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O Sagrado Coração de Jesus segundo um monge cartuxo

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Vitor Roberto Pugliesi Marques - publicado em 14/06/21
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Se temos dúvida de como proceder em determinada situação, pensemos e meditemos no modo como Jesus procederia

O mês de junho, tradicionalmente na Igreja, é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Embora, misticamente falando, essa devoção encontre sua máxima expressão já no calvário, com o lado aberto de Cristo por nós, de onde jorrou água e sangue (cf. Jo 19,34), tal devoção adquiriu uma coroação especial nas aparições a Santa Margarida de Alacoque, no século XVIII, religiosa da Ordem da Visitação, fundada por São Francisco de Sales. Em suas revelações privadas à essa santa, Nosso Senhor Jesus Cristo mostra o seu coração como símbolo do grande amor que Deus tem pelos homens, a despeito dos inúmeros desprezos e ingratidões que deles recebe. 

Entendemos que ter devoção ao Sagrado Coração de Jesus é reconhecer a sublime realidade da alma de Cristo, que nos ama incondicionalmente e que não mediu (e não mede) esforços para estar junto de nós, conduzindo-nos ao caminhar reto rumo à salvação eterna.  Trata-se, assim, de uma adoração a ser prestada a Ele por toda a Igreja e não somente por uma determinada ordem ou movimento religioso. Um monge cartuxo (mantemos esse anonimato de nome, pois assim uma antiga tradição da Ordem Cartuxa o faz) vai nos dizer: “Não existiu jamais um coração mais amante do que ao de Jesus; e os nossos corações têm que se modelar ao seu. Amar é o maior – e também o único – mandamento: ‘amarás o teu Deus com todo o seu coração... e amarás o teu próximo’ (Mt 22,36-39)”. E vai completar dizendo que “[o Amor de Jesus] é um amor ordenado, um amor que pode viver e comunicar-se e, portanto, sacrificar tudo o que o impede de doar-se” (Por um cartuxo. Antologia de autores cartuxos: itinerário de contemplação. São Paulo: Cultor de Livros, 2020. p. 169). 

Assim, gostaríamos de destacar um ponto primordial de nossa fé: o Sagrado Coração de Jesus é o modelo perfeito para o nosso próprio coração (ou seja, a nossa alma), modelo este que devemos, com todas as nossas forças, buscar imitar cotidianamente. Jesus, ao caminhar conosco neste mundo, acrescentando à sua natureza divina a nossa natureza humana, deu-nos a plenitude da lei, que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso irmão como a nós mesmos. Assim, vale o ensinamento de que, se temos dúvida de como proceder em determinada situação, pensemos e meditemos no modo como Jesus procederia, busquemos firmemente agir dessa forma e não erraremos.

Sobre os meios de adquirir a perfeição de coração, o autor cartuxo nos ensinou que tal como Jesus, devemos ter um amor ordenado. Não adianta pensar que teremos progresso na vida espiritual se “amamos” mediados pelas paixões desordenadas da nossa alma ferida pelo pecado original e inclinados às nossas concupiscências. Pelo contrário, agindo assim, somente alcançaremos desolação e perdição. Devemos fazer, em nossa alma, a imolação daquilo que não agrada a Deus, tanto em pensamentos, palavras e atos, para termos a verdadeira ordem no coração, que consiste em responder de modo mais perfeitamente possível àquilo que Deus quer de nós. Vai nos dizer o mesmo autor cartuxo que “o desapego é a ordem do amor. [...] O Deus de Amor, vivente em uma alma, a faz amar a todos os seres segundo o seu grau de participação em si mesmo que é o Ser. A alma deve amá-los como Deus os ama, ou seja, como Deus a eles se doa”. 

Aproveitemos o ensejo litúrgico da celebração do Sagrado Coração de Jesus para rezarmos pedindo a graça de termos o nosso coração configurado ao Coração de Jesus, ou seja, um coração que se desapega das seduções deste mundo e se doa perfeitamente aos projetos de Deus em nossa vida.