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As ideologias e a educação dos jovens

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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 11/08/21
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Uma educação realmente cristã dos jovens passa, antes de tudo, pela oração e pela confiança em Deus

À medida que os conflitos ideológicos se tornam mais frequentes e acirrados na sociedade, cresce entre pais e educadores a preocupação com a influência das ideologias na formação dos jovens. Dependendo de nossas posições no espectro político e cultural, nos preocupamos com o chamado “marxismo cultural” e a ideologia de gênero, com o neoliberalismo e o individualismo – ou com tudo isso junto...

Ocupar-se com a resolução dos problemas é seguir a vontade de Deus, mas preocupar-se com eles é um pecado, pois denota falta de fé. É justíssimo que procuremos entender as ideologias, discernir entre o certo e o errado, orientar os jovens no caminho mais verdadeiro. É um erro lamentável, motivado pelo medo e pela falta de fé, contar só com nossas forças e nos deixarmos levar pela raiva e pelo ressentimento. Nesse segundo caso, querendo o bem acabamos servindo ao mal.

As ideologias não devem ser combatidas com outras ideologias – ou mesmo com uma pretensa verdade teórica, que frequentemente, sendo uma ideia humana, acaba se revelando uma outra ideologia. O cristianismo não é uma ideia a mais, mas sim o encontro com um fato, como nos lembra Bento XVI no famoso início da Deus caritas est (DCE 1). Para o cristão, a vitória sobre a ideologia não vem de uma teoria humana mais correta e sim do testemunho de um fato que muda a existência: o encontro com Cristo.

Os jovens têm uma grande sede de verdade. Querem um mundo onde o branco seja branco e o preto seja preto. Não estão acostumados aos vários tons de cinza, aos padrões de branco e preto, que compõem o real. Querem liberdade e felicidade, não aceitando as amarras – convenhamos, nem sempre justas – que nos limitam. Tudo isso é muito bom, faz parte daquela “bússola interior” – a lei natural – dada por Deus para que pudéssemos discernir o certo e o errado (cf. Catecismo da Igreja Católica, CIC 1950ss).

Contudo, esse desejo de verdade, que não quer se acomodar às contradições da realidade, pode ser facilmente manipulado e instrumentalizado. A força da ideologia está justamente em oferecer um mundo de falsos absolutos, no qual a verdade e a liberdade parecem fáceis e ao alcance da mão. Para seus defensores, aquele que procura mostrar suas sutilezas e enganos estaria apenas tentando justificar as iniquidades do mundo e calar aspirações justas do coração.

Por isso, o educador que deseja se contrapor às ideologias deve começar procurando as motivações justas que animam os jovens, inclusive reconhecendo os erros dos adultos. Muitas vezes não seguimos a admoestação de Cristo no Evangelho: “tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mt 7, 5). O adulto não reconhecer os próprios erros, no caso da educação dos jovens, é gravíssimo, pois eles não têm uma vivência amadurecida das próprias incoerências e das incoerências dos demais. Tendem a ver a fragilidade moral inerente a todos nós, pecadores, como falsidade deliberada ou descaso.

Com sua profunda sabedoria pastoral, Francisco nos vem transmitindo duas lições fundamentais nesse caminho educativo. A primeira é que o testemunho inicial é o da alegria, da letícia. A noção da alegria aparece no título de suas três primeiras exortações apostólicas: Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), Amores laetitia (Alegria do amor), Gaudete et exsultate (Alegrai-vos e exultai). Todo jovem tem esperança de ter uma vida adulta feliz e realizada. É natural que tenha reticências quanto a um cristianismo que não anuncia uma vida alegre e feliz.

Essa leticia, na tradição cristã, não é o sentimento superficial e a explosão de prazeres que o mundo normalmente alardeia. Pode inclusive conviver com grandes tristezas e privações. Trata-se da percepção de um grande amor que tudo recobre e tudo supera, dando paz e conforto, permitindo a realização do desejo mais profundo do coração. A pessoa que vive essa alegria, dá seu testemunho onde quer que vá, mesmo para aqueles que se recusam a aceitar.

O testemunho da coerência e da retidão moral, do amor ao próximo e do compromisso com o bem comum também são importantes e não podem ser eliminados ou desdenhados. Mas, sem o testemunho inicial da alegria, pareceriam discursos moralistas, fardos a serem carregados pelos honestos, enquanto os desonestos vivem bem.

A segunda lição fundamental de Francisco é que, no amor, a acolhida antecede ao juízo. Antes de nos determos em determinar o que é certo e o que é errado nas ideias e comportamentos de nosso próximo, temos que amá-lo e procurar fazer com que ele se sinta amado. A correção fraterna necessita da experiência do amor para poder acontecer. Sem esse amor, deixa de ser convite para viver melhor e torna-se apenas censura e condenação.

Alguns imaginam que essa postura amorosa seria relativismo, aceitação passiva do pecado. Não se trata disso, mas sim de dar a base necessária para que a descoberta da verdade aconteça e dê frutos. Tentar corrigir sem amar, numa perspectiva realmente cristã, é como querer construir uma casa fazendo um telhado sem fundações e paredes que o sustentem.

Percebendo um amor que acolhe, o jovem pode julgar as afirmações ideológicas de forma adequada, se opondo ao pecado, mas amando o pecador. Mas, se não perceber esse amor, tenderá a aderir a uma ideologia ou outra, ainda que com boa intenção.

Uma educação realmente cristã dos jovens passa, antes de tudo, pela oração e pela confiança em Deus. Nosso amor frequentemente nos leva a nos desesperarmos diante da impotência de nossos recursos humanos para orientar e garantir a segurança dos jovens. Mas, no fundo, é a Graça, com seus caminhos misteriosos, que salva tanto a nós quanto a eles. Depois, o testemunho – como vimos acima. Por último, um diálogo respeitoso com a liberdade do jovem e baseado no testemunho, não em debates ideológicos infrutíferos.