O que vai acontecer com os cristãos do Afeganistão? Esta pergunta passa imediatamente pela cabeça de qualquer um que esteja minimamente ciente do estado crítico de perseguição anticristã em dezenas de países de todo o planeta, seja provocada por regimes ferrenhamente ateus, como no caso dos comunistas chineses ou norte-coreanos, seja promovida por regimes coniventes, passivos ou mesmo cúmplices do terrorismo fundamentalista islâmico, tal como se vê em áreas da Nigéria ou do Paquistão.
É este o caso também do Afeganistão recém-retomado pelos Talibãs: dado o histórico desse grupo de radicais adeptos da mais estrita e brutal interpretação da lei islâmica, o novo-velho regime que se apossou de Cabul no último domingo representam uma grave ameaça não só à liberdade de culto, mas à própria integridade física dos cristãos em territórios sob seu controle.
A Cáritas Italiana está particularmente preocupada com a pequena comunidade cristã do Afeganistão. A própria entidade, aliás, provavelmente terá que suspender as suas atividades no país onde atua desde a década de 1990. Outras entidades católicas serão tristemente forçadas a tomar a mesma medida.
A Rede Cáritas, composta por dezenas de unidades nacionais, se dedica à caridade católica e à ação social em mais de uma centena de países, independentemente de terem ou não maioria cristã. No Afeganistão, ela atua por meio da Cáritas Italiana, que já declarou temer pela segurança dos cristãos no território agora sob controle dos Talibãs.
"A instabilidade da situação levará à suspensão de todas as nossas atividades. Aumentam os temores quanto à possibilidade de mantermos uma presença [no Afeganistão], mesmo no futuro, assim como pela segurança dos poucos afegãos de fé cristã".
De fato, são muito poucos: estima-se que haja somente 200 católicos no país, até porque a conversão ao cristianismo pode ser condenada com a pena de morte. A única igreja católica existente no Afeganistão se localiza dentro da embaixada da Itália em Cabul.
Diante do cenário radicalizado, os poucos sacerdotes e religiosos católicos presentes no país também terão que partir.
A Cáritas Italiana informou também que está avaliando a situação dos refugiados afegãos na fronteira com o vizinho Paquistão - outro país, diga-se de passagem, em que a situação dos cristãos é frequentemente muito difícil. Para a entidade católica, "a retirada das forças armadas dos EUA está deixando o Afeganistão num abismo trágico", após uma guerra de vinte anos cujos custos humanos são incalculáveis, mas muito mais dramáticos que os bilhões de euros despejados em operações que fracassaram.