Os dias finais de São João Paulo II podem servir de base para uma profunda reflexão sobre o sofrimento das pessoas que morrem nesta pandemia de covid-19. E essa reflexão, por mais dolorosa que seja, pode transformar-se em “fonte de consolo” para quem enfrenta o drama de ver morrerem familiares e outras pessoas amadas, contagiadas pelo coronavírus e atingidas em cheio pelas consequências da doença que ele provoca.
Mas que reflexões e consolações seriam essas?
O cardeal polonês dom Stanislaw Dziwisz, que foi secretário pessoal do Papa São João Paulo II durante mais de 40 anos, conversou com a Agência de Imprensa Polonesa (PAP) no último dia 2 de abril, data que marcou os 16 anos do falecimento do pontífice.
Dziwisz, de 81 anos, afirmou:
“A lição que João Paulo II deu ao mundo quando partiu para a casa do Pai pode ser uma fonte de consolo para quem está desesperado por causa da morte de entes queridos e para quem teme pela sua saúde e segurança. [A morte de João Paulo II] foi um momento humanamente triste e doloroso, mas, ao mesmo tempo, cheio de algo de luz”.
Ele recordou que as pessoas que estavam presentes quando o Papa deu o último suspiro não dedicaram a sua primeira oração a pedir pelo seu eterno descanso, como ocorre normalmente, mas sim a agradecer a Deus pela vida de João Paulo II. Eles entoaram o “Te Deum“, que é o mais emblemático hino de ação de graças do amplo tesouro do canto gregoriano.
Os dias finais de São João Paulo II
O cardeal destacou também a atitude do Papa diante do sofrimento físico e da perda notável das forças ao longo dos dias que antecederam a sua morte. João Paulo II aceitou a doença e a morte iminente “com humildade e até com serenidade”, declarou Dziwisz.
“A humildade dele também se manifestou no fato de não evitar as câmeras nem os encontros com as pessoas, mesmo sabendo que todos podiam ver a sua fraqueza e o seu desamparo físico. Ele foi corajoso em mostrar seu sofrimento ao mundo. Acho que isso ajudou muitos doentes e moribundos, tanto com doenças físicas quanto espirituais”.
Dom Stanislaw Dziwisz enfatizou a importância da Via Sacra na vida espiritual de São João Paulo II:
“Eu fui testemunha diária desse caminho da cruz, do seu serviço, da sua coragem, da sua total dedicação a Jesus e à Sua Mãe”.
Uma lembrança sobre quem morre na pandemia
Traçando um paralelo com os enfermos da pandemia, o cardeal falou da necessidade cristã de admitirmos a brevidade da vida e a urgência de nos prepararmos bem para o encontro com Deus, reconciliando-nos com os nossos irmãos:
“Para um encontro com o Senhor misericordioso, é preciso estarmos preparados a qualquer momento. Isso também ficou claro para nós com a pandemia, porque muitos não só não puderam se despedir dos seus entes queridos como ainda partiram com o peso morto da dor de não conseguir perdoar”.
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