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A Igreja Católica reconhece menos de 1% dos milagres de cura

Milagres de cura em Lourdes

© Laurent Attias / Huguette&Prosper

Cena do espetáculo musical "Bernadette de Lourdes"

Francisco Vêneto - publicado em 18/05/21

Seriedade: o catolicismo adota critérios científicos extremamente exigentes para declarar um milagre

A Igreja Católica reconhece menos de 1% dos milagres de cura que são relatados por fiéis.

Um dos locais católicos que mais reúnem relatos de curas inexplicáveis é o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, no sul da França. Trata-se do santuário mais visitado do mundo por peregrinos católicos em busca de cura física. Desde 1858, foram registrados mais de 7.200 alegações de recuperação milagrosa de doentes nesse local, mas a Igreja reconheceu apenas 70 casos como efetivamente inexplicáveis do ponto de vista médico-científico até hoje.

Milagres de cura: o caso oficial mais recente em Lourdes

O registro mais recente ocorreu em 2008 e só foi declarado como milagroso em 2018, dez anos depois. Aconteceu com a irmã Bernadette Moriau, uma religiosa francesa que não conseguia andar sem ajuda. Ela peregrinou ao santuário mariano de Lourdes em 2008 e, pouco tempo depois, viu-se perfeitamente recuperada enquanto fazia adoração ao Santíssimo Sacramento.

Foram necessários 8 anos de avaliações e estudos por parte de médicos e cientistas até que, em novembro de 2016, a cura da irmã Bernadette foi declarada cientificamente inexplicável. Mesmo assim, a Igreja ainda não declarou que se tratasse de um milagre. As avaliações e reflexões teológicas se prolongaram durante mais de 14 meses após o pronunciamento dos médicos. Somente no dia 11 de fevereiro de 2018, festa de Nossa Senhora de Lourdes e Dia Mundial dos Enfermos, é que a Igreja afirmou oficialmente que o caso podia ser considerado como milagroso.

Saiba mais sobre a irmã Bernadette, sua doença e sua cura acessando o artigo recomendado ao final desta matéria.

Antes do reconhecimento do caso da religiosa francesa, o milagre mais recente até então confirmado em Lourdes era o de Danila Castelli. Ela foi curada em 1989, mas o anúncio formal da inexplicabilidade científica da sua cura só aconteceu em 2013; portanto, foram 24 anos de estudos e pesquisas, disponíveis para a contestação da comunidade científica.

Já o primeiro caso reconhecido de cura milagrosa em Lourdes foi o de Catherine Latapie, registrado poucos dias depois da primeira aparição de Nossa Senhora em Massabielle.

A Igreja Católica reconhece menos de 1% dos milagres de cura

Por que tanto tempo de espera? Basicamente, porque a Igreja Católica não afirma a ocorrência de um milagre apenas porque queira ou possa: ela submete a análise de cada suposto milagre a uma sequência criteriosa de etapas científicas, que incluem, por exemplo, comissões médicas para estudar cada alegação de cura cientificamente inexplicável.

Uma das mais conhecidas mundialmente é a Comissão Médica Internacional de Lourdes, cuja metodologia é a mesma usada na investigação científica. Os seus membros, aliás, costumam citar o princípio de Jean Bernard: “Quem não é científico não é ético”. Não se trata de cair no cientificismo ou no positivismo, e sim de buscar a verdade com a clara consciência daquilo que a encíclica Fides et Ratio veio a sintetizar magnificamente:

“A fé e a razão são como as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”.

Os 7 critérios para se reconhecer uma cura milagrosa

O cardeal Prospero Lambertini, que se tornaria mais tarde o papa Bento XIV (pontífice de 17 de agosto de 1740 até a morte em 3 de maio de 1758), detalhou as características do milagre do ponto de vista médico-científico na “De servorum beatificatione et beatorum canonizatione” (“A beatificação dos servos de Deus e a canonização dos beatos”), livro IV, capítulo VIII, 2-1734.

Nesse texto, ele define 7 critérios para o reconhecimento de uma cura extraordinária ou inexplicável:

  • A doença deve ter características de gravidade, com prognóstico negativo.
  • O diagnóstico real da doença deve ser certo e preciso.
  • A doença deve ser apenas orgânica.
  • Eventual tratamento não pode ter favorecido o processo de cura.
  • A cura deve ser repentina, inesperada e instantânea.
  • A retomada da normalidade deve ser completa (e sem convalescência).
  • A cura deve ser duradoura (sem recaída).

Os 7 critérios de Lambertini continuam válidos até hoje e esclarecem o perfil específico da cura inexplicável, garantindo que toda objeção ou contestação seja levada em ampla consideração antes de se atestar que uma determinada cura foi “não explicável cientificamente”.

De 7.200 supostos milagres, só 70 reconhecidos

A seriedade das avaliações de supostos milagres pode ser percebida nos números relacionados ao santuário mariano de Lourdes, na França, conforme já mencionados acima.

Um dos milagres de cura mais impactantes que passaram pela Comissão Médica Internacional de Lourdes é o da religiosa Luigina Traverso. Ela foi curada repentinamente de uma lombociática incapacitante de meningocele no dia 23 de julho de 1965, após anos de tratamento médico e várias cirurgias que não tinham dado resultado.

Em 20 de julho de 1965, a irmã viajou até Lourdes em estado grave – aliás, os médicos tinham recomendado que ela não fizesse a peregrinação porque a viagem representava alto risco de morte.

Em 23 de julho, na passagem do Santíssimo Sacramento durante a celebração eucarística, a irmã Luigina relata ter experimentado uma súbita sensação de forte calor e bem-estar, acompanhada pelo “desejo de ficar de pé” – o que era impossível para ela havia meses. De repente, ela recuperou o movimento dos pés e deixou de sentir dor.

Em 24 de julho, acompanhada pela madre superiora, a religiosa caminhou sem ajuda alguma até a gruta de Lourdes para agradecer a Nossa Senhora. No mesmo dia, participou da via-crúcis dos peregrinos e subiu rezando até a quarta estação – a subida é íngreme. Ao longo dos dias seguintes, a irmã Luigina já estava ajudando a cuidar dos doentes que peregrinavam ao santuário.

Demorou até 2012 para que o milagre fosse reconhecido, cumpridas todas as rígidas etapas de estudos médicos e científicos e, por último, de análise por parte da Igreja. Ou seja, transcorreram nada menos que 47 anos para que a Igreja declarasse formalmente esse fato como milagroso.

O milagre de Lourdes que converteu um médico agnóstico ganhador do Prêmio Nobel

Outro dos casos mais significativos já registrados em Lourdes foi a cura de Marie Bailly, testemunhada por um médico então agnóstico, o Dr. Alexis Carrell. Ele próprio acabou se convertendo à fé católica depois de estudar a inexplicável cura que tinha presenciado.

Conheça este caso acessando o artigo recomendado a seguir.

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Carrell não é o único Prêmio Nobel impactado pelo que acontece de inexplicável em Lourdes.

Mais recentemente, outro médico francês também reconhecido com o Nobel de Medicina declarou que as curas registradas em Lourdes são inexplicáveis pela ciência. O dr. Luc Montagnier ficou famoso, entre outras relevantes contribuições à ciência, pela descoberta do vírus HIV. Ex-diretor do Instituto Pasteur, o cientista de renome mundial expôs a sua opinião sobre os milagres de Lourdes no livro Le Nobel et le Moine, em que dialoga com o monge cisterciense Michel Niassaut. Saiba mais sobre as declarações do dr. Montagnier acessando este artigo:

Para conhecer o caso de cura inexplicável da irmã Bernadette Moriau, você pode ler a seguinte matéria:

Tags:
CiênciaCuraDoençaIgrejaLourdesMilagreSaúde
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