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O que os cristãos podem aprender com os minimalistas

JEUNE FEMME DEVANT UN BUREAU

Bench Accounting / Unsplash

Pe. Patrick Briscoe - publicado em 14/07/21

A filosofia em si não basta, mas é um instrumento maravilhoso para os fiéis

O arquiteto teuto-americano Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), comumente chamado de Mies, é amplamente considerado um pioneiro da arquitetura moderna. Mies projetou edifícios com estrutura mínima para evocar a liberdade implícita no espaço desobstruído. Ele era famoso por usar os aforismos “Deus está nos detalhes” e “menos é mais”.

Este último aforismo, “menos é mais”, inspirou o título de um documentário de 2021 da Netflix, Minimalismo Já. O título transmite a urgência do filme. O americano médio de hoje está se afogando na onda do consumismo. A maré deve ser contida, não algum dia, não nos próximos anos. Ao contrário, devemos simplificar hoje, agora.

Quando “tudo” não é suficiente

Com ecos religiosos, o documentário conta a história dos fundadores de um movimento, Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus. Amigos de infância, Millburn e Nicodemus, passaram a infância em “famílias divorciadas disfuncionais”.

Como adultos, eles se sentiram presos à promessa superficial do sonho americano. Eles descrevem seu descontentamento dizendo: “Quase uma década atrás, quando chegamos aos 30 anos, tínhamos conquistado tudo o que deveria nos fazer felizes: carteiras de seis dígitos, carros de luxo, casas grandes e todas as coisas para bagunçar cada canto de nossaa vidas orientadas para o consumo.” 

Nicodemos tentou conter as tempestades de seu coração com drogas e álcool. O primeiro casamento de Millburn terminou em divórcio. Desencantados com as promessas de sucesso e felicidade oferecidas pela escalada corporativa, os dois homens se descobriram procurando por mais.

Então, o que eles encontraram? Onde eles descobriram a sensação de paz e felicidade na vida? “O minimalismo é o que nos leva além das coisas para que possamos abrir espaço para as coisas mais importantes da vida – que, na verdade, não são nada”, explica Millburn.

Abandonando seus pertences, juntando tudo o que possuíam (até mesmo se livrando da TV), eles descobriram que eram capazes de retomar o controle da vida, de ter tempo para si mesmos e para o que amavam. Livrando suas casas de coisas materiais, eles abriram suas vidas para o que era importante para eles.

Minimalismo e cristianismo

Millburn e Nicodemus não tiveram uma conversão religiosa. Nada do que eles falam é explicitamente baseado na fé. Eles declaram: “Nossas jornadas em direção à simplicidade, porém, não têm nada a ver com religião; em vez disso, foi uma reação ao descontentamento que experimentamos depois de estarmos mergulhados no consumismo por três décadas. ”

E ainda assim, suas afirmações sobre o materialismo têm profunda ressonância com o Evangelho. Adotar o princípio minimalista e colocá-lo a serviço da vida cristã é um pouco como os medievais usaram a filosofia grega para aguçar sua reflexão teológica. A filosofia em si não basta, mas é um instrumento maravilhoso para os fiéis.

A Bíblia nos diz, por exemplo, que Cristo instruiu os discípulos a não levar nada na jornada, “senão somente um bordão; nem pão, nem mochila, nem dinheiro no cinto; como calçado, unicamente sandálias, e que se não revestissem de duas túnicas” (Marcos 6,8-9).

Certamente, o minimalismo é dado como um princípio apostólico, o tipo de coisa que torna possível aos crentes realizar a obra que Cristo lhes confiou.

No entanto, a liberdade das coisas materiais por si só não é o fim do jogo. Isso é o que há de tão poderoso na afirmação dos minimalistas. Eles dizem: “remover o excesso é uma parte importante da receita – mas é apenas um ingrediente. Se estamos preocupados apenas com as coisas, estamos perdendo o ponto principal.” 

De fato, o propósito de organizar, a razão de despojar, é ser livre para as coisas mais significativas.

Minimalismo X consumismo

Coisas requerem tempo e energia. O consumismo é uma espécie de escravidão, uma devoção à curadoria da exatidão. 

Muitas vezes, nos cercamos de coisas como uma espécie de medida preventiva. Agimos por medo, tentando preservar, isolar ou controlar. E, ao fazer isso, não encontramos realmente a liberdade, nós nos amarramos em nós, ligando nossos corações às coisas.

Convite à ação

E se hoje fôssemos todos doar várias peças de roupa delicadamente usadas para os pobres? Que nos desfazermos de um carregador de telefone desnecessário ou reciclássemos os pedaços de papel que habitam as gavetas de nossa mesa? E se, em vez de pedirmos, comêssemos algo do fundo da despensa? 

Para o cristão, o minimalismo não é apenas um caminho, é o caminho. Se nos apegamos a outras coisas, em vez de nos libertarmos para a obra de Cristo, não nos convertemos de forma alguma. Se estamos vivendo pelas medidas deste mundo, então estamos ignorando os ditames, as exigências do Evangelho de Jesus. 

De fato, há felicidade para se alcan nesta vida. Não será uma felicidade perfeita, mas é a verdadeira felicidade. Portanto, jamais a encontraremos ou aceitaremos se permitirmos que nossas vidas sejam preenchidas com coisas materiais.

O que os cristãos podem aprender com os minimalistas
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