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Espiritualidade
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O Sagrado Coração de Jesus entre os místicos cistercienses

SACRED HEART OF JESUS

Pascal Deloche | Godong

Vanderlei de Lima - publicado em 13/06/21

Talvez não tenha havido na Igreja uma escola de espiritualidade tão uniforme na temática e com tantos autores como a cisterciense

O século XII é, sem dúvida, na vida da Igreja, o tempo áureo dos grandes místicos cistercienses, ou seja, dos membros da Ordem monástica homônima fundada em 1098, em Cister, na França.

Sobre tais místicos escreve Dom Luís Alberto Ruas Santos, O. Cist.: “Os mosteiros cistercienses produziram grandes místicos. […] Talvez não tenha havido na Igreja uma escola de espiritualidade tão uniforme na temática e com tantos autores como a cisterciense” (Os cistercienses: uma espiritualidade abrangente e criativa. Itatinga: Abadia cisterciense de Nossa Senhora da Assunção de Hardehausen-Itatinga, 1998, p. 17).

Daí a questão: quem são eles? – Todos foram Abades. Deixaram-nos uma rica espiritualidade marcada por três pontos: o pastoral, visava, em forma de Sermões, a santificação dos monges, seus primeiros destinatários; o patrístico, pois continuava a teologia bíblico-simbólica dos Padres da Igreja (escritores cristãos – não necessariamente sacerdotes – dos primeiros sete séculos que muito ajudaram na formulação da reta fé) e também o místico, ou seja, a vivência da verdadeira e estável união com Deus a fim de se tornarem um só com Ele. São grandes expoentes dessa corrente mística Bernardo de Claraval (o pai ou iniciador), Guilherme de Saint-Thierry, Elredo de Rievaulx, Guerrico de Igny, Balduíno de Ford etc. (cf. Dom Bernardo Bonowitz. Os místicos cistercienses do século XII. Juiz de Fora: Subiaco, 2005, p. 7-11). Alguns destes homens tratarão do Sagrado Coração de Jesus em seus escritos. Ei-los:

São Bernardo de Claraval escreve: “O ferro da lança transpassou sua alma e aproximou-se de Seu coração para que ele pudesse sentir conosco, com a nossa fraqueza. O segredo do Coração tornar-se-á visível através da abertura do corpo. Abre-se aquele grande mistério de sua clemência, abre-se o íntimo trancado da misericórdia de Deus” (PL CLXXXIII. 1072 in Dom Veremundo A. Toth, OSB. Por sinais ao invisível, Juiz de Fora: Subiaco, 2003, p. 144). 

Guilherme de Saint-Thierry registra: “Assim como Tomé, o cético, expressando seu desejo, também eu desejo vê-lo por inteiro e tocá-lo; mas não apenas isso, e sim chegar junto da sagrada chaga de seu lado; até a fenda da arca da aliança que se abriu no seu lado, para que eu pudesse introduzir não apenas meus dedos e minha inteira mão, mas todo eu pudesse achegar-me ao próprio Coração de Jesus, ao Santo dos Santos à arca da aliança” (PL CLXXXIV. 368, idem, p. 144). 

Guilbert de Hoyland diz: “A chaga do coração assinala o ardor do amor. Em verdade, é um doce Coração que induz nossos sentimentos à reciprocidade afetuosa. Por mais que ame, não ama, mas apenas retribui o amor… Esposa, não consegues corresponder totalmente ao teu Amado. Mesmo assim Ele não cessa de se dar inteiramente. O que ele te oferece ainda não é completo, mas se compromete. Todo o amor que Lhe retribuis, Ele o recebe não como uma dívida, mas sim como uma oferenda espontânea. Ele sente uma espécie de desafio ao amor, enquanto apresenta seu Coração ferido” (PL CLXXXIV. 155, ibidem, 2003, p. 144-145).

Guerrico d’Igny chega, por sua vez, ao símbolo preciso do Coração, ao escrever: “Para que eu pudesse construir meu ninho na fenda de um rochedo, bendito seja quem suportou que traspassassem seus pés, sua mão e o lado e se abriu totalmente para mim para que eu pudesse adentrar na maravilhosa tenda e encontrasse proteção no refúgio do seu interior… Por isso, Ele abriu misericordiosamente seu lado, para que o sangue de sua chaga me vivificasse, o calor de seu corpo me alentasse, o sopro libertador do hálito puro de seu Coração me reanimasse” (PL CLXXXV. 140, ibidem, p. 146).

Que tão preciosos ensinamentos dos grandes místicos cistercienses do século XII sobre o Sagrado Coração de Jesus fale alto no nosso coração neste conturbado século XXI.

Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld

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