Completando 20 anos de carreira, a dupla The Black Keys – formada pelo vocalista e guitarrista Dan Auerbach e pelo baterista Patrick Carney – lançou nesta sexta (14) seu 10º disco de estúdio, Delta Kream. E, nele, os músicos fazem as pazes com o passado, não só da banda, como das raízes do seu som. Trata-se de um álbum de versões, que, como sugere o título, resgata o creme do blues originado do Delta do Mississipi, o hillbilly blues, ou blues caipira, em português. Deste panteão, reinterpretam lendas obscuras do gênero e do estado norte-americano, como John Lee Hooker (1912–2001), conhecido por adaptar o Delta blues à guitarra elétrica, Junior Kimbrough (1930-1998) e R.L. Burnside (1926-2005).
DE VOLTA AO SUL
O álbum foi gravado despretensiosamente em dois dias no estúdio de Dan Auerbach em Nashville, no Tennessee, com participação do guitarrista Kenny Brown, que integrou a banda de R.L. Burnside, assim como do antigo baixista de Junior Kimbrough, Eric Deaton. Já para filmar os videoclipes dos dois primeiros singles – Crawling Kingsnake, de Big Joe Williams e John Lee Hooker; e Going Down South, de R.L. Burnside –, a locação escolhida foi a cidade de Clarksdale, onde ficam o Museu do Delta Blues e mitológica encruzilhada onde o guitarrista Robert Johnson teria vendido sua alma em troca pela destreza com o instrumento. Em seu álbum de estreia, The Big Come Up (2002),o Black Keys já tinha gravado uma composição de R.L. Burnside, Busted, além de Do the Romp, de Junior Kimbrough, ao legado do qual ainda dedicaram todo o repertório do EP Chulahoma: The Songs of Junior Kimbrough (2006).
REDENÇÃO
Depois de três discos de sucesso comercial e de crítica, Attack & Release (2008), Brothers (2010) e, especialmente El Camino (2011), que rendeu hits como Lonely Boy (confira no vídeo abaixo a performance da música no Lollapalooza Brasil 2013, em São Paulo) e tornou a banda mundialmente conhecida, os dois amigos, junto com o produtor Danger Mouse (também por trás da sonoridade dos três anteriores) erraram a mão no álbum seguinte, Turn Blue (2014), que desagradou os fãs pela falta de um rock mais direto e pelo excesso de recursos eletrônicos. A dupla ofereceu um pedido de desculpas com o álbum seguinte, Let’s Rock (2019), no qual essencialmente retornou ao rock cru de garagem do começo da carreira. E agora a redenção se faz completa em Delta Kream.