Moradores de Franca e Ribeirão Preto (sudeste do Brasil), além de outras cidades no interior de São Paulo e também em Minas Gerais, assistiram a um fenômeno natural digno de filmes de catástrofes ou sobre o Egito Antigo. Habitantes da região, da região de Bauru e do Triângulo Mineiro viram uma tempestade de poeira chegando em suas cidades que parecia saída do filme Twister (1996). O evento atinge em cheio regiões que já vinham sendo castigadas pela falta de água, já com racionamento no sistema de abastecimento de água.
Em comunicado emitido ontem e dirigido aos moradores de Franca (a 400 km da capital), a Sabesp pede que não gastem água lavando casas, ruas e calçadas atingidas pela tempestade de areia. "Sabemos que o evento atípico de hoje (26/9) trouxe uma grande quantidade de poeira e fuligem para dentro das casas. Mas o município passa por um período de severa estiagem, com rodízio no abastecimento de água. É preciso que todos usem a água de maneira consciente, sem desperdícios."
A explicação mais óbvia do fenômeno, que avalia apenas seu entorno imediato, aponta-o como resultado de ventos fortes e clima seco. Com o inverno mais seco dos últimos quatro anos, as áreas rurais do entorno das cidades afetadas pela tempestade de areia foram castigadas por longos três meses de estiagem, gerando inclusive focos de queimadas.
Sem vegetação, a poeira do solo, mais leve com a seca, é levantada pelo vento e absorvida pelas nuvens, mais espessas devido à umidade do ar, que aumenta com a chegada da primavera e da temporada de chuvas. "Frente de rajada acontece toda vez que a gente tem o alinhamento de grandes nuvens carregadas que acabam gerando ventos fortes à sua frente", explicou ao G1 o metereologista César Soares. O forte vento, que chegou a atingir 96 km/h na cidade de Franca, é considerado normal para a estação.
Mas uma avaliação mais ampla apontada por ecologistas demonstra que as longas estiagens e o clima seco são consequências mais distante das queimadas e do desmatamento que temos testemunhado em todo o país. Até o final do mês passado, as queimadas no Pantanal devastaram 261,8 mil hectares de mata. Sendo que, em 2020, a região no Mato Grosso do Sul – a cerca de mil quilômetros das cidades atingidas pelas tempestades de areia –, teve 30% de sua área destruída, no que foi o pior ano de queimadas na história.
Enquanto isso, a Amazônia também bate recordes de queimadas ano após ano. Só na Caatinga, já tivemos aumento 100% maior do que no ano passado. E toda essa devastação de nossos biomas afeta a condição climática não só das respectivas regiões, mas do Brasil e até do planeta como um todo. Não é coincidência termos esses longos períodos de seca e tantas aberrações climáticas na mesma época em que nossas florestas queimam em brasa. A falta de água que atinge todo o país é resultado da diminuição de áreas florestais, fundamentais para a regulação da atmosfera. A situação climática urge.