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Os 100 anos da vacina BCG e as novas pesquisas sobre o imunizante

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Reportagem local - publicado em 05/09/21

A vacina foi fundamental para o controle da tuberculose ao longo da história

Em 1921, os cientistas franceses Léon Calmette e Alphonse Guérin anunciaram ao mundo a descoberta de uma vacina contra a tuberculose. O imunizante foi desenvolvido a partir do enfraquecimento de uma bactéria causadora da versão bovina da doença, que foi batizada de Bacilo de Calmette e Guérin (por isso, a sigla BCG). “Após mais de uma década de estudos, os cientistas perceberam que ela gerava uma resposta imune protetora em humanos, sem gerar a patologia”, explica a pesquisadora Luciana Leite, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan. No Brasil, o imunizante BCG chegou em 1925 e tornou-se obrigatório há 45 anos. Uma única dose é aplicada nos braços de recém-nascidos, sendo conhecida por deixar uma cicatriz de até 1 cm na região da injeção. Embora a proteção contra a doença em adultos seja reduzida, a vacina foi fundamental para o controle da tuberculose ao longo da história.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos 20 anos, houve uma redução de 30% nas mortes causadas pela tuberculose em todo o mundo. Nos países onde a BCG integra o programa de vacinação infantil, o imunizante previne cerca de 40 mil casos anuais de meningite tuberculosa (quando a bactéria infecta o sistema nervoso). Mesmo assim, ainda hoje, ela está entre as dez maiores causas de morte no mundo, sendo especialmente letal nas regiões em desenvolvimento, caso da África e do Sudeste Asiático. O motivo é que a transmissão está associada a condições sanitárias precárias e a evolução é mais grave em imunodeficientes (como pessoas com HIV) sem acesso a tratamento.  

Modernização da vacina

O Instituto Butantan já foi um dos fabricantes da BCG e atualmente desenvolve diversos estudos relacionados à produção e a novas aplicações do imunizante. “A confecção no Brasil é feita em frascos estáticos em quartos-estufa e tem inúmeras etapas manuais”, exemplifica a pesquisadora Viviane Gonçalves, diretora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas. Para melhorar a qualidade da vacina e a consistência da produção, Viviane pesquisa a fabricação em biorreatores. “O que possibilita um melhor controle do processo, com menos chance de contaminação e menos variações entre um lote e outro”, diz. 

Já a equipe da pesquisadora Luciana se debruça sobre a criação de uma vacina BCG recombinante, isto é, uma geração mais moderna do imunizante feita com o uso de biologia molecular. “A técnica consiste em introduzir genes de proteínas de diferentes patógenos (bactérias ou vírus causadores de doenças) na cepa para induzir uma resposta imunológica no organismo”, resume a cientista. A vantagem da vacina aprimorada contra tuberculose é que ela vacina mostrou o dobro de proteção da versão tradicional em testes preliminares. Entre os patógenos escolhidos pelos cientistas do Butantan está ainda a Bordetella pertussis, agente causador da coqueluche. Segundo Luciana, além de também ter apresentado bons resultados em modelos animais no combate à coqueluche neonatal, a mesma cepa foi mais eficaz no tratamento do câncer de bexiga. “A BCG já é usada habitualmente contra esse tipo de câncer, mas em uma dose dez vezes maior. O objetivo da nossa pesquisa é criar uma medicação ainda mais eficiente”, completa. 

A “versatilidade” do bacilo desenvolvido por Calmette e Guérin até hoje surpreende cientistas do mundo inteiro. “O BCG, por si só, é conhecido por ser um bom estimulador da resposta imune em geral, o que é chamado de imunidade não-específica”, afirma Viviane Gonçalves. Isso porque há evidências de que crianças imunizadas com a vacina ao nascimento apresentam menor incidência não só de tuberculose, como de outras doenças. 

Por essa razão, no início da pandemia da Covid-19, vários grupos se uniram para estudar a sua proteção em relação ao SARS-CoV-2. “Dados epidemiológicos mostraram que países onde a vacina é aplicada apresentaram menor incidência da Covid”, esclarece a pesquisadora Luciana. O Butantan faz parte de um projeto do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade Federal de Minas Gerais, entre outras instituições brasileiras e estrangeiras, para avaliar a eficácia do imunizante geneticamente modificado para combater o novo coronavírus. “O estudo, que conta com o apoio do CNPq, mostrou-se promissor até o momento. Estamos otimistas”, conclui Luciana.

(Butantan)

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