializadas em gerar impulsos elétricos capazes de contrair, de forma coordenada, as fibras cardíacas com a finalidade de bombear o sangue. Para isso, o impulso elétrico inicia-se na estrutura chamada nó sinoatrial, passa, por meio de três feixes, a uma segunda estrutura denominada nó atrioventricular e desta percorre um feixe de fibras de modo descendente, contraindo sinergicamente em seguida as fibras musculares. E o impulso elétrico sempre tem de proceder desse modo; caso isso não ocorra, há as chamadas arritmias cardíacas, que podem desembocar num desequilíbrio hemodinâmico, gerando, muitas vezes, a morte do indivíduo.
Cérebro
O comando motor do cérebro trabalha similarmente de modo hierarquizado. O chamado tracto cortico-espinhal – conjunto de neurônios responsáveis pela contração dos músculos do movimento – inicia-se na parte superior do cérebro, o chamado córtex cerebral (popularmente conhecido como massa cinzenta). De lá, ele descende, por meio de fibras nervosas, conecta-se a outros neurônicos e gera um comando às fibras musculares, de modo que podemos nos movimentar, correr e realizar as diferentes atividades motoras. Uma lesão nessa estrutura (por exemplo, como a que acontece no acidente vascular cerebral – AVC) ocasiona uma fraqueza muscular e, após um período de tempo variável, gera posturas rígidas e disfuncionais como vemos em parte dos pacientes neurológicos. Deve-se dizer ainda que tanto no coração como no cérebro (e também em outras estruturas) há uma “rede de apoio” a esses sistemas, de modo a modulá-los e a colaborar para sua perfeita harmonia de funcionamento.
Alma
Extrapolando essa hierarquia do corpo para a alma (nosso corpo espiritual), podemos dizer que também esta apresentava uma hierarquia perfeitamente ordenada, que foi quebrada pelo pecado original. Deus, ao criar o homem e a mulher, criou-os com corpo e alma para que ambos estivessem em perfeita harmonia com Ele. Na bondade infinita de Deus, tudo era para funcionar assim: Deus iluminaria a alma do homem (sendo este o “comando superior”) e o homem, por meio de uma livre obediência, teria todos os dons e graças necessários para ser Seu filho amado. Entretanto, Deus nos fez livres e só é capaz de operar em nós através do nosso pleno consentimento (cf. Ap 3,20). Quando dissemos “sim” à tentação intuída pela serpente, desmoronamos toda a perfeita hierarquia da alma. Fizemos tal como a arritmia cardíaca faz ao coração e o AVC faz ao cérebro. Criamos uma estrutura doentia e disfuncional em nós. Começamos a agir intuídos pelas desordens da carne e não mais pela graça santificante de Deus.
A Santa Igreja e seus divinos sacramentos
Todavia, o médico dos médicos, Nosso Senhor Jesus Cristo, com sua morte e ressurreição, deu-nos a perfeita cura para os males da alma. Sendo plenamente fiel a Deus, reparou, de modo perfeito, a ofensa feita à majestade divina pelo pecado original, e deu-nos vida, e vida em abundância (cf. Jo 10,10). Pelo batismo, somos readmitidos à eternidade de Deus e, por meio de um caminho de santidade, dignificados de novo à qualidade de filhos de Deus. Quanta alegria em sermos cristãos! Caminhemos sempre nesse entendimento e lembremo-nos de que nunca estamos a sós, mas temos conosco uma “rede de apoio” perfeitíssima: a Santa Igreja e seus divinos sacramentos.
Leia também:
Como encontrar Deus a partir da razão humana – refutações