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Bioeticistas expressam preocupação com embrião humano-macaco

HYBRYDA MAŁPA CZŁOWIEK

Great Pics - Ben Heine | Shutterstock

John Burger - publicado em 22/04/21

A experiência abre portas para uma possível fonte de órgãos humanos, mas alguns se preocupam com quais outras portas podem ser abertas

O trabalho de uma equipe internacional de cientistas alimentou as esperanças por uma nova fonte de órgãos humanos para transplante, potencialmente diminuindo sua escassez crônica. Mas o procedimento científico em que os pesquisadores se engajaram está repleto de preocupações éticas, de acordo com bioeticistas católicos.

A equipe, composta por cientistas dos Estados Unidos, China e Espanha, relatou na semana passada que havia injetado células-tronco humanas em embriões de macaco.

STAT, um site que informa sobre saúde, medicina, ciências biológicas e produtos farmacêuticos, explicou que os cientistas injetaram 25 células-tronco humanas, conhecidas como pluripotentes estendidas (com potencial de contribuir para a formação de tecidos embrionários e extraembrionários, como cordão umbilical e placenta), em cada um dos 132 embriões da espécie Macaca fascicularis.

Eles aproveitaram uma nova técnica que lhes permitiu cultivar embriões de macaco fora do útero por até 20 dias, “um estágio em que os embriões ainda estavam em grande parte subdesenvolvidos, mas haviam formado camadas e cavidades”.

Após dez dias, 103 embriões ainda estavam em desenvolvimento, quando a taxa de sobrevivência começou a declinar. Já no 19º dia, apenas três deles ainda estavam vivos. Depois de 20 dias, os embriões de macaco crescidos fora do útero, mesmo aqueles que não são quiméricos, simplesmente entram em colapso.

Mas o que os cientistas descobriram a essa altura os encorajou: um grande número de células humanas nos embriões quiméricos sobreviveu. “Em média, 3% a 4% das células nos embriões eram humanas, e em um embrião, até 7%”, informa STAT.

Preocupação

Para John F. Brehany, vice-presidente executivo do National Catholic Bioethics Center (EUA), uma preocupação levantada pela pesquisa é que o status moral da quimera seja vago.

“Você realmente tem um ser humano aqui ou não, com base na natureza da quimera que foi criada?” – ele questionou. “Você tem um ser humano ou um animal com algumas qualidades ou atributos humanos?”

Também não está claro a intenção nem o objetivo do experimento. “Se eles dissessem: ‘Queremos produzir algum tipo de ser que esteja na fronteira entre seres humanos e macacos – talvez humano o suficiente para ser uma fonte de órgãos para outros seres humanos – para que possamos coletar rotineiramente órgãos como corações e outros, isso seria errado”, disse Brehany.

“Será que é bom para nós, seres humanos, criar algum tipo de espécie intermediária, cujo tipo de natureza e status moral está em algum lugar entre nós e os animais?” – ele questiona.

Será que isso é bom para nós em nossa capacidade de distinguir claramente entre seres humanos e animais e respeitar adequadamente os seres humanos como diferentes dos animais? Eu acho que por si só essa seria uma situação potencialmente muito confusa e suscetível ao abuso dessa espécie intermediária.

O principal autor do estudo, Juan Carlos Izpisu Belmonte, do Salk Institute for Biological Studies da Califórnia, explicou na revista Cell o motivo principal do experimento: “Como não podemos realizar certos tipos de experimentos em humanos, é essencial construir modelos para estudar e compreender com mais precisão a biologia humana e as doenças”.

E depois?

Mas lendo o estudo, o padre dominicano Nicanor Pier Giorgio Austriaco, professor de biologia e teologia no Providence College em Rhode Island, não encontrou “nenhuma preocupação com a dignidade humana, nenhuma preocupação em possivelmente romper essa divisão entre humanos e não humanos”. Padre Nicanor também expressou sua preocupação com essas quimeras.

O Anscombe Bioethics Center na Grã-Bretanha qualificou os experimentos de “profundamente antiéticos”, dizendo que eles cruzam uma “fronteira moral porque misturam elementos humanos e não humanos em um estágio muito inicial de desenvolvimento de uma forma que levanta sérias questões sobre o status moral”.

“Não está claro como seriam essas quimeras humano-não-humanas, caso tivessem nascido. Não está claro até que ponto elas compartilham a informação para desenvolver características humanas essenciais”, disse o diretor da Anscombe, David Albert Jones. “É sempre errado e causa perplexidade criar deliberadamente um ser de status moral incerto.”

Jones acrescentou que embora as quimeras não pudessem viver depois de 19 dias, “elas levantaram questões sobre como devemos considerá-las. Esses embriões compartilhavam da dignidade humana? ”

Ele pediu uma “moratória imediata sobre a criação de embriões que misturam células humanas com as de primatas não humanos”.

“A ciência”, disse Jones, “exige limites éticos claros, e um limite ético essencial é que entre o humano e o não humano.”

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CiênciamoralSaúde
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