Em pleno século XXI, seja entre crédulos e incrédulos, poucos são os que não reconhecem em Santo Tomás de Aquino um dos maiores filósofo e teólogo de todos os tempos.
Nascido por volta do ano de 1226, no vilarejo de Roccasecca, uma província italiana da região do Lácio, Tomás era o sétimo filho do Conde Landolfo de Aquino, tendo vivido em uma época de intensos conflitos políticos e religiosos. Construiu ao longo de sua vida uma obra tão grandiosa, que o fez ser declarado Doutor da Igreja, recebendo diversos reconhecimentos ao longo da história, tais como os presentes na encíclica Aeterni Patris, do papa Leão XIII, que o declara “guia e mestre” de toda a teologia escolástica.
Uma dos pontos biográficos de Santo Tomás de Aquino bem conhecidos é a alcunha de “Boi Mudo”, que recebeu dos colegas universitários. Tal apelido deu-se devido à combinação de um corpo obeso e alto associado a um silêncio contínuo, que dava ao seu semblante um aspecto de lentidão de raciocínio e vagareza. Entretanto, as palavras do seu mestre, Santo Alberto Magno, foram proféticas quando anunciou a todos: “Vocês o chamam de Boi Mudo; eu lhes digo que esse Boi Mudo mugirá tão alto que seus mugidos preencherão o mundo”. Ao lermos a obra deixada por Santo Tomás de Aquino, entendemos que atrás daquele semblante escondia-se um silêncio fértil e altamente comprometido com as necessidades da alma humana, tal como afirmou seu mestre. Assim, cabe-nos aqui, a oportunidade de discorrer breves palavras sobre a perspectiva cristã do silêncio.
O capítulo sexto da Santa Regra de São Bento versa exclusivamente sobre essa virtude cristã. Embora se traduza o termo em latim taciturnitate (o título original desse capítulo) como silêncio, talvez seria melhor manter o termo taciturnidade, mesmo que seja menos familiar aos nossos ouvidos. Isso porque o silêncio pregado por São Bento aos seus monges não representa apenas o ato físico de não vibrar as cordas vocais (embora esse artifício seja por demais estimulado também), mas, sim, uma atitude de recolhimento da alma, que a permite aprender, meditar e agir de modo santo no dia a dia. Certamente, esse era o silêncio vivido por Santo Tomás. Por fora, colocava-se com alguém desatento, entretanto, por dentro, vibrava seu espírito em união com Deus, na busca de respostas para as mazelas humanas.
No livro de Provérbios, se lê: “não pode faltar o pecado num caudal de palavras; quem modera os lábios é um homem prudente” (Pv 10,19). Esse versículo nos ensina o porquê de o silêncio ser tão desejado por Deus e tão vivido pelos seus santos. Colocando-nos em atitude de “tagarelice”, logo chegará a ocasião de ofensa ao próximo, a ocasião de lamúria diante da vida e sabe Deus lá onde isso pode parar em termos de pecado. Não significa que conversas santas e próprias a edificar não sejam bem-vindas; pelo contrário, elas são estimuladas pelo próprio São Bento no capítulo previamente colocado, mas uma vez que se perceba que o tom da conversa levará ao pecado, esta logo deve ser interrompida. Com o progresso da vida espiritual, entende-se que a melhor conversa é aquela na qual se ouve o ensinamento de um mestre e os medita no coração.
Em um contexto moderno, assolado pelas redes sociais, em que todos querem falar, sobretudo por meio do excesso de exposição da vida íntima e por meio da postagem e de textos que, muitas vezes, não têm proficiência e não atestam a veracidade, a taciturnidade de Santo Tomás convida-nos ao comportamento oposto: do recolhimento em Deus e da escuta do Espírito Santo dentro de nós. Que saibamos crescer em silêncio, tal como a Virgem Santíssima, que “conservava todas as palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19).
Santo Tomás de Aquino, rogai por nós!