Todas as manhãs, quando saio para o trabalho, meus dois filhos estão na cozinha fazendo panquecas comicamente gigantes. Foi minha esposa que os ensino a fazer, numa tentativa desesperada de manter seus apetites sob controle sem acordá-la antes do amanhecer para cozinhar para eles.
Quando chego em casa para almoçar, a cozinha está cheia de poças de leite e cada balcão coberto de farinha. Utensílios sujos estão caoticamente espalhados ao lado de garfos pegajosos de xarope. A manteiga tem o entalhe perfeito do polegar de uma criança.
Eventualmente, em algum momento no meio da tarde, minha sofredora esposa se livrará das obrigações do homeschooling para reunir as crianças e ficar de guarda enquanto elas limpam a bagunça. Admito que, de vez em quando, tenho uma pequena explosão quando atravesso a porta e vejo aquela cozinha. Outro dia, minha esposa, sabendo que a casa havia subido a um determinado nível de destruição, disse-me quando entrei pela porta: "Desculpe, eu ia fazer o almoço para você, mas depois passei a manhã toda gritando com as crianças sobre o que elas fizeram com o armário."
Eu, então, dei a ela um olhar de simpatia. Eu nunca perguntei quais horrores eles aprontaram no armário.
Com o passar dos anos, ficou muito claro como é difícil brigar com nossos seis filhos o dia todo e fornecer tudo o que eles precisam. Para mim, não é tão ruim. Na pior das hipóteses, eu almoço rapidamente em uma cozinha desarrumada e volto a trabalhar em meu escritório tranquilo e sossegado. Enquanto isso, minha esposa limpa a cozinha, faz uma lista de compras, ensina a criança a usar o banheiro, dirige um laboratório de biologia e conserta a máquina de lavar louça.
O que percebi é que, embora as tarefas de meu trabalho e vocação como padre (sou um ex-padre anglicano; agora um padre católico diocesano) sejam interessantes e gratificantes, elas são mais estreitas em escopo do que minha vocação como um marido e pai de família (e muito mais restritas do que a vocação de minha esposa como mãe).
Meu treinamento e educação foram todos para uma tarefa específica - pastor de uma igreja. Tendo aprendido línguas antigas, a arte da retórica, habilidades de gerenciamento e técnicas básicas de aconselhamento, estou muito bem adaptado aos aspectos do meu “dia de trabalho”. No entanto, se eu tivesse que começar repentinamente a trocar as transmissões de carros, criar gado ou dar conselhos de investimento, estaria completamente desequipado.
Amo ser pai, mas estaria mentindo se dissesse que fico entusiasmado com cada aspecto disso a cada momento do dia. Há dias em que o papai precisa correr sozinho ou fechar a porta do quarto e assistir ao jogo de futebol sozinho por alguns minutos.
Muitas vezes me pergunto por que ser pai é tão cansativo. Por que é que minha esposa tem uma expressão assustada em seus olhos algumas noites quando eu volto para casa? A opinião popular pode dizer que a educação dos filhos, especialmente se um dos cônjuges é dono ou dona de casa, é cansativa porque é menos gratificante do que uma carreira fora de casa.
Recentemente, no entanto, eu estava lendo What's Wrong With the World ("O que está errado com o mundo"), uma coleção de ensaios de GK Chesterton em que ele diz que, se pensarmos dessa maneira sobre a paternidade, entendemos exatamente ao contrário.
Chesterton, que nunca teve filhos, diz ter pena dos pais pela imensidão da tarefa. “Os bebês não precisam aprender um ofício, mas sim serem apresentados a um mundo”, escreve ele.
Em outras palavras, um pai não está simplesmente treinando um filho para uma carreira futura. Isso seria simples. Não, um pai está mostrando a um filho como viver uma vida - espero que com grande alegria e felicidade!
A amplitude de virtudes, conhecimentos e habilidades necessária é esmagadora: biologia marinha, física, ótica, filosofia, teologia, esportes, culinária, moral, boas maneiras, higiene, gentileza, paciência, sabedoria, prudência e assim por diante.
Mas Chesterton aponta para o cerne questão, como sempre costuma fazer: os pais são "fechados em uma casa com um ser humano no momento em que ele faz todas as perguntas que existem, e algumas que não existem.”
De fato, os pais saberão do que ele está falando ... o fluxo constante de perguntas, a curiosidade, a maneira como abrem as asas para voar, suas tentativas de realizar tarefas para as quais são totalmente desqualificados... É como tentar criar um redemoinho ou uma debandada de cavalos.
Passar o dia todo com os filhos não é monótono ou entediante. Muito pelo contrário, é quase excitante demais, pois nunca se sabe o que está ao virar da esquina. As crianças galopam loucamente para ver o que há no horizonte, que sussurro secreto ou indício do divino pode estar esperando lá. Elas vão escalar qualquer árvore ou qualquer rocha e tentar tocar o sol. Passar o dia com esses pequeninos é mais complexo do que qualquer coisa que eu poderia realizar no escritório. Eles estão sempre extraindo seus limites e, ao fazê-lo, frequentemente ultrapassam os meus. Chesterton escreve: “Posso imaginar como isso exauriria a mente”.
Se você é pai, é tudo para alguém, e isso é trabalhoso porque a vocação é enorme. Os momentos em que me canso ocorrem apenas quando eu perco essa perspectiva, quando minha visão se limita à cozinha bagunçada com manteiga de amendoim ou ao tédio de jogar mais uma rodada de Go Fish.
Mas eu renovo minhas energias quando me lembro de como isso é formativo para meus filhos e de como eles estão explorando um mundo novo, anteriormente oculto. Eu vejo isso do ponto de vista deles e, de repente, empurrar minha filha no balanço se torna os 10 minutos mais importantes do meu dia. Se meus braços não se cansarem, talvez eu possa empurrá-la até o céu.