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Mudar é preciso: por que é tão importante abrir mão do apego?

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Octavio Messias - publicado em 05/09/21

Rearranjos exigidos pela pandemia são oportunidade para deixarmos aquilo que não nos serve mais

A pandemia fez com que muitos reestruturassem suas vidas: novas maneiras de trabalhar, a necessidade se aproximar e cuidar de parentes, casamentos e relacionamentos cujos conflitos não puderam ser mais suprimidos, a necessidade de mais espaço, de um quintal, de estar próximo a natureza, variáveis do mercado imobiliário, adaptações a novas realidades financeiras. Eu mesmo precisei mudar de casa há um mês. 

Nunca antes ao trocar de endereço senti tanto esse momento como um marco, que o que vivi até então estava ficando para trás, junto com jornais e revistas acumulados ao longo dos anos, papeis com anotações cotidianas, recibos desbotados e contas vencidas. 

Como em nenhuma outra mudança, procurei abrir mão do apego, aquele sentimento que nos faz carregar coisas desnecessárias, que não me tinham mais a menor serventia, e seriam apenas um fardo caso eu insistisse em carregá-las comigo ao longo da vida. E ao tomar essa decisão e abrir mão de coisas que só ocupavam espaço, me sinto muito mais leve, muito mais livre. 

Como diz uma fala do filme Clube da Luta (1999), sintetizada a partir da obra de Oscar Wilde: “Aquilo que você possui acaba possuindo você”. Pois, com cada objeto que adquirimos, vem a responsabilidade de cuidar, de zelar por ele, ou ao menos de encontrar-lhe um abrigo limpo, seco e seguro, e de depois a de transportá-lo a cada mudança. Muito trabalho por algo que não traz nenhum benefício. 

Meu desapego foi tanto que troquei de carro na mesma semana em que me mudei, embora tivesse paixão pelo meu veículo anterior. O motivo: ele era grande demais para a garagem da minha nova casa, simplesmente não entrava. Estacioná-lo na rua implicaria em uma preocupação desnecessária e um aumento no valor do seguro, sem contar o desconforto de ter de procurar vaga sempre ao chegar em casa. Ou seja, o carro pelo qual eu tinha tanto apego, do qual sempre cuidei com muito esmero, tornaria-se um fardo. Sem contar que, pela semi-clausura imposta pela pandemia, um carro grande para um homem solteiro torna-se um luxo um tanto desnecessário.

Assim como tantas das roupas que eu acumulava no guarda-roupa, agora que meu uniforme tornou-se camiseta, bermuda e chinelo. Claro, mantive peças que pretendo voltar a usar quando a vacina for amplamente distribuída, mas doei tantas outras que eu já não costumava vestir mesmo antes do isolamento.

Essa mudança teve um valor simbólico para mim pois senti que junto com tantas coisas, me desfiz de mágoas, traumas e de tantos sentimentos que não mais me cabiam. A situação de pandemia exige que muitas de nossas necessidades sejam reavaliadas e não se apegar ao que já foi é fundamental para seguirmos em frente. Citando Belchior, um trecho da canção Velha Roupa Colorida, que foi sucesso em na voz de Elis Regina em 1976: “O passado é uma roupa que não nos serve mais”.  


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