É muito comum termos algumas feridas afetivas. São, de fato, feridas que atravessam gerações e que podemos, sem dúvida, reconhecê-las em todos nós.
O problema é que muitas vezes não olhamos com o equilíbrio suficiente para aquilo que acontece em nossa mente e aquilo que está em nosso coração.
Muitas vezes, damos mais peso ao que pensamos, ao invés do que realmente sentimos. Precisamos, de fato, integrar os dois aspectos, não se opor a eles.
O Senhor, em seu Evangelho, nos ensina como integrar pensamentos e emoções. Ele constantemente nos chama para trabalhar nossos pensamentos com o coração, porque o coração tem uma maneira de "pensar e ver", e não apenas sentir. Jesus nos convida a pensar segundo o seu Coração.
Mas a afetividade e as feridas afetivas devem ser abordadas em nossas vidas, devem ser tratadas com consciência e responsabilidade. O Monsenhor José Ignacio Munilla nos diz que existem três feridas afetivas em nosso tempo:
É a incapacidade de transcender nosso eu. Isso torna impossível o chamado que nos é feito para nos rendermos e amarmos o nosso próximo.
O narcisista sofre muito e implora carinho em todos os lugares, pois não conheceu o amor verdadeiro. Você sempre se sente esquecido, não amado e vitimado.
Esta ferida pode ser curada com o anúncio do amor de Deus, que reestabelece a nossa autoestima. Um amor que nos enraíza na certeza de que somos amados e, assim, passamos a existir. Não somos amados por um amor fugaz e suave, mas por um amor que dá sua vida por nós.
A dedicação generosa às verdadeiras vítimas da vida também nos ajuda a colocar em perspectiva a nossa condição de vitimização.
Em nosso mundo, uma das coisas que nos dá "liberdade" gerou grande escravidão. O sexo do amor, o sexo da própria vontade e identidade de uma pessoa, foi fragmentado.
É preciso ressignificar o que somos na unidade, sem divisão, porque ninguém pode se render sem antes possuir a si mesmo. Integrar nossa sexualidade na vocação concreta ao amor ao qual Deus nos chama.
Podemos responder a isso mostrando a castidade e sua face libertadora e integradora.
Nasce das decepções em relação ao amor, às referências do "amor para sempre" que nos decepcionaram e das más experiências acumuladas que nos levaram a encerrar- nos na solidão.
Essas feridas nos impedem de amar, mas são curadas pelo amor que excede nossa própria capacidade. É preciso pedir ao Senhor que nos dê seu amor para que possamos amar.
Aquele que tem consciência de que o mais importante em sua vida é ser amado e chamado a amar supera essas feridas .
Só quem encontra um amor maior consegue reordenar a vida a partir do tesouro descoberto, como na parábola do tesouro escondido.
Renúncias e sacrifícios são possíveis quando prevalece a motivação do amor.
É viver gozando da vocação a que fomos chamados. Nada pior do que viver a “fidelidade” e não gostar, habituar-se a ela. Esse é o drama do filho mais velho na parábola do filho pródigo.
Enfim, nosso coração não é daquele que o quebra, mas daquele que o repara. Não importa quantas feridas tenhamos, a última palavra não vem daquele que nos feriu, mas daquele que nos restaurou.