"O Resgate do Soldado Ryan" (1998), dirigido por Steven Spielberg, e "Titanic" (1997), dirigido por James Cameron, são dois célebres filmes cujos protagonistas poderiam ter sido padres católicos. No entanto, os sacerdotes que existiram na vida real e que exerceram papéis de primeira grandeza nas histórias recontadas por essas duas superproduções foram por elas completamente ignorados.
Você sabia que foi um padre quem salvou o verdadeiro soldado Ryan? E já ouviu dizer que outro padre foi um dos maiores heróis do Titanic?
Em um dos mais aclamados filmes de guerra produzidos por Hollywood em todos os tempos, o personagem de Tom Hanks recebe das autoridades militares norte-americanas a missão de localizar e resgatar um certo soldado Ryan em plena Segunda Guerra Mundial. Trata-se do único sobrevivente dentre quatro irmãos enviados à França para combater os nazistas: os outros três morreram durante o Desembarque na Normandia, evento-chave da história do conflito e que passou para a posteridade como o “Dia D“.
Acontece que as cartas com a notícia da morte de nada menos que três filhos tinham chegado ao mesmo tempo às mãos da mãe dos quatro jovens, conforme é retratado em uma das cenas mais devastadoras de “O Resgate do Soldado Ryan“.
O que muita gente não sabe é que a história do filme se baseou em fatos reais que envolveram os irmãos Niland. O fictício soldado Ryan se chamou, na realidade, Fritz Niland, e realmente pensou-se que ele havia perdido os três irmãos no Dia D. Um deles, porém, sobreviveu: Edward, supostamente morto, passou um ano como prisioneiro de guerra em um campo de concentração japonês na Birmânia, atual Myanmar.
Menos gente ainda sabe que o real responsável pelo resgate do último soldado Niland foi um sacerdote católico: o lendário capelão da 101ª Divisão Aerotransportada, o pe. Francis L. Sampson (1912-1996), cuja história arrepiante foi relatada em seu livro de memórias Look at Below: A Story of the Airborne by a Paratrooper Padre (“Olhe para baixo: uma história da Aerotransportada, escrita por um padre paraquedista”, publicado em 1958).
Foi o Padre Sam, como era chamado pelas tropas, quem encontrou e repatriou aos Estados Unidos o soldado Fritz Niland, localizado na praia francesa que tinha recebido o codinome de Utah Beach.
Além deste episódio extraordinário, o Padre Sam viveu dezenas e dezenas de outros que conseguem nos arrepiar. Um deles é o que relataremos a seguir.
Poucos dias depois do Desembarque na Normandia, ele celebrou a missa para um grupo de enfermeiras numa igreja que tinha sido quase completamente bombardeada. Só tinham ficado em pé duas paredes e… as imagens de Cristo, de São Pedro e de São Paulo, um fato que todos ali consideraram inexplicável.
Diante daquelas ruínas – e daquelas imagens milagrosamente preservadas, o pe. Sam fez esta breve e inesquecível homilia:
Outro campeão de bilheteria que se tornou um dos maiores ícones populares da história do cinema, a superprodução "Titanic", de 1997, também contou com a ilustre ausência de um padre católico que, no entanto, foi um dos mais inspiradores passageiros reais do navio "inafundável" que afundou em sua primeira travessia, em 15 de abril de 1912.
Enquanto o Titanic naufragava, o pe. Thomas Byles renunciava não só a uma, e sim a duas oportunidades de embarcar num bote salva-vidas. Ele preferiu ficar a bordo, conforme relatos de passageiros, para ouvir confissões e oferecer amparo espiritual a quem não tinha chance de escapar do naufrágio.
Cerca de 1500 pessoas morreram na tragédia do navio que não tinha barcos salva-vidas suficientes para todos os passageiros.
O sacerdote britânico de 42 anos tinha sido ordenado em Roma dez anos antes e viajava para celebrar o casamento de seu irmão em Nova Iorque. Os testemunhos de passageiros do Titanic sobre a sua postura sacerdotal a bordo do navio que ia a pique foram reunidos no site www.fatherbyles.com.
Um desses testemunhos é o de Agnes McCoy, passageira da terceira classe e sobrevivente do naufrágio. Ela declarou que o pe. Byles permaneceu a bordo para ouvir confissões, rezar com os passageiros e lhes dar a sua bênção nos minutos finais.
Outra passageira da terceira classe, Helen Mary Mocklare, testemunha:
Helen também afirma que um marinheiro “avisou o sacerdote sobre o perigo e suplicou que ele embarcasse num bote“, mas o padre recusou duas vezes. Ela prossegue:
Mais de um século depois, o também britânico padre Graham Smith, que hoje cuida da mesma paróquia do pe. Byles e é o responsável pela abertura da sua causa de beatificação, declara que ele foi um “homem extraordinário que deu a vida pelos outros. Estamos esperando e rezando para que ele seja reconhecido como santo“.
Este processo segue várias etapas. Primeiro, é necessário comprovar que o “candidato a santo” viveu as virtudes cristãs em grau heroico. Em seguida, para a beatificação, deve ser demonstrado um milagre atribuído à sua intercessão. Por fim, para a canonização, é necessária a verificação de mais um milagre por seu intermédio.
“Esperamos que pessoas do mundo todo rezem pela intercessão dele quando enfrentarem dificuldades, e, se acontecer um milagre, a beatificação e canonização poderão ir em frente“, completa e convida o pe. Smith.