Os fiéis católicos de Nápoles, na Itália, começam a manifestar um misto de apreensão e expectativa em relação ao milagre do sangue de São Januário, que é aguardado para repetir-se no dia 19 deste mês de setembro.
Um relicário custodiado na catedral napolitana guarda o sangue do santo em estado sólido. O sangue costuma liquefazer-se em três ocasiões a cada ano, sendo elas o primeiro domingo de maio, a festa litúrgica de São Januário em 19 de setembro e o aniversário do milagre de 1631, no dia 16 de dezembro, quando, pela intercessão do padroeiro, evitou-se uma tragédia após a erupção do vulcão Vesúvio.
O fenômeno da liquefação do sangue de São Januário tem sido registrado desde nada menos que o ano de 1389, quando foi testemunhado pela primeira vez. Desde então, nunca se chegou a nenhuma explicação científica sobre o caso.
O povo da região aguardou com particular ansiedade a chegada do primeiro domingo de maio deste ano de 2021, já que, em 16 de dezembro de 2020, o sangue de São Januário não se liquefez. A não ocorrência do milagre costuma ser interpretada, popularmente, como sinal de que algo ruim está para acontecer.
De fato, para mencionar alguns exemplos, o sangue do santo não se liquefez em alguma das três datas dos seguintes anos:
No primeiro domingo de maio deste ano, porém, a liquefação voltou a ser registrada, para alívio geral dos fiéis.
Naquele fim de semana, a pandemia de covid-19 impôs o cancelamento da tradicional procissão de sábado à tarde, que em tempos normais prepara os fiéis para acompanharem o fenômeno aguardado para acontecer no dia seguinte. Houve somente a celebração da Eucaristia na catedral, com limite de 200 fiéis presentes. A celebração foi transmitida pela internet e pela TV. No domingo, a arquidiocese de Nápoles confirmou via redes sociais que o milagre havia sido registrado.
A expectativa volta a crescer neste mês de setembro, com a espera pela repetição do milagre no dia 19.
São Januário é o padroeiro de Nápoles. Durante a perseguição do imperador romano Diocleciano contra os cristãos, nos primórdios da Igreja, o então bispo de Benevento foi capturado e torturado, mas se negou a rejeitar a fé cristã. Junto com outros fiéis, ele foi decapitado por volta do ano 302.
Suas relíquias foram sendo transferidas para diversos lugares até chegarem a Nápoles em 1497.
A devoção dos napolitanos a São Januário ficou ainda mais profunda por ocasião da erupção do Vesúvio em 1631, quando os fiéis foram em procissão até uma igreja próxima do vulcão, levando solenemente o crânio do mártir e uma ampola com o seu sangue. Segundo os registros locais, a erupção cessou sem causar mortes nem feridos, embora a lava já corresse na direção de Nápoles e as cinzas vulcânicas já “chovessem” sobre a região.
Confira o relato da não ocorrência do milagre em dezembro passado: