Depois dos escritores Rubem Fonseca e Sérgio Sant’anna e, mais recentemente, do ator Paulo Gustavo, a cultura brasileira sofreu mais uma perda irreparável em decorrência da Covid-19: o compositor, instrumentista e cantor Cassiano, morto na última sexta (7) por complicações da doença, aos 77 anos. As gerações mais novas talvez não o conheçam nem saibam seu valor, mas não é exagero dizer que sem Cassiano talvez não tivéssemos consolidada uma soul music autenticamente brasileira, que ajudou a cunhar junto com Tim Maia e Hyldon. Ou que a música negra nacional não seria a mesma sem ele, que influenciou de Gilberto Gil a Sandra de Sá, de Alcione a Djavan, de Pixote a Racionais MC’s.
OS DIAGONAIS
Nascido em Campina Grande (PB) em 1943, Genival Cassiano dos Santos se mudou ainda jovem, com a família, para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como pedreiro, dedicando seu tempo livre ao violão. Embalado pela bossa nova de João Gilberto, formou em 1964 o conjunto Bossa Trio, até que, na mesma época, descobriu a soul music vinda dos Estados Unidos na voz de Otis Redding, Stevie Wonder e Marvin Gaye. Não tardou a fazer uma reviravolta artística e o mesmo conjunto mudou de nome para Os Diagonais, passando a se dedicar ao gênero cheio de groove. O conjunto chegou a lançar dois discos: Os Diagonais, de 1969, e Cada Um na Sua, de 1971.
PARCERIA COM TIM MAIA
O surgimento dos Diagonais na cena carioca coincidiu com o período em que Tim Maia voltou de uma temporada nos Estados Unidos, onde bebeu da fonte da soul music em primeira mão. Unidos por essa paixão em comum, logo se tornaram amigos e, junto com o baiano Hyldon, formaram o que pode ser considerada a primeira cena da música negra carioca. O primeiro sucesso de Tim Maia, na verdade, foi uma composição de Cassiano, Primavera (Vai Chuva), primeiro single do disco de estreia do carioca, lançado em 1970. O álbum ainda contou com outras três composições do paraibano: Eu Amo Você, Você Fingiu e Padre Cícero, esta escrita em parceria com o intérprete. Todas foram grandes sucessos no rádio e, logo, também não seria exagero dizer que Tim Maia não teria sido o sucesso que foi sem Cassiano.
MÚSICA DE NOVELA
Apesar de enxuta, a discografia solo de Cassiano traz álbuns que são considerados verdadeiros tesouros nacionais: Imagem e Soul (1971), que trouxe sua própria versão de Primavera (Vai Chuva) mas não obteve o mesmo sucesso; Apresentamos Nosso Cassiano (1973) e Cuban Soul (1976), sua obra-prima, que incluiu A Lua e Eu, que décadas mais tarde seria regravada por Pixote, e Onda, usada como sample pelos Racionais MC’s em 2002. Com essa trinca Cassiano viveu uma fase de sucesso nacional, impulsionado pela inclusão de duas de suas músicas em novelas da Globo no final dos anos 70:
