Se você cresceu no final dos anos 1980 e viu os preços nos supermercados aumentarem durante o mesmo dia, é possível que esse sentimento de escassez tenha sido determinante na maneira como lida com dinheiro até hoje. Um surpreendente estudo nos Estados Unidos, divulgado pelo jornal espanhol El País, aponta a maneira como a situação econômica do ano em que nascemos e durante nossos vinte primeiros anos influencia como lidamos com nossas finanças ao longo da vida. Se você cresceu em uma economia florescente, aumentam as chances de investir no mercado de valores quando adulto e se mostrar mais otimista com relação a sua rentabilidade. A pesquisa analisou o consumo da população norte-americana ao longo de 50 anos.
Contudo, nosso tempo de pandemia e o panorama de incertezas com relação ao futuro da economia também podem condicionar nosso comportamento de compra. Como não se sabe o que será amanhã, a tendência é poupar. É sobre isso que trata o novo livro do economista espanhol Fernando Trías de Bes, intitulado Uma História Diferente do Mundo. Segundo ele, economizar em um momento como este seria uma resposta inconsciente aos estragos da pandemia. As percepções e os estados de ânimo seriam determinantes sobre como gerimos nossas finanças.
A maneira como administramos nosso dinheiro está relacionada ao modo como lidamos com nossas emoções. Se temos uma personalidade mais conservadora, as chances de investirmos bem diminuem consideravelmente. São comuns casos de quem construiu um grande patrimônio poupando de pouco em pouco, assim como de quem perdeu tudo de uma hora para a outra. A revista norte-americana Sports Illustrated publicou uma reportagem mostrando como 60% dos jogadores da NBA com salários milionários declararam falência nos cinco primeiros anos após a aposentadoria. Já com jogadores da NFL, a liga nacional de futebol americano, esse número chega a 79%. Inteligência financeira está relacionada a estabilidade emocional, conhecimentos básicos de economia e a falta de medo de correr riscos.
O artigo do El País ainda expõe como a inabilidade para investir tem em sua raiz os freios que nos impedem de prosperar. São mecanismos inconscientes que tendemos a preservar desde a infância e modulam nossas decisões. Entre eles estão listados: o medo de perder dinheiro ser maior do que a vontade de ganhar; o cinismo e o pessimismo constantes, que nos impedem de enxergar oportunidades; a preguiça, que desestimula a buscar novas fontes de renda e gera a "síndrome do hamster", que nos leva a esperar resultados diferentes insistindo nas mesmas ações; os maus hábitos de consumo, gastar com besteira; e a arrogância, que nos impede de buscar conhecimento para investir com mais consciência.